O diário alemão Handelsblatt achou uma saída original para as exigências do PDG do grupo francês BNP-Paribas, Baudoin Prot. Irritado com as mudanças sugeridas pelos assessores do diretor-presidente do banco francês, o jornal resolveu publicar a entrevista apenas com as perguntas. No lugar das respostas, um espaço em branco.
Mas nem todos os jornais têm a coragem de tomar medida tão radical diante de entrevistados ciosos de reler entrevistas dadas para aprová-las depois de propor emendas. A diretora de redação do New York Times, Jill Abramson, foi categórica e recentemente fez uma recomendação por escrito à redação: “Os jornalistas deverão recusar uma entrevista se uma fonte coloca como condição a releitura a posteriori das citações para examiná-las, aprová-las ou modificá-las”.
Motivado pela decisão do New York Times de não mais permitir que o entrevistado interfira na edição de sua entrevista, o jornal francês Libération fez uma enquete entre jornalistas franceses para saber como o problema é visto na França. Todos os jornalistas disseram já ter ouvido a frase: “Tudo bem, dou a entrevista, mas quero ler antes da publicação”.
No Le Monde, as regras de deontologia determinam que as entrevistas não devem ser dadas ao entrevistado para releitura, a não ser que tenha por objetivo evitar qualquer erro factual ou de compreensão. Até há pouco tempo, o jornal tinha como norma indicar ao leitor textos que haviam sido relidos pelo entrevistado. A frase: “Este texto foi relido e retocado pelo interessado”, informava ao leitor que o entrevistado exerceu um controle sobre a entrevista. Ao mesmo tempo, dava ao leitor a impressão de ler uma entrevista que passou por uma censura. E quem saía perdendo era a imagem do entrevistado-censor.
Exceção à regra
No maior jornal de direita da França, Le Figaro, um jornalista atribui essa prática de permitir ao entrevistado reler sua entrevista antes da publicação à falta de coragem dos jornalistas de dizerem “não”. Na ânsia de obter uma entrevista exclusiva, com um entrevistado de peso, o jornalista acaba cedendo à exigência da leitura prévia.
No Figaro, no Parisien, no Le Monde e no Libération a regra em vigor é que a releitura não deve implicar modificação do texto. Pequenos ajustes ou correções são aceitos, mas nada que modifique o original. Entrevistados mais audaciosos chegam a sugerir a mudança de perguntas. O jornalista pode se negar a fazer qualquer modificação de fundo, baseando-se em sua fita gravada.
O jornalista Alain Beuve-Méry, do Le Monde, diz que a última palavra deve ser do jornalista. “Em último caso, ele tem o direito supremo de não publicar a entrevista.”
Mas como a situação ideal – aquela em que todos os jornais se recusassem a se submeter à leitura prévia do entrevistado – não existe, os jornalistas podem se curvar à exigência do entrevistado apenas no caso de a fonte deter “informações cruciais”.
É essa, aliás, a única exceção que Jill Abramson deixou como possível, aos jornalistas do The New York Times.
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[Leneide Duarte-Plon é jornalista, em Paris]