A 68ª Assembléia Geral da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) terminou nesta terça-feira (17) em São Paulo. Depois de cinco dias de muitos ataques dos donos e editores do principais jornais do continente às iniciativas de governos que buscam quebrar o monopólio dos meios de comunicação de massa na região, a SIP elegeu sua nova diretoria, que estará à frente da entidade por dois anos.
Apesar de não ter vindo a São Paulo, o novo presidente eleito foi o jornalista Jaime Mantilla Anderson, presidente executivo do jornal diário diario HOY, de Quito, o terceiro em circulação no Equador. Ele substitui o norte-americano Milton Coleman, ex-editor do The Washington Post, que presidiu os trabalhos da 68ª Assembléia Geral, e fez seu discurso de posse através de videoconferência.
Depois de declarar que assume a presidência “em um momento perigoso” para a imprensa na América Latina, em função de governos que “dificultam o livre trabalho jornalístico”, Mantilla explicitou sua visão sobre jornalismo livre. E finalmente tocou em um assunto evitado durante todo o evento em São Paulo: a perseguição política sofrida por Julian Assange, fundador do Wikileaks, que pediu asilo na embaixada do Equador em Londres para evitar extradição a seu país de origem, onde corre o risco de um julgamento político em função das denúncias que fez contra inúmeros governos, sobretudo o dos Estados Unidos.
Eis sua visão dos fatos: “A imprensa independente no Equador continua acossada por um governo que, da porta pra fora, anuncia sua defesa irrestrita da liberdade de expressão de um indivíduo hábil e irresponsável que conseguiu informações de maneira fradudulenta, e a distribuiu em todo o mundo, revelando manobras obscuras de embaixadas e governos, em um ato que rompe as bases do jornalismo honesto, no Equador se desrespeita totalmente o direito humano de sonhar, se espressar e compartilhar diferentes visões da realidade”, acusou Mantilla. Inexplicavelmente, o ataque do novo presidente da SIP contra Julian Assange não apareceu na cobertura de nenhum grande veículo brasileiro presente ao evento.
Empresário-jornalista
Amante de golfe, automobilismo e motociclismo, Jaime Mantilla Anderson foi condenado por injúria no final de 2011, em uma ação movida pelo presidente do Banco Central do Equador, Pedro Delgado. As artilharias do jornal, cuja linha editorial é assumidamente de direita, se intensificaram contra o Presidente Rafael Correa. Pedro Delgado é primo do Presidente. Posteriormente, ele retirou o processo.
O jornal HOY integra um grupo de comunicação equatoriano, todo dirigido por Mantilla, que possui também a HOY TV, um canal UHF; a Radio Clássica 1110 AM Digital; os jornais MetroHoy e MetroQuil (periódicos de distribuição gratuita nas cidades de Quito e Guayaquil); o tablóide Popular, especializado em esportes; e que edita e distribui no país o Miami Herald e a revista Newsweek. Ainda integram o grupo HOY a editora Edimpres, a Edisatélite, as empresas Sistemas Guía S.A. e Publiquil S.A, a Fundação HOY para a Educação, e o Explored, um arquivo digital de notícias propagandeado como “a base de dados mais completa do país”.
Para quem comanda tantos veículos num país pequeno como o Equador chega a ser curioso afirmar que a tendência de muitos governos é “uniformizar o pensamento dos cidadãos livres e eliminar as expressões contrárias”, como disse Mantilla em seu discurso virtual de posse. O empresário-jornalista lamentou ainda que os intelectuais da América Latina não tenham se posicionado – como a SIP – contra certos governos latino-americanos.
“Os intelectuais do mundo, e os da América Latina tem sido tradicionalmente os pais da defesa das liberdades. Seus pensamento guiaram muitas rebeliões contra poderes e governos ditatoriais e populistas. É lamentável descobrir que muitos desses pensamentos rebeldes ou desapareceram ou se entregaram à defesa dos atropelos dessas mesmas liberdades que antes defendiam”, discursou Mantilla.
O relatório final da Assembleia Geral da SIP concluiu o evento criticando mais uma vez os governos dos presidentes Rafael Correa, Hugo Chávez e Cristina Kirchner de “tentar silenciar o jornalismo independente” por meio de leis regulatórias, discriminação na distribuição da publicidade oficial e “uso de aparatos midiáticos estatais e privados” para “difamar jornalistas”.
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[Bia Barbosa é jornalista]