A linguagem jornalística no Brasil, assim como em todo o mundo, sempre sofreu, ao longo do tempo, substanciais transformações em função das evoluções políticas, sociais, econômicas e culturais que se impuseram em cada momento histórico. Além do mais, é sabido que o conteúdo textual de um jornal ou de qualquer veículo de comunicação sempre refletiu e ainda reflete a postura ideológica de um regime político, de um grupo empresarial ou de uma pessoa que detém a sua propriedade. É elaborado para camadas da sociedade previamente determinadas, com suas características próprias e condições distintas de decodificação das mensagens. Portanto, a linguagem utilizada em veículos, os mais diversos, dependerá essencialmente de todos esses fatores e de outros mais, que não nos cabe, por ora, analisar.
Historicamente podemos identificar várias fases na evolução da linguagem do jornalismo no Brasil. O primeiro jornal brasileiro, por exemplo, preocupava-se apenas em informar o que se passava na Europa. Por ser um veículo oficial, não apresentava atrativos para o grande público. “Só se informava ao público, com toda a fidelidade, do estado de saúde de todos os príncipes da Europa… assim como de odes e panegíricos à família reinante”, diz o historiador Nelson Werneck Sodré no livro História da Imprensa no Brasil. Na virada do século 19 para o 20, os jornais passaram a ser elaborados por intelectuais, representantes de uma aristocracia minoritária. Seus textos, direcionados também para uma minoria igualmente aristocrática, possuíam caráter opinativo e eram escritos quase em forma de tratados literários, abordando assuntos que só a essa casta interessava.
Som e imagem como coadjuvantes
Com a revolução industrial, o aperfeiçoamento do maquinário de imprensa e a mão-de-obra cada vez mais especializada possibilitaram maior tiragem das edições, ao mesmo tempo em que tornavam a produção mais dispendiosa. Necessário foi, por consequência, a incursão da publicidade em todo o processo de elaboração do jornal. Paralelamente, a grande migração populacional do campo para a cidade, acabou por formar um importante mercado consumidor que, até então, não existia. Com o mercado em franca expansão, a classe burguesa, agora proprietária dos veículos e já com estrutura empresarial, sentiu-se na obrigação de intensificar cada vez mais as vendas, tendo que redirecionar seus textos para que pudessem ser mais bem decodificados pelos novos leitores. Neste momento histórico surgiu o folhetim – gênero literário que deu origem as atuais novelas –, redigidos pelos melhores escritores da época, com a intenção de “fidelizar” o público leitor não tão intelectualizado.
A partir da década de 50, o jornalismo brasileiro sofreu (e ainda sofre) grande influência do modelo norte-americano. Nasce uma linguagem essencialmente noticiosa, com textos formatados de maneira extremamente técnica, buscando objetividade e imparcialidade a todo custo, o que acreditamos se tratar de um mito, visto que sempre haverá a mediação de um jornalista com seus conceitos e preconceitos inerentes ao ser humano.
O rádio e a televisão utilizam textos cada vez mais concisos em seus programas jornalísticos, dada a limitação de tempo – entre outros motivos – a que tais veículos são submetidos. É uma nova linguagem, enfocando apenas o essencial, tendo como coadjuvantes o som (no caso do rádio) e, junto com esse, a imagem (no caso TV) como complementadores do texto propriamente dito.
Sistema telepático
A tecnologia, caminhando a passos largos, mais uma vez provoca a transformação na linguagem jornalística. As informações, transmitidas com maior velocidade, agora correm o risco eminente de tornarem-se efêmeras em questão de segundos. A internet cada vez mais enxuga seus textos nos informes em tempo real. O receptor quase que participa da notícia e muitas vezes até interage com o emitente, o que caracteriza uma efetiva revolução em todo o sistema comunicacional.
Não obstante a história tenha ditado a evolução da linguagem jornalística, esta mesma linguagem, como constatamos, pode ser diferenciada, também, nos diversos meios de comunicação em que é veiculada. O fato é que antes o mundo tinha a imensidão do universo. Hoje, esse mesmo mundo, que era vasto, cabe em uma tela diminuta de computador, de um tablet, e mesmo de um telefone celular que cabe na palma da mão.
Em um futuro não muito distante, o universo inteiro talvez seja armazenado em um chip instalado em algum canto obscuro de nosso cérebro transformador. A informação, quem sabe, poderá ser transmitida através de um sistema telepático até então não concebido, utilizando uma linguagem completamente distinta das que conhecemos atualmente. Seremos nós, neste tempo vindouro, certamente, o nosso próprio veículo de comunicação. Quem viver verá!
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[João Dell'Aglio é jornalista, Salvador, BA]