Não pode existir democracia vigorosa sem jornalismo independente, plural e diversificado. E o traço comum de todas as sociedades que têm sistemas democráticos consolidados é a existência de uma imprensa local ativa e economicamente saudável. Este é o ponto de partida do projeto Grande Pequena Imprensa, iniciativa do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), entidade mantenedora do Observatório da Imprensa, que organizou em São Paulo, nos dias 8 e 9 de novembro, um seminário internacional para debater o tema. O evento ocorreu na sede do Google, um dos apoiadores do seminário, ao lado da Fundação Ford, Odebrecht e GIP – Gestão de Interesse Público.
Com o objetivo de construir estratégias para o fortalecimento da mídia regional do Brasil, o Seminário Grande Pequena Imprensa recebeu 22 empresas jornalísticas de quatro estados brasileiros, convidados a partir de um universo de 50 veículos identificados na primeira fase do projeto, cumprida em 2012. Por dois dias, os representantes desses veículos acompanharam apresentações de jornalistas, consultores de mídia e tecnologia, e professores de jornalismo da USP, ESPM, Unesp e Cardiff University.
O seminário foi transmitido ao vivo através do Google Hangout e seus oito painéis estão disponíveis no YouTube. Foram destaque os debates que relacionaram a difícil realidade da imprensa do interior com as novas tecnologias e a atual crise da indústria da mídia: a compreensão dos dilemas por que passa o jornalismo, sobretudo no âmbito local e regional, é o primeiro estágio a ser cumprido no processo de identificação de novas oportunidades.
Terceira etapa
Na painel “O papel do jornalismo local – Como estruturar uma operação sustentável”, o jornalista Alberto Dines e a professora Emma Meese, da Cardiff University, apresentaram as vantagens da mídia regional ante a crise da imprensa. Emma relatou a realidade do País de Gales, onde seus residentes estão lendo menos o jornal nacional e se voltando cada vez mais para os sites da mídia local. Dines, por sua vez, contou o caso do bilionário Warren Buffet, que recentemente comprou dezenas de pequenos jornais por acreditar em sua viabilidade financeira e em seus benefícios para a democracia.
No painel “Como ser independente sem correr risco de vida: perspectivas política-cidadã para os pequenos jornais”, os professores Eugênio Bucci e Cicília Peruzzo expuseram a responsabilidade política dos jornais do interior, que muitas vezes se apresentam fragilizados diante do poder das empresas e dos governos. “Sem olhos críticos em relação ao poder, não há jornalismo”, disse Bucci. O tema foi debatido pelo jornalista Wilson Marini e pelo professor Francisco Belda. Na sequência, os painéis “Como alcançar a audiência e monetizar o conteúdo” e “Do impresso ao digital” apresentaram estratégias e modelos de negócios para os jornais se tornarem sustentáveis utilizando as novas mídias.
O seminário marcou a concretização da segunda etapa do projeto Grande Pequena Imprensa, que teve início em 2012 com uma pesquisa realizada por estudantes da Escola de Comunicações e Artes da USP sobre a imprensa regional do Brasil e do mundo. Os resultados do levantamento serviram de base para o seminário.
A terceira etapa do projeto Grande Pequena Imprensa será composta por uma avaliação do seminário e pelo oferecimento de consultorias especializadas para dez dos veículos que participaram do evento.
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Rodrigo Neves é estudante de Jornalismo da ECA-USP