Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Daniel Castro

‘A TV Cultura está negociando com a Beijing TV, segunda maior rede da China, com cerca de 300 milhões de telespectadores, um intercâmbio de programas. Uma delegação chinesa esteve na Cultura na última segunda-feira.


Segundo Marcos Mendonça, presidente da Cultura, já foi acertada verbalmente a troca da série infantil ‘Cocoricó’ por um desenho educativo chinês. ‘Vamos formalizar a parceria até o Carnaval’, anuncia Mendonça.


Segundo o executivo, será uma permuta. ‘A partir dessa parceria, queremos trabalhar uma nova, de co-produção. A China é grande produtora de animação. É possível que os chineses façam o desenho de ‘Cocoricó’, diz.


Independentemente da parceria com Beijing TV, a Cultura está montando uma estrutura de produção de desenhos no Brasil. Atualmente, trabalha numa ‘radiografia’ do setor no país, com empresas produtoras e custos.


‘Já cadastramos mais de cem empresas. Queremos que essas empresas trabalhem em escala, cada uma produzindo uma etapa de determinada série de animação’, afirma Mendonça.


O plano da Cultura é fazer com a animação uma versão do extinto PIC-TV, programa de incentivo ao cinema. A Cultura funcionaria como uma gestora de um pacote de produções, que teriam recursos do governo do Estado de São Paulo e de empresas, via leis federais de incentivo fiscal.


OUTRO CANAL


Reserva O SBT estuda montar um ‘banco de elenco’. Ou seja, assim como Globo e Record, quer ter atores contratados por longo prazo, e não apenas por ‘obra certa’. Depois que a Record entrou para valer no ramo da teledramaturgia, ficou difícil para o SBT montar elencos de suas novelas _e escalação, mesmo sem a concorrência da Record, já não era o forte da emissora.


Revisão Série que estréia domingo no canal Telecine, ‘Over There’, sobre a Guerra do Iraque, pode não ter uma segunda temporada. Segundo a imprensa americana, o canal FX (o dos EUA) não pretende renovar contrato para uma nova leva de episódios. A série estreou bem, com 4,1 milhões de telespectadores, mas declinou.


Enlatado A Globo ainda não bateu o martelo. Mas tudo indica que exibirá a quarta temporada do seriado ‘24 Horas’ em janeiro e a primeira de ‘Lost’ em fevereiro. É certo que ambas as séries entrarão no ar no verão, no horário do ‘Programa do Jô’.


Fatura A modelo Letícia Birkheuer, que estréia como atriz em ‘Belíssima’, faturou com a festa de lançamento da novela, no último sábado, no Ibirapuera (São Paulo). Chegou ao evento e posou para fotógrafos a bordo de um sedã de luxo da marca Audi, que fez questão de elogiar. Letícia, no entanto, não era uma ‘simples’ usuária do carro, mas garota-propaganda dele.’



AMÉRICA


Laura Mattos


‘Beijinho, beijinho, tchau, tchau’, copyright Folha de S. Paulo, 4/11/05


‘Se Sol vai ficar com Ed ou Tião hoje, no último capítulo de ‘América’, isso já é um problema dela. O que mobiliza telespectadores e rende até reportagem na imprensa internacional não é o destino da mocinha sofrida de Deborah Secco, mas o beijo gay entre Júnior e Zeca, peão de sua fazenda.


A cena com os atores Bruno Gagliasso e Erom Cordeiro foi gravada na última segunda, no Projac (Rio), e será ‘de extrema delicadeza, como o tratamento dado à questão ao longo da novela’, segundo a autora Glória Perez.


Vai ser um beijo apaixonado, mas num estilo ‘contido’, nada parecido com tantos ‘calientes’ já protagonizados por casais héteros na teledramaturgia -nem com o que o ‘Carreirinha’ Matheus Nachtergaele lascou em Gagliasso numa recente festa da vida real.


OK, sejamos claros: nesta noite não veremos um ‘selinho’, só com os lábios se tocando brevemente, mas também não terá língua. Seja como for, é a primeira intimidade nesse nível entre dois homens em novelas brasileiras.


O tema deixou para trás José Dirceu e cia. ao chamar a atenção do inglês ‘The Observer’. No último domingo, o jornal publicou: o anúncio de que haveria a cena do beijo ‘chocou um país considerado um dos mais liberais do mundo’. Chocou mesmo? Não é o que aponta o ‘referendo’ que veio à tona na Central de Atendimento aos Telespectadores da Globo.


