No ano passado, vários veículos de comunicação foram condenados a indenizar os antigos proprietários da Escola Base, que eram acusados, injustamente, de molestar alguns de seus alunos. Quando as reportagens foram publicadas, em 1994, os jornalistas se disseram induzidos ao erro pela afoiteza de um delegado, precipitado em seu ímpeto condenatório.
Mesmo depois de um caso tão pedagógico, a revista Veja, ao que parece, não aprendeu a lição. Refiro-me, em especial, ao jornalista Lauro Jardim, editor da seção ‘Radar’. Aos fatos:
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Em maio do ano passado, ele publicou uma nota em sua coluna, chamada ‘Debate Público’, referindo-se a um pacote de e-mails em poder da Polícia Federal, que teriam sido trocados entre ATT e DD. E Lauro, sem explicar aos leitores do ‘Radar’, um espaço tão nobre da Veja, quem seriam os personagens da sua nota, classificou tal pacote como um ‘prato feito’. Era um recado cifrado.**
Dias depois, eu decidi interpelá-lo judicialmente para que respondesse quem seriam ATT e DD. E não se tratava de vestir a carapuça. Eu sabia claramente que a nota era endereçada a mim. Isso porque, dias antes, eu havia convidado todos os jornalistas da Veja para um ‘debate público’ – mesmo título da nota do ‘Radar’ – no Observatório da Imprensa e no Comunique-se para discutir o meu trabalho e o meu patrimônio, uma vez que a revista da Abril insinuava que eu seria parte de uma quadrilha formada pelas empresas Kroll e Opportunity (ver ‘Um convite aos colegas da Veja‘).Em vez de participar de um debate aberto e transparente, a revista Veja, fiel ao seu estilo leviano e insidioso, preferiu publicar uma nota enigmática. Por isso escrevi novamente ao Observatório da Imprensa (ver ‘Convite a um jornalista da Veja‘).
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Lauro demorou muito tempo para responder a interpelação. E antes mesmo que o fizesse, uma outra publicação, a revista CartaCapital, decidiu publicar um dos supostos e-mails entre ATT e DD. Tal publicação os atribuiu a Leonardo Attuch e Daniel Dantas e a mensagem trataria da entrega de uma encomenda – curiosamente a reportagem da CartaCapital saiu logo após a entrevista que fiz com a secretária Fernanda Karina, de conseqüências devastadoras para o governo.**
A reportagem de CartaCapital me deu a rápida oportunidade de provar que tal e-mail era forjado, o que foi atestado no mesmo dia em que ela foi publicada pelo portal Terra Networks, por meio de sua diretoria jurídica. Isso talvez tenha influenciado a resposta de Lauro Jardim à minha interpelação, que só foi entregue agora, em janeiro de 2006. Ciente de que seu ‘prato feito’ era uma fraude, uma sórdida farsa, ele não respondeu diretamente quem é ATT e também não disse quem é DD. Justificou sua nota dizendo apenas que ATT e DD são expressões contidas no pacote recebido da Polícia Federal.Será que ele não procura saber quem os personagens de suas próprias notas? Será que confia tão cegamente no prato de comida que lhe é servido por nossa polícia republicana?
Intenção deliberada
Pois bem. Vejamos como Veja processa suas notícias e seus erros.
A se acreditar no relato de Lauro Jardim, ele teria recebido um pacote de informações falsas da Polícia Federal e, sem a mínima preocupação em checar a veracidade do seu ‘prato feito’, teria publicado passivamente uma nota contra um ex-colega de trabalho – nós já havíamos trabalhado juntos na Exame. Depois, mesmo ciente de que havia cometido um grave erro, Lauro, em vez de se retratar, transfere toda a responsabilidade para sua fonte.
Diante do comportamento desse colunista da Veja, eu me dou o direito de concluir que, em vez de um mero equívoco, que muitos cometem, talvez tenha existido a intenção deliberada de caluniar. E aqui eu o convido, Lauro, a participar de mais um ‘debate público’ para responder este artigo.
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Nota do OI: Às 13h50 de segunda-feira (30/1), o Observatório enviou ao jornalista Lauro Jardim, por e-mail, um cópia deste artigo. Convidado a se manifestar, não recebemos resposta até o momento em que esta edição subiu para o web. Se e quando a recebermos, a réplica será aqui publicada. (L.E.)
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Editor de economia da IstoÉ Dinheiro, da revista Dinheiro Rural e autor do livro A CPI que abalou o Brasil (Editora Futura, R$ 24,90), com histórias inéditas sobre a crise atual, segredos do PT e bastidores da atuação de vários órgãos de imprensa, incluindo a revista Veja