Uma quadrilha armada interceptou e roubou dois carros-fortes na rodovia Anhanguera, entre Araras e Campinas, às 18h30 de quinta-feira (5/11), a 169 km da capital paulista. Um empresário morreu em consequência de uma bala perdida e mais três pessoas ficaram feridas.
Araras e Campinas ficam no interior estado de São Paulo, não são nomes de morros do Rio de Janeiro. A notícia, gravíssima, não mereceu a atenção dos maiores portais da internet brasileira. Na home page desses sites, que equivale à capa de um jornal, nem sinal do crime até pelo menos o início da tarde de sexta-feira (6), dezoito horas depois. Apenas o G1, portal das Organizações Globo, deu matéria. A notícia havia sido veiculada de manhã cedo, no Bom Dia São Paulo, da Globo, e foi replicada à noite no Jornal Nacional.
Não se trata de um crime menor. Ao contrário, a quadrilha, segundo informações da polícia, é altamente especializada e deve ser a mesma que atacou, no último dia 13, um carro-forte da mesma transportadora em outra rodovia perto de Campinas. A quantia roubada na última ação foi calculada em R$ 6 milhões, mas não ocorreu a nenhum editor comparar a féria arrecadada com a rentabilidade do tráfico carioca.
O pior, no entanto, nem é a ‘barriga’ dos portais, porque jornalões seguem a mesma lógica: há uma blindagem da imprensa sobre a criminalidade em São Paulo, ao passo que o Rio é o eterno saco de pancada da mídia, boa parte dela hoje concentrada em terras bandeirantes. Violência no Rio é notícia, em São Paulo, nota de rodapé. Não sai em portal algum na internet. Algum pesquisador precisa descobrir as razões de tamanha desproporção entre as duas coberturas. Apenas quando o PCC faz e acontece, a guerra urbana no estado de São Paulo aparece na mídia. Abaixo, a prova dos fatos: iG, Terra e UOL simplesmente ignoraram um fato que estava sendo noticiado exaustivamente pela rádio CBN e por telejornais da Rede Globo. Talvez a turma tenha demitido o rádio-escuta. Ou então resolveram simplesmente deixar para as autoridades paulistas um ‘choque de gestão’ para resolver os problemas. A cidadania está aguardando, bairrismo não combina com jornalismo.
A propósito, os jornalões Folha de S.Paulo e Estado de S. Paulo acordaram para o fato nas edições de sábado (7/1). Como o assalto se deu às 18h30 de quinta-feira, e apesar de sua violência, não houve tempo de apurar nada que prestasse para as edições de sexta. Saíram então no sabadão e trouxeram para a primeira página a foto do carro-forte arrebentado por explosivos. Ambos os diários noticiando algo ocorrido ‘anteontem’, o que denota uma agilidade paquidérmica do jornal em papel. Mas os jornais em bits também não ficaram atrás. Em suma: estamos feitos. (Luiz Antonio Magalhães e Luiz Egypto)
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No iG e Último Segundo a violência é só no Rio.
UOL também ignorou solenemente o assunto.
No Terra, destaque para a capivara.
Apenas o G1, das Organizações Globo, deu a notícia que a rádio do grupo veiculou com destaque. Alguma sinergia é sempre possível.