Pressionada a limitar o contágio depois do escândalo dos grampos telefônicos na Grã-Bretanha, a News Corp., de Rupert Murdoch, anunciou ontem (26/6) que estuda a possibilidade de desmembrar-se em duas empresas listadas em bolsa. A medida está sendo cogitada enquanto a autoridade reguladora das comunicações da Grã-Bretanha, a Ofcom, se aproxima da fase final de sua análise para determinar se a empresa de TV por satélite British Sky Broadcasting – da qual a News Corp. detém uma participação de 39% – é “idônea e competente” para receber uma licença de transmissão.
É possível que a separação da divisão de jornais da News Corp., que se envolveu no escândalo, assim como das empresas lucrativas de TV e cinema tranquilize as autoridades reguladoras, afirmam os analistas. “Não digo que a medida venha a acabar completamente com as preocupações da Ofcom. Mas acho que ajudaria”, considerou o analista Tom Eagan, da Canaccord Genuity. Investigadores britânicos estão empenhados em averiguar as acusações de que jornalistas da News Corp. grampearam telefones e subornaram funcionários britânicos para conseguir furos jornalísticos.
Depois do início das investigações, a companhia abandonou sua tentativa de conseguir o controle total da British Sky Broadcasting. Com a separação de seus negócios, a companhia não seria obrigada a vender sua participação restante na BSkyB, cujo valor é de cerca de US$ 6,9 bilhões.
Deliberações internas
O conglomerado de mídia não especificou ontem quais são as empresas contidas em cada companhia. O Wall Street Journal, a publicação mais importante da News Corp., noticiou na segunda-feira que a corporação analisa a possibilidade de separar o braço editorial, livros e jornais, do conglomerado de entretenimento, que inclui a Fox News Channel, a rede de TV americana Fox, que tem programas de sucesso, como American Idol, e o estúdio cinematográfico 20th Century Fox, dono também da divisão de filmes independentes Fox Searchlight. Os negócios de entretenimento são muito mais lucrativos do que os de imprensa. Nos primeiros nove meses do atual exercício fiscal, eles representaram cerca de 75% da receita da companhia e quase todos os outros lucros operacionais.
O analista Todd Juenger, da Bernstein, disse esta semana, em nota, que “o desmembramento permitirá que a companhia invista mais no campo do entretenimento, que está em expansão, sem a bagagem do conglomerado de livros e jornais”.
Os investidores aplaudiram a notícia. As ações da News Corp. registraram chegaram a subir 6% após o anúncio, cotadas a US$ 21,35, o maior preço das últimas 52 semanas. Um ex-executivo da News Corp., que está acompanhando as deliberações internas da corporação, afirma que se fala nessa divisão dos negócios há anos, embora as discussões tenham adquirido um impulso maior depois do escândalo dos grampos, em julho de 2011.
Todos ganham
A divisão permitirá que Murdoch mantenha o controle de suas valiosas operações na área editorial, graças às suas ações com direito a voto, agradando ao mesmo tempo os investidores que consideram os jornais um impedimento à valorização do capital para os acionistas. O bilionário de 81 anos construiu a companhia a partir de um único jornal australiano herdado do pai. A família Murdoch controla cerca de 40% das ações da News Corp. com direito a voto. Segundo o ex-executivo, que pediu para não ser identificado, ainda não foi tomada uma decisão final.
O analista Alan Gould, da Evercore Partners, disse que as empresas da área editorial, que incluem a Dow Jones & Co. e jornais como The Times, de Londres, podem valer US$ 5 bilhões. Sem elas, ele calcula que o crescimento da receita da divisão de TV e cinema, que já é maior, praticamente dobraria, para cerca de 7% ao ano. Não está claro se a unidade editorial que será desmembrada também arcará com as custas judiciais da investigação na Grã-Bretanha. Nos primeiros nove meses do atual exercício fiscal, as custas totalizaram US$ 167 milhões para a empresa.
A finalidade de um desmembramento não é criar uma companhia menor “que encolherá e morrerá”, na opinião do analista Todd Eagan. Segundo ele, essa empresa teria de conter empresas suficientemente lucrativas para atrair investidores. Eagan destacou o desmembramento bem-sucedido da gigante da TV a cabo, Time Warner Cable Inc., da companhia de entretenimento Time Warner Inc., em março de 2009. Como a divisão de TV a cabo estava mais disposta a pagar dividendos e recomprar ações, o preço de suas ações mais que triplicou a partir daquele ano. Enquanto isso, o preço das ações da Time Warner dobrou.
Os acionistas da Time Warner receberam participações acionárias em ambas as companhias desmembradas. Para Eagan, todos devem ganhar com um eventual desmembramento da News Corp.
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[Ryan Nakashima, da Associated Press, em Los Angeles]