Na semana passada, 53% dos que se manifestavam sobre o tema eram contrários ao beijo, e 47%, favoráveis. Anteontem, quando a polêmica ganhou mais destaque em programas de TV e Júnior e Zeca estavam mais próximos, o ‘sim’ ao beijo disparou: 80% dos telespectadores defendiam que Glória mostrasse a cena.


Jean Wyllys, que ganhou a simpatia do público do ‘Big Brother’ ao assumir sua homossexualidade e venceu a competição, diz não acreditar que haja uma grande rejeição ao beijo. ‘A sociedade mostrou que vem avançando com essas personagens da ficção.’


André Fischer, autor da coluna GLS da Revista da Folha, avalia que ‘não faria sentido’ não mostrar o beijo no último capítulo. ‘Seria mais um beijo gay que não aconteceu, como na novela ‘O Rebu’, há 30 anos. Em ‘América’, tudo foi construído para que houvesse o beijo no final. Isso já foi mostrado em vários programas, sem problemas. A novela das oito é o último bastião heterossexista.’


Com Fischer concorda André Almada, dono da The Week, badalada casa noturna gay de São Paulo. ‘A TV já mostrou beijos gays várias vezes. Tiveram os da MTV [‘Fica Comigo’ e ‘Beija Sapo’] e na semana passada dois meninos deram um de língua no programa da Luciana Gimenez. Se não fosse exibido em ‘América’ seria a comprovação do quão careta e moralista a sociedade pode ser.’


Para o diretor teatral José Celso Martinez Corrêa -que tem no currículo peças como ‘Bacantes’, na qual atores tiravam a roupa até de pessoas da platéia-, é um ‘absurdo’ que isso ainda gere polêmica. ‘É como se estivéssemos discutindo a censura.’ Ele diz que a TV ainda estava nascendo no Brasil, e o teatro já mostrava pessoas do mesmo sexo se beijando. ‘A TV é a vanguarda do atraso.’


No outro extremo dessa torcida está o deputado estadual do Rio Édino Fonseca, pastor da Assembléia de Deus. Ele é autor de um projeto de lei que obriga o Estado a pagar tratamento psicológico a gays que queiram se ‘converter’ (foi rejeitado na Assembléia, mas será reapresentado por ele no próximo ano). Seu raciocínio: as pessoas não nascem, mas se tornam gays a partir de influências ao longo da vida. Logo, o fato de ‘América’ mostrar ‘um rapaz bonito como o Bruno Gagliasso’ no papel de homossexual ‘incentiva jovens a ir por esse caminho’.


Isso sem falar do fato de a novela não mostrar ‘o lado negro’ do homossexualismo, ‘que muitos gays sofrem de depressão e se suicidam’ e, ao envelhecer, ‘são chamados de bicha velha e mona’.


O beijo desta noite, então, ‘é uma afronta à tradição social do Brasil’, ‘é lastimável, um absurdo, desrespeita a sociedade’.


O deputado certamente ficou mais satisfeito com ‘Torre de Babel’ (98/99), na qual as lésbicas morreram numa explosão em razão da rejeição do público. E não gostou de ‘Mulheres Apaixonadas’ (2003), que mostrou um selinho entre meninas, e ‘Senhora do Destino’ (2004/05), na qual duas namoradas acordaram juntas e seminuas na mesma cama.


Ibope


Fora a consumação do romance gay, esta será a noite do fim (enfim) do martírio de Sol e da decisão: formará um casal de pouca química com Ed (Caco Ciocler) ou de nenhuma química com Tião (Murilo Benício)? Glória Perez decide. E a essa altura -após conseguir colocar a audiência nos trilhos apesar do início litigioso com a direção de Jayme Monjardim e dos controversos rumos da trama- tanto faz. Até o último sábado, marcava 49 pontos no Ibope (cada ponto equivale a 52,3 mil domicílios na Grande SP). Deve terminar abaixo dos 50,5 da antecessora e recordista ‘Senhora do Destino’, mas acima de ‘O Clone’ (47), ‘Celebridade’ e ‘Mulheres Apaixonadas’ (46).’



Marcelo Bartolomei


‘Autora defende brasileiro ilegal em ‘sonho’ ‘, copyright Folha de S. Paulo, 4/11/05


‘Na hora de falar dos argumentos que levaram a novela ‘América’ ao status de um dos programas mais assistidos da TV, sua autora, Glória Perez, 57, afirma ser legítimo o ‘sonho americano’ para cruzar perigosamente a fronteira e morar nos EUA.


