Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Defesa esbarra em
denúncias consistentes

As patéticas reclamações do senador José Sarney contra a imprensa revelam que o veterano político, a despeito do propalado passado liberal, ainda não assimilou os fundamentos do Estado democrático.


A imprensa não é uma entidade abstrata, solta no espaço. A imprensa é um serviço público que atende aos interesses dos leitores. Os leitores não se diferenciam dos cidadãos e os cidadãos são contribuintes.


Esta é uma questão crucial: ao indignar-se diante da sucessão de abusos no Congresso, a imprensa reflete apenas a fúria e a frustração do contribuinte que paga a farra dos seus representantes. A imprensa é um instrumento do sentimento popular, não adianta lixar-se ou desprezá-lo.


Se as denúncias da imprensa fossem injustas, já teriam sido desqualificadas pelo judiciário. Nada foi contestado até agora, tudo parece ser verdadeiro. Inclusive a conta secreta num paraíso fiscal que o senador Sarney tentou negar. O código JS-2 revelado por Veja era uma designação interna do Banco Santos, que reunia recursos de diversas pessoas para aplicá-los conjuntamente em nome do estabelecimento.


Então a imprensa não erra? Erra, às vezes veicula denúncias infundadas, outras abusa na defesa dos seus interesses corporativos, mas ela se legitima quando defende os interesses do contribuinte e o patrimônio público.


Sarney acusou O Estado de S. Paulo de liderar a cruzada contra ele, mas ignorou que o jornal onde escreve, a Folha de S. Paulo, repete, religiosamente, com um sábio atraso, as mesmas acusações. O presidente do Senado sempre imaginou que a farta distribuição de favores lhe garantiria um apoio incondicional. Não esperava converter-se em despudorada unanimidade nacional.


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O jornalista Clovis Rossi equivocou-se no artigo publicado na edição de domingo (19/7) da Folha ao cobrar do senador a utilização da sua coluna para defender-se das acusações. Sarney é matreiro: sabe perfeitamente que se escrever algo em sua defesa, caracterizará um conflito de interesses e acionará a sua demissão do jornal.


Quem vive uma penosa situação é a Folha: ao invés de licenciar o colaborador imediatamente após a sua reeleição para presidir o Senado, vê-se obrigada a publicar indefinidamente suas banalidades e, como se não bastasse, conviver com a carga de suspeitas levantadas pelos leitores sobre as razões da sua complacência.