Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Dossiê para quem quiser

Atenção, caçadores de escândalos: a publicitária Maria Christina Mendes Caldeira, chamada por alguns de socialite, qualificação que ela detesta, mandou digitalizar um pacote de documentos supostamente comprometedores contra seu ex-marido, o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP).

Como se sabe, ela foi casada com o deputado que é tido como chefe do grupo que protagoniza os mais recentes casos de corrupção no Ministério dos Transportes e esteve envolvido no chamado caso “mensalão”.

Em maio de 2004, exatamente há sete anos, Costa Neto a abandonou e mandou cortar o fornecimento de eletricidade da mansão onde viviam em Brasília, e que havia sido ponto de encontro de políticos que tinham apoiado o governo anterior, do PSDB, e migravam para a base de apoio do governo petista.

A separação rendeu muito falatório, ruidosos processos na Justiça e a transformação de Maria Christina em fonte de jornalistas. Em depoimento à Comissão de Ética da Câmara, em julho de 2005, ela fez denúncias que contribuíram para que Costa Neto acabasse renunciando ao mandato.

Prato sortido

O deputado voltou ao Parlamento em 2006 e desde então se manteve mais ou menos discreto, atuando preferencialmente nos bastidores do Congresso. Neste ano, outra vez num mês de julho, ele volta ao seu inferno astral, colocado no centro de novo escândalo, na esteira de denúncias que vêm derrubando, um a um, seus correligionários do Partido da República instalados no Ministério dos Transportes.

Na semana passada, o vereador paulistano Agnaldo Timóteo (PR) juntou-se aos seus acusadores, confirmando a autenticidade de uma carta que o acusa de cobrar propina para a cessão de um terreno da Rede Ferroviária Federal no centro de São Paulo.

Na semana que passou, a ex-mulher de Valdemar Costa Neto voltou a ser assediada por repórteres em busca de novas revelações sobre o caso que envolve seu ex-marido. Mas ela se declara cansada desse protagonismo.

Registrou em seu blog, na sexta-feira (22/7), que ouviu como argumento de um jornalista o fato de que “falta pouco para enterrar o Valdemar” e garante que não pretende voltar a acusá-lo. No entanto, ela depositou numa gráfica de São Paulo um conjunto de documentos para serem digitalizados e promete apresentar mais material nos próximos dias.

Os profissionais que vivem de colher dossiês terão um prato cheio, segundo ela mesma declarou.

Credibilidade não é essencial

No jornalismo de declarações e vazamentos que predomina há alguns anos na imprensa brasileira, qualquer coisa que tenha origem em tal personagem vale um esforço. Mesmo que, como é muito provável, a nova leva de documentos se revele apenas material requentado.

Maria Christina Mendes Caldeira tem tido, desde seu depoimento na Câmara, um comportamento errático. Foi processada por injúria, perdeu um apartamento e luta para recuperar uma parte do patrimônio que herdou da avó e do pai, que foi importante empresário do setor de construção civil e faleceu há dois anos.

Já tentou emplacar uma minissérie na televisão, na qual pretendia relatar como se fabrica uma campanha eleitoral no Brasil, mas não conseguiu levar adiante o projeto. Diante do assédio de repórteres, ela deixou instruções na gráfica onde mandou digitalizar documentos, determinando que qualquer jornalista poderá ter acesso ao conteúdo, bastando pagar a gravação de um disco ou as cópias em papel.

Provavelmente a localização da gráfica será divulgada através das redes sociais, nas quais ela é relativamente atuante, principalmente no Twitter, onde se comunica com jornalistas e empresários.

Seu estilo um pouco dispersivo não inspiraria muita confiança em jornalistas mais exigentes, mas sua credibilidade não parece importar muito. No mínimo, pode-se extrair seletivamente de seus papéis referências a personagens mais ou menos visados pela mídia.

No material já disponível na gráfica, há um trecho de depoimento dissimulado sob um arquivo que contém crônicas do escritor maranhense Humberto de Campos, além de cópia de um recibo bancário ilegível, ações de penhora de que ela foi objeto e cópia de processo que lhe foi movido por Lúcio Funaro, acusado de atuar como doleiro no grupo de Valdemar Costa Neto.

Pode ser que a ex-mulher do personagem central do escândalo da hora mantenha sua promessa ou desista de divulgar novos documentos.

Um dos textos que mandou para a gráfica fala sobre assassinatos de mulheres.

No mínimo, dá uma boa crônica.