‘Eu jamais pensaria em fazer isso. Mas recebi cartas de pessoas que, quando viram a travessia da Sol [Deborah Secco], desistiram de fazer. É muito difícil dizer a uma pessoa que está com fome e que não tem como sustentar sua família que não faça essa tentativa. Qualquer sonho é legítimo e compreensível. Se não se vê luz no fim do túnel, você tenta’, afirma ela.


‘Acho um horror que as pessoas tenham de fazer isso, por isso quis mostrar. Não é legítimo sonhar, não é legítimo se salvar? Todo mundo sonha com isso’, afirma.


Chega ao fim a história que, para a autora, começou com um ‘equívoco de direção’, nas mãos de Jayme Monjardim, afastado. ‘Não tive de contar nada de maneira diferente. O diretor [Marcos Schechtman] passou a dirigir a personagem como ela estava escrita’, diz a novelista, para quem Sol e Tião (Murilo Benício) ‘tinham toda a química do mundo no primeiro capítulo’.


E quem vai terminar com quem? Segundo Perez, a última frase da sinopse é: ‘E Sol deverá escolher entre dois amores’. ‘Ela tem de decidir por um amor desses que crescem com o dia-a-dia ou daqueles que vêm de outras vidas’, diz.


Desde que estreou a novela, a mocinha passou por situações inusitadas. ‘Toda protagonista sofre à beça. Mais que a Escrava Isaura ninguém sofreu. Eu não consigo me divertir’, avalia.


Para ela, o drama da protagonista -ser colocada dentro do painel de um carro e numa caixa de televisão; posar de ‘estátua da liberdade’; limpar o chão de lanchonetes; ser humilhada nas ruas; e, para fugir, entrar dentro de um bumbo- é um retrato da realidade.


‘A embaixada americana me mandou fotos da apreensão de uma moça dentro de um painel de carro na fronteira. Eu nunca achei que alguém poderia caber num painel de carro. Foi igualzinho com a Sol, pois fizemos a reconstituição’, conta.


‘América’ deu motivos de orgulho para a autora. Um deles é ter ‘trazido para as primeiras páginas o drama de brasileiros que tentam atravessar a fronteira’. Outro, ter levado à TV o preconceito contra deficientes visuais.


Auto-proclamada pioneira do merchandising social -em 1987, ela levou o sociólogo Betinho à novela ‘Carmen’, na extinta Manchete, para falar do preconceito com portadores de HIV-, a autora coleciona histórias de deficientes visuais. ‘A novela mudou o olhar em relação ao deficiente. Mudou a forma de o deficiente se enxergar’, acredita.’



BANG BANG


Keila Jimenez


‘‘Bang Bang’ perde animação ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 4/11/05


‘Você gostou da animação bem ao estilo Kill Bill no primeiro capítulo de Bang Bang? Pois aquela pode ter sido a primeira e última experiência do gênero na trama das 7 da Globo.


A técnica japonesa anime que consumiu quase quatro minutos do capítulo inicial da trama poderia ser usada novamente na novela como recurso de flash-back ou para amenizar cenas de muita violência. Poderia. Nos bastidores da Globo já é fato que os desenhos animados não darão mais o ar da graça na novela, que anda desanimada em audiência. Faz dias que o ibope do folhetim não passa dos 29 pontos de ibope. Pouco, se comparada com a trama das 6 da rede, Alma Gêmea, que passa da casa dos 30 pontos.


Motivos para a desistência do anime não faltam. Um deles seria a própria audiência. A linguagem moderna demais do folhetim – o que inclui a utilização da animação – seria uma das causas da rejeição do público.


Outro fator seria a demora na produção. Bang Bang não tem capítulos de frente (inteiramente prontos com alguma antecedência) o que dificulta a inclusão da animação.


Por meio de sua assessoria, a Globo alega que a utilização do anime não está associada à audiência, mas a um conceito artístico e que a rede não assumiu compromisso de utilizá-lo novamente.


Fato é que o western kung-fu não emplacou para o trilho de audiência exigido pela Globo. Mas é o custo da experimentação. A novela das 6, por exemplo, Alma Gêmea, tem rendido mais que a das 7, mas é uma reciclagem de tudo que já deu certo em Chocolate com Pimenta e O Cravo e a Rosa. O que pega com Bang Bang é a concorrência da Record com sua Prova de Amor. Também com fórmula que recicla receitas bem-sucedidas na Globo, a trama da Record se mantém com média de 11 pontos no ibope.’