Um fato curioso passa despercebido: os jornais impressos surgem e desaparecem em momentos de mudanças socioeconômicas. No segundo semestre de 1789, durante a Revolução Francesa, nada menos do que 250 jornais impressos surgiram da noite para o dia e os tidos como conservadores entraram em declínio. Na então União Soviética, o Pravda (verdade, em russo) era o jornal oficial do regime bolchevique durante os governos de Lênin e Stalin, mas foram as impressoras clandestinas que rodavam os panfletos que conseguiram furar o cerco e denunciar para o mundo as atrocidades cometidas pelos comunistas – 20 milhões de assassinatos – e puseram fim ao Pravda.
O jornal impresso parece ser um negócio pouco ou nada rentável e serviria mais como poder político e de barganha – Napoleão Bonaparte dizia que quatro jornais são mais perigosos do que 100 mil baionetas – e os donos de jornais quase sempre têm outros negócios empresariais: rádios, televisão, editoras etc. Outro fato que merece destaque é que as tipografias, onde eram rodados os panfletos, eram de judeus, inclusive, no Império Otomano. Por duzentos anos, foram os judeus que dominaram as impressões: em 1504, fundaram tipografia em Istambul; 1510, em Salônica; em 1554, em Esmirna (ou Izmir). Foi preciso esperar até 1728 para aparecer a primeira tipografia não judaica no Império Otomano – as tipografias faturavam mais com a impressão de livros do que com a panfletaria e os tabloides.
Auges e crises
A primeira agência de notícias surgiu em 1832, fundada pelo judeu Bernhard Wolf, em que utilizava a tecnologia de Samuel Morse para transmitir as notícias por telegrama – no início especulava na Bolsa de Valores e anunciava os horários dos trens. O primeiro furo político foi dado pelo Times no mesmo dia, em 10 de janeiro de 1859, que tratava do desencadeamento da guerra franco-austríaca e a independência da Itália – a rapidez era a novidade para os jornais impressos. Em 1865, o judeu Julius Reuter fundou a Agência Reuters e passou a distribuir as informações para diversos jornais, o que ajudava na contenção dos custos, pois os jornais não precisavam mais enviar correspondentes aos locais da notícia.
O judeu Adolph Simon Ochs comprou em 1896 o The New York Times – que na época tinha tiragem de apenas nove mil exemplares/dia e estava à beira da falência – por modestos US$ 250 dólares. Porém, em 1925 a tiragem do NYT chegaria a 780 mil exemplares/dia, mas por diversas vezes o NYT passou por crises.
Quase todos os jornais impressos passaram por auges e crises e, não raramente, tiveram que se reinventar para continuar existindo…
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[Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista, Fortaleza, CE]