Debater hoje os erros de ontem e consertar desvios do passado à luz do presente é uma das virtudes de se viver sob regimes democráticos. Há 11 anos, errei. Nunca tive a pretensão mitômana de crer que o erro do qual era um dos sócios fora decisivo para cassar o mandato de Ibsen Pinheiro. Quando escrevi o relato que ganhou a capa da revista Istoé deste fim de semana, movia-me o desejo de tirar um peso histórico dos ombros e de ajudar um homem público a traçar sua biografia com a contribuição de quem protagonizara um episódio chave no epílogo de sua carreira.
O relato que titulei como ‘O homem que se recusou a morrer’ é a descrição de fatos que vivi. Há três meses entreguei-o a Ibsen Pinheiro, por e-mail, e disse-lhe que podia dar o destino que quisesse àquele texto. Não o imaginava como peça de resistência da reportagem de capa de uma revista semanal. Mas não o renego.
Não temo ser condenado por estar do lado da verdade. No jornalismo, a maturidade profissional só é atingida quando aprendemos a dizer ‘não’ para o andar de cima das redações. Aprendi isso com celeridade e sem a ajuda de um infame Conselho Federal de Jornalismo ou algo do gênero. Mas em 1993, com 24 anos, a despeito de ter dado alguns bons furos de reportagem, não tinha essa maturidade. Passei a exigi-la, depois, dos repórteres que comandei nas redações onde exerci cargos de chefia. Escrevi um capítulo da biografia de Ibsen. Não sou o único jornalista que publicou um erro. Certamente, perfilo ao lado dos poucos que têm a humildade de admiti-lo. Jornalistas erram, assim como médicos e engenheiros erram. Erros médicos, em geral, são fatais. Erros de engenharia provocam tragédias. Erros jornalísticos produzem vítimas silenciosas, dores de alma. Devia ficar em silêncio?
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Jornalista, consultor de comunicação