De forma absolutamente democrática, o jornal The Washington Post e a revista The New Yorker declararam, em editoriais, apoio à reeleição de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos. No entanto, na “Cidade Maravilhosa”, no primeiro grande teste após a divulgação dos “Princípios Editoriais das Organizações Globo”, nas eleições de 2012 o resultado é preocupante, pois resulta numa reprovação ao comportamento do jornal O Globo.
Apesar de constar, como um dos itens dos “Princípios Editoriais”, que “asOrganizações Globo são independentes de governos e os seus veículos devem se esforçar para assim ser percebidos”, ao longo da pré-campanha – uma bobagem inventada pela legislação eleitoral – e da campanha propriamente, o que os eleitores perceberam foi que, desde sempre, o jornal tinha um candidato, que era o atual prefeito Eduardo Paes.
Se fosse apenas uma decisão editorial explícita e não tivesse contaminado a redação, nenhum problema. Mas não foi isto o que se viu. Até a repetição de uma mesma matéria em editorias diferentes ocorreu, como no episódio em que uma forte chuva levou o prefeito Eduardo Paes, num movimento eleitoreiro, a ficar de “prontidão” no Centro de Operações Especiais da Prefeitura. Lá estavam as matérias, como cobertura à atividade eleitoral do candidato Eduardo Paes, na editoria País e, como se não fosse suficiente, também na editoria Rio.
Fechamento com “chave de ouro”
Um Centro de Operações, diga-se de passagem, em que a IBM foi contratada sem licitação, além da Facility – uma empresa envolvida em fraude a licitações, segundo matéria veiculada pelo programa Fantástico, da TV Globo. Naturalmente, esses fatos, que representaram gastos de cerca de R$ 15 milhões do erário, não se transformaram em pauta da editoria Rio.
Durante todo este ano, de forma acrítica, o jornal O Globo cobriu a administração municipal, divulgando todo e qualquer factoide elaborado pela Prefeitura do Rio e deixando de lado as graves questões que afligem a população. Por coincidência, Eduardo Paes restabeleceu a política de gastos com publicidade, que havia sido paralisada pelo ex-prefeito Cesar Maia. Por conta disto, ao longo da atual administração municipal cerca de R$ 150 milhões de dinheiro público serviram para irrigar veículos de comunicação na cidade.
Para fechar com “chave de ouro” a sua cobertura “isenta e imparcial”, o jornal O Globo analisou a execução das promessas de campanhas divulgadas pelo então candidato Eduardo Paes, em 2008. De forