Há quase 11 anos, uma greve da Polícia Civil da Bahia, organizada pelo então sindicalista Crispiniano Daltro, acabou incentivando também uma paralisação por parte da Polícia Militar da Bahia. Mesmo à frente do comando da greve das polícias, Daltro não conseguiu controlar os PMs baianos com a mesma habilidade com a qual liderava os civis. Surgiu a figura do soldado Prisco. Prisco passou a coordenar algumas “ações de greve” e acabou virando alvo do então governador César Borges e da cúpula da Secretaria de Segurança Pública do Estado, que pediram a exoneração e prisão do soldado grevista. Exonerado, Prisco conseguiu escapar da prisão com a ajuda de um certo partido de oposição, o PT.
Hoje, sob o comando do PT, a Bahia está vivendo dias de horror. Mas de 86 assassinatos em apenas quatro dias, 192 carros roubados, saques, arrombamentos, arrastões e incêndios criminosos. Policiais encapuzados ordenando o fechamento do comércio dos bairros, rasgando à faca pneus de viaturas, invadindo a Assembleia Legislativa, travando avenidas com ônibus e atirando para o alto para gerar o pânico em algumas regiões do estado. O governador, daquele certo partido de oposição do passado, agora diz que não vai tolerar o vandalismo e os desmandos do grupo de policiais grevistas, e se recusou a aceitar em uma audiência, quem diria, o ex-soldado Prisco e seu grupo de policiais grevistas.
A atual greve da PM foi considerada ilegal pela justiça. Porém, os grevistas não voltaram ao trabalho e quase 80% da cidade parou nestes dias sem PMs nas ruas. Até um jogo do Campeonato Baiano de futebol teve grevistas em frente ao estádio impedindo o time do Bahia de entrar no estádio com o seu ônibus.
Uma quarta-feira de cinzas permanente
A confusão começou quando uma associação de policiais militares, liderados pelo ex-soldado Prisco, decretou a greve. Mesmo sem o apoio declarado dos não-associados, a PM não desmentiu em tempo hábil a greve. Talvez para forçar o diálogo com o governo. Resultado: o pânico se instalou nas redes sociais. A cada minuto boatos sobre arrastões, assaltos a pontos de ônibus, tiros, assassinatos e desmandos dos grevistas passaram a ilustrar as páginas do Twitter e Facebook, misturando-se a fatos verídicos. Porém era difícil separar a verdade dos boatos devido à falta de confirmação dos fatos por parte da imprensa. Em busca de informações, procurávamos em sites de alta confiabilidade, e não achávamos. Resultado: as mídias sociais geraram um pânico tão grande, quanto os policiais de capuz e armas em punho atirando para o alto em frente a um shopping de grande circulação da cidade.
O caos gerado pela greve parece estar começando a mudar a opinião pública. Antes a favor da PM e contra o governo Wagner, agora começam a mudar de ideia, devido aos constantes prejuízos que a greve vem trazendo à economia local. A Bahia parou, porém as imagens de um estado sem comando viajaram o mundo inteiro. Com isso, o carnaval de Salvador, principal manifestação popular e turística do mundo, tende a ser um dos mais fracos dos últimos anos. Economicamente, tem tudo para ser um fracasso e Fortaleza começa a ganhar os turistas que viriam para as ruas da minha cidade.
Nem a Força Nacional ou a Polícia do Exército irão conseguir proteger a imagem da Cidade da Folia, Capital da Alegria e Coração do Mundo. Só a imprensa, e muito marketing, pode salvar a minha Salvador nesse carnaval. E quando passar a folia dos “arrastões de bandidos” e dos cidadãos de bem saqueando lojas como ladrões, ficaremos numa quarta-feira de cinzas permanente, nessa terra, que já foi da felicidade.
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[Erick da Silva Cerqueira é publicitário, Salvador, BA]