No final dos anos 1980 e início dos 1990, estabeleceu-se, a partir do meio acadêmico, o que posteriormente ficou conhecido como Consenso de Washington ou neoliberalismo. As teses defendidas pelo Consenso foram a base das políticas públicas implementadas em quase todos os países da América Latina, com destaque especial para Chile, México Colômbia, Argentina, Peru e Brasil.
No Brasil, essas idéias tiveram enorme aceitação. O processo de privatização realizado durante os governos de Fernando Henrique Cardoso é o exemplo acabado disso. Dentre os principais dogmas neoliberais está a crença de que a presença do Estado deve ocorrer somente nas atividades não-produtivas ou naquelas que não haja interesse do setor privado. Dentre esses setores destacam-se saúde, educação e serviços públicos como água e energia.
É preciso destacar o papel fundamental dos órgãos da grande imprensa no processo de convencimento da população sobre as supostas vantagens da supremacia do mercado, a partir da década de 1990.
Bastante comum é ouvir economistas ou jornalistas afirmando que o grande problema do país é o tamanho do Estado brasileiro ou os gastos públicos excessivos da máquina administrativa. Para quase todos os problemas sempre vemos ‘especialistas’ a defender a redução dos gastos públicos. Mas o famigerado ‘superávit primário’, a economia compulsória para pagamentos de juros da dívida pública, jamais foi objeto de questionamento por parte dos economistas de mercado.
Esperança ingênua
E eis que somos informados pela mídia que o Tesouro dos Estados Unidos injetará 700 bilhões de dólares para a compra de papéis podres na tentativa de salvar o país da enorme crise que assola o mercado financeiro.
Ora, a pergunta que não quer calar é: como é possível, no seio do capitalismo neoliberal, utilizar recursos do Tesouro – ou seja, públicos – para salvar empresas privadas. Por onde andarão nossos jornalistas econômicos?
É certo que uma crise dessa magnitude teria levado a bancarrota qualquer outro país. Porém, com base no poder ideológico e militar que ainda têm os Estados Unidos, a crise será compartilhada em escala global.
E agora, José? E agora, Miriam Leitão?
Percebe-se então que o capitalismo financista globalizado não resiste sem tomar conta do Estado ou sem a utilização de recursos públicos para interesses particulares. Implica dizer que nos Estados Unidos, em especial, os interesses dos especuladores de Wall Street se confundem com o próprio Estado. E que as teses neoliberais são boas para inglês ver, ou melhor, para latino-americano ver.
Esperemos, ingenuamente, que os meios de comunicação expliquem para seus leitores/telespectadores/internautas a amplitude e as conseqüências dessa crise para o Brasil.
******
Antropólogo, América Dourada, BA