A leviana reportagem de Larry Rohter, com ilações sobre as bebericagens presidenciais – assunto da semana devido aos seus desdobramentos – angariou, talvez, maior importância que a merecida, justamente pela barbeiragem do governo no tratamento dispensado ao caso. Embora o assunto pareça esgotado, tamanha a repercussão na mídia, cabem ainda algumas observações, demonstrativas da percepção e da mentalidade que têm pautado as ações do governo.
Em primeiro lugar, não se quer dizer que a referida ‘reportagem’ não mereça uma resposta à altura (quer dizer, à sua mediocridade) por parte do governo – uma resposta jurídica e de exigência de retratação do jornal. O que é sintomático, no entanto, é a impressão de que tal fato só recebeu o tratamento que se lhe dedicou por se tratar de uma reportagem veiculada no New York Times.
A reação pareceu desproporcional – e de um paradoxal servilismo revoltado –, como se nesse rasgo em que se alegou até uma questão de soberania o governo devesse firmar sua imagem e condição de autonomia e seriedade diante de seu credor-mor – mesmo que à custa do estrangulamento da liberdade de imprensa (se assim se queira ver a cassação do visto do jornalista).
Poder-se-ia perguntar por que o governo não esboçou tamanha preocupação em relação à recente reportagem de Carta Capital, em que se fazem denúncias graves, a partir de uma entrevista com um ex-diretor do FBI, sobre a real autonomia de nossa Polícia Federal.
Não deu na Globo
À imprensa feita com compromisso ético e profissionalismo caberia o papel de firmar, em meio a essa balbúrdia, sua posição – acima de oportunismos (políticos) e clientelismo – como forma de assegurar sua credibilidade e liberdade, além do devido esclarecimento público, em contrapartida ao jornalismo falacioso do qual nem The New York Times está isento.
Assunto da semana nos noticiários do mundo as imagens das torturas/humilhações praticadas pelos soldados ianques contra prisioneiros iraquianos, na prisão de Abu Graib. Complementam-se pelas declarações da jovem soldado protagonista, Lynndie England – ‘idênticas àquelas que os funcionários dos campos de extermínio alemães deram em juízo’. Lembrando as palavras do crítico Günter Ander: ‘É a resposta do despojado-de-poder, do sem-responsabilidade, que não é responsável porque não lhe deram responsabilidade alguma, em suma: a resposta daquele que não vive realmente, mas é ‘vivido’ por alguém’. [Kafka: Pró e Contra, Perspectiva: 1993, p. 52, São Paulo].
Do outro lado, a resposta é mais barbárie – espetáculo servido, afinal, como justificativa para que o terror se perpetue.
O padrão Globo de qualidade realmente é exemplar – garantiu-lhe a 1ª (Celebridade) e a 2ª (Kubanacan) posições na sistematização de denúncias na campanha ‘Quem financia a baixaria é contra a cidadania’ pela ética na TV (ver site www.eticanatv.org.br).
Ficou à frente do Ratinho (SBT). Parece que não deu no noticiário da emissora… Se não deu na Globo então não aconteceu!
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Poeta, Jaú, SP