Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Crise externa e riscos no Brasil ofuscam Rio+20

O governo reforçou as medidas anticrise, diante do risco de piora da situação europeia e dos sinais cada vez mais claros de estagnação interna. Várias medidas foram anunciadas na semana anterior à eleição parlamentar na Grécia, marcada para o domingo (17/6). Havia suspense em todo o mundo. Uma vitória do grupo mais contrário às políticas de austeridade poderia precipitar, segundo se temia, um abandono da zona do euro e um calote completo da dívida grega. Se isso se confirmasse, um desastroso efeito dominó poderia atingir economias muito maiores já pressionadas pelo mercado financeiro, como Espanha e Itália. Todos os principais candidatos se diziam pró-Europa, sem, no entanto, tranquilizar a plateia estrangeira. 

A vitória conservadora aliviou as tensões, de imediato, mas a contenção dos riscos ainda vai exigir muito trabalho. Os grandes jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo noticiaram todas as medidas preventivas anunciadas em Brasília, mas, como de costume, deixaram de costurá-las e de mostrar a articulação possível dos vários retalhos.

Os leitores até receberam boas matérias sobre cada uma das iniciativas, mas tiveram de se encarregar do trabalho de juntar os pedaços. Difícil, mesmo, diante desse quadro, foi chamar a atenção para a conferência Rio + 20, desde o início condenada a produzir resultados chochos.

Fôlego e coragem

Em poucos dias o governo afrouxou o controle do ingresso de capitais estrangeiros, criou facilidades para os governos estaduais investirem e elevou a margem de preferência, em suas compras, para roupas e calçados nacionais. Mesmo o novo plano de negócios da Petrobras, o primeiro da presidência de Maria das Graças Foster, de certa forma atende à necessidade de investimentos mais rápidos para reanimação da economia.

A matéria mais ampla e mais detalhada sobre o assunto foi publicada pelo Globo na sexta-feira (15/6), com um título especialmente instigante em uma das retrancas: “Refinarias do PAC perdem prioridade”.

Também na sexta-feira os jornais noticiaram a redução, para dois anos, do prazo de incidência do IOF de 6% sobre financiamentos captados no exterior. Três meses antes o Ministério da Fazenda havia ampliado esse prazo para cinco anos, em mais uma tentativa de conter a inundação de dólares e a consequente valorização do real, um pesadelo para os exportadores.

A nova medida foi aprovada, de modo geral, pelos especialistas, mas sem muita expectativa de efeitos importantes no curto prazo. As críticas foram motivadas principalmente pela frequência de intervenções e mudanças políticas. Os jornais poderiam ter dado mais ênfase a uma pergunta: os empresários estarão, diante das atuais incertezas, dispostos a assumir novas dívidas em moeda estrangeira?

Na quarta-feira (13), o Brasil Econômico havia publicado uma importante matéria exclusiva com o título: “Dívida externa das empresas brasileiras salta 71% em 2 anos”. Haveria fôlego e coragem para ampliar o salto?

Nervosismo pré-eleitoral

Durante a semana, a presidente Dilma Rouseff, em várias ocasiões, defendeu os estímulos ao consumo como forma de reativar a economia e prometeu manter a política federal de investimentos. Em artigos e editoriais tem havido alguma discussão sobre o diagnóstico oficial: o problema, afinal, está do lado do consumo ou da capacidade de oferta e de competição das indústrias?

Mas o assunto tem sido pouco explorado nas páginas de notícias e reportagens. Ao apresentar, na sexta-feira (15), as medidas de estímulo aos governos estaduais, o ministro da Fazenda Guido Mantega mencionou os investimentos federais e citou um recorde nos desembolsos do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento. Houve recorde, de fato, no período de janeiro a maio, mas 55% dos desembolsos foram financiamentos para o programa Minha Casa, Minha Vida. Esse detalhe já havia sido divulgado pela organização Contas Abertas, especializada no acompanhamento das finanças públicas, mas, de modo geral, os editores deixaram a bola passar sem tocá-la.

A semana terminou com destaque, nos jornais de domingo (18), para as eleições gregas e para o suspense internacional. Durante a semana, uma das melhores histórias sobre como os gregos se preparavam para as eleições mencionava os saques bancários de até 800 milhões de euros por dia. As famílias vinham usando parte desse dinheiro para estocar comida, por medo de uma explosão inflacionária no caso de uma volta à velha moeda nacional, o dracma. Poucas reportagens deram uma ideia tão clara do nervosismo pré-eleitoral, mas nem todos os jornais deram destaque ao tema. O Estado de S. Paulo e O Globo apresentaram a história em alto de página.

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[Rolf Kuntz é jornalista]