O jornal Amazônia completou 15 anos de existência no dia 19/5 com uma novidade: pela primeira vez o nome do diretor de redação, Antonio Carlos Pimentel, não apareceu no expediente da publicação. No cargo desde que o Amazônia começou a circular e havia 28 anos no grupo Liberal, Pimentel foi demitido de súbito, 10 dias antes.
Chamado ao departamento de pessoal, não foi avisado previamente nem recebeu a comunicação dos dirigentes da empresa, que é presidida por Romulo Maiorana Júnior e tem como conselheiros apenas um dos seus seis irmãos, Ronaldo Maiorana, além de João Pojucam e Walmir Botelho.
Com o afastamento do principal integrante da redação, o jornal cortou o maior salário da folha de pessoal. Mas outros oito jornalistas teriam o mesmo destino no dia 20. Os cortes se restringiam ainda ao diário mais novo da corporação, sem atingir, ao menos nessa primeira leva, O Liberal.
Na sua página no Facebook, Antônio Carlos Pimentel informou sobre o seu desligamento das Organizações Romulo Maiorana, “empresa onde estive por 28 anos – 13 na redação de O Liberal, como repórter, redator, editor-assistente e editor-executivo, e 15 como editor-chefe do jornal Amazônia, da edição número 1, em 10 de abril de 2000, até a de número 5.429, de 8 de abril de 2015”.
Pimentel agradeceu a colaboração “de todos que passaram pelas redações sob meu comando nessa difícil missão de fechar um jornal diário”. Não deixou de se referir também aos diretores “que confiaram no meu trabalho, na minha dedicação e na minha lealdade por tanto tempo”. Manifestou a esperança de que “esse processo de redução de quadro, sempre doloroso, seja passageiro e o menos traumático possível para os profissionais e suas famílias. Torço para que o jornal sobreviva à crise. À minha saída certamente sobreviverá, graças à competência de uma equipe dedicada, séria e responsável”.
“Clima de tensão”
Apesar das palavras de otimismo e de gratidão do editor, o destino dos jornais do grupo Liberal começa a preocupar. O sindicato dos jornalistas declarou em nota que “vem acompanhando, com preocupação, o desenrolar do processo demissionário em veículos de comunicação. O contato direto com os trabalhadores vítimas dos cortes tem sido constante, com a disponibilização de assessoria jurídica para a orientação e o possível ajuizamento de ações futuras”.
Garante também, seu acompanhamento em relação às demissões nas Organizações Romulo Maiorana, “atento a todas as manobras da empresa, que sob a justificativa de enxugar o quadro e reduzir custos, tem aumentado o índice de desemprego, provocando a exploração e a sobrecarga de trabalho dos colegas de profissão que permanecem empregados, precarizando o mercado de trabalho”.
Além disso, o sindicato “formalizou, por meio de ofício protocolado junto à empresa, o pedido de reunião a fim de obter explicações acerca das seguidas demissões, bem como sobre as garantias aos trabalhadores que permanecerão no emprego a fim de evitar a sobrecarga de trabalho e exploração dos profissionais”.
Com as demissões, acrescenta a nota, “o clima de tensão predomina nas redações, prejudicando o desempenho dos trabalhadores, que ficam apreensivos com o que pode acontecer ao chegarem para novo dia de trabalho. Essa é, também, uma perversa maneira de intimidar os jornalistas”.
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Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)