Em sua coluna de domingo [8/7/07], o ombudsman do New York Times, Clark Hoyt, analisou um assunto polêmico: a guerra do Iraque e o papel do grupo terrorista al-Qaeda, considerado, pelo presidente George W. Bush e pelo Exército dos EUA, o grande vilão do conflito. Bush mencionou a al-Qaeda 27 vezes durante um discurso recente sobre o Iraque na Escola Naval de Guerra, em Newport, Rhode Island. No 4 de julho, dia em que os EUA celebram sua independência, o presidente insistiu no tema, em um evento na West Virginia. ‘Temos que derrotar a al-Qaeda no Iraque’, afirmou.
Segundo a agência Associated Press, embora, nos últimos anos, cerca de 30 grupos diferentes tenham assumido a autoria de ataques nos EUA e contra o governo iraquiano, releases do Exército americano focam excessiva e unicamente na al-Qaeda. ‘É uma importante questão saber por que Bush e o Exército se concentram na al-Qaeda e excluem outros grupos’, dispara Hoyt. ‘Assim como saber se a versão apresentada por eles corresponde à atual realidade no Iraque’.
Sem questionamentos
O ombudsman critica, além do comportamento do governo, a (falta de) atitude da imprensa. O Times, nas últimas semanas, citou afirmações do presidente e de militares sem questionar o papel da al-Qaeda no Iraque. Ao se deixar levar pela linguagem usada pelo governo, o diário falhou em não diferenciar, em algumas ocasiões, a al-Qaeda, organização responsável pelos ataques do 11 de setembro, e a al-Qaeda da Mesopotâmia, grupo iraquiano que sequer existia até a invasão americana ao país. A al-Qaeda da Mesopotâmia declarou lealdade à al-Qaeda de Osama bin Laden, mas acredita-se que ela não esteja sob seu controle operacional. Há muitas evidências de que a al-Qaeda da Mesopotâmia é apenas um dos desafios que o Exército americano enfrenta no Iraque – focar apenas nele contribui para a distorção dos fatos.
Se o presidente deseja falar de um único inimigo, odiado pelos americanos, os jornalistas têm a obrigação de questionar a veracidade de suas declarações, insiste Hoyt. De acordo com Anthony H. Cordesman, do bipartidário Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, ‘ninguém sabe ao certo quantos grupos islâmicos diferentes são a insurgência’. Shibley Telhami, professor da Universidade de Maryland, concorda. ‘A administração fez uma decisão estratégica ao definir o papel da al-Qaeda no Iraque e toda a imprensa foi atrás’, afirma.
Hoyt revisou a cobertura de guerra do jornalão durante o mês de junho e descobriu que muitas matérias falavam da complexidade e do caos existentes atualmente no Iraque. Susan Chira, editora da seção internacional, diz ter ‘orgulho da cobertura internacional como um todo’, mas reconhece que o jornal usou de modo superficial as referências à al-Qaeda da Mesopotâmia. Para tentar solucionar esta falha, ela e o subeditor Ethan Bronner produziram, na semana passada, um memorando com guias para distinguir a al-Qaeda da Mesopotâmia da de bin Laden.