Há mais de 20 anos envolvido com as atividades da SIP, o chileno Julio Eduardo Muñoz, hoje diretor executivo da entidade, alerta para um problema crucial da imprensa no continente: a necessidade de federalizar a investigação dos crimes contra jornalistas. “Muitos desses ataques ocorrem em cidadezinhas distantes, onde não se investiga ou há todo tipo de pressão para não se punir. É urgente federalizar”, diz ele ao Estado de S.Paulo, enquanto cuida dos últimos detalhes da 68.ª assembleia. “Uma instituição com 1.300 jornais e 47 milhões de exemplares tem de usar essa força para proteger os profissionais.”
Qual é a valiação da SIP sobre a imprensa no continente?
Julio Eduardo Muñoz – Os problemas sempre se mantêm, nas ditaduras e nos regimes democráticos. O primeiro é o da violência. Desde 1997, morreram 418 jornalistas na região. É uma cifra muito alta. Claro que os principais países são aqueles onde há narcotráfico e guerrilhas – basicamente México e Colômbia. Mas no Brasil o número é alto também.
O que a SIP faz a respeito?
J.E.M. – Organiza treinamento de jornalistas, para que tenham mais segurança. Faz campanhas internacionais por investigações sérias. Em muitos países o crime nunca é investigado. Em cidadezinhas distantes, a investigação é local e sujeita a pressões. Uma de nossas principais prioridades, agora, é que se federalizem essas investigações. Foi feito no México. Deu certo.
E além do crime organizado?
J.E.M. – O segundo grande desafio são as leis de imprensa, agora usadas para atacar a imprensa. Um caso típico é o da Argentina, onde se tenta eliminar um monopólio privado para implantar outro, estatal. A SIP não é favorável a nenhum tipo de monopólio, menos ainda estatal. Ademais, existem leis, como as que tratam de calúnia e injúria, e toda uma estrutura legal que vem sendo usada para tentar atar as mãos dos jornalistas. Isso tem ocorrido na Argentina, Equador, Nicarágua, Bolívia. Também ameaçam com o controle da publicidade oficial. A cláusula 7 da Declaração de Chapultepec, que esses governos assinaram, determina que “as licenças para importação de papel, a outorga de canais de TV e rádio, a concessão ou supressão de publicidade estatal, não devem aplicar-se para premiar ou castigar os jornais”.
O que a SIP defende é o respeito àquela declaração?
J.E.M. – Sim. A SIP funciona como uma espécie de seguro de vida das empresas de comunicação. Estamos aí para defender esses direitos. Os governos têm de entender que, como diz a Declaração de Chapultepec, “o exercício da imprensa não é uma concessão das autoridades, é um direito inalienável do povo”.
E de que forma isso será debatido nesta assembleia?
J.E.M. – Esta vai ser uma assembleia ampla, e com novidades. O programa tem um pouco de cada coisa. Temas técnicos, direito de informação, convidados ilustres, como Arthur Sulzberger Jr., Jorge Castañeda, Juan Luís Cebrián. Já temos perto de 500 convidados, entre estudantes e professores, para uma tarde de debates sobre jornalismo.
A informação digital é um problema para os jornais?
J.E.M. – O futuro da notícia é a digitalização. Não estou dizendo que o papel vai sumir, ele vai sempre existir. Só que o digital está provocando uma revolução. Mas surge aí a questão do controle dos meios. As redes sociais ampliam os meios, mas o que nelas circula não tem consistência. Credibilidade não se inventa, se conquista./ G.M.
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[Gabriel Manzano, do Estado de S.Paulo]