Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

‘Discurso parcial’ cria meia gravidez no site do governo

Depois que o site Em Questão, da Secretaria de Comunicação Social do governo Lula (http://www.brasil.gov.br/emquestao/), pôs na boca do ministro da Cultura, Gilberto Gil, uma palavra pesada (‘fascismo’) que ele não disse sobre a mídia, numa entrevista, não chega a espantar que o site oficial do Planalto tenha tirado da boca do presidente Lula 56 entusiásticas palavras sobre a prefeita paulistana Marta Suplicy.

Primeiro, graças ao colunista Fernando Rodrigues, da Folha de S.Paulo, ficou-se sabendo que o todo o discurso de Lula ao inaugurar uma obra na cidade foi, como se diz, deletado do site, 48 horas depois de ter sido proferido, no sábado, 18/9.

Na quarta-feira, dando razão aos que acham que tudo sempre pode ser piorado, os editores palacianos devolveram o discurso ao devido lugar, onde faz companhia a todos quantos o presidente lê e/ou improvisa, mas não sem antes selecionar o fecho glorioso da fala e acionar o comando cut (ou recortar), para removê-lo da memória oficial pelo menos até o fim do fim das eleições municipais.

Daí aparecer no site uma coisa patética chamada ‘discurso parcial’ – uma combinação de malandragem com desrespeito pela inteligência alheia, a começar pela dos jornalistas. Porque não adianta falsificar a história, ainda que temporariamente. Lula disse: ‘(…) não tem outro jeito, dia 3 de outubro é votar na Marta Suplicy (…)’. Falou, tá falado – e até as águas que inundaram a Avenida Radial Leste, em São Paulo, horas depois de Lula ter subido ao palanque ali, ficaram sabendo o que ele disse.

Ficou parecendo um caso de meia gravidez.

Enfim vieram as desculpas do presidente, que invocou ‘emoção muito forte’, para explicar a exortação depois censurada. Ele foi citado como tendo dito ainda o seguinte aos radialistas que o entrevistaram na quinta-feira:

‘Se isso foi errado, eu só tenho que pedir desculpas. Se eu machuquei alguém, se feri alguém, vou ser mais comedido daqui para a frente. Vou evitar, durante esse período de campanha, improvisos falando de eleições, que podem ajudar o meu candidato, mas não são exemplo que pode ser bom para a Justiça’.

Segundo a colunista Dora Kramer (O Estado de S.Paulo e O Dia), a frase exata não foi bem aquela, mas: ‘Não gostaria de transgredir qualquer lei. Portanto, como criaram a palavra desculpa, peço desculpa.’

[Texto fechado às 16h08 de 26/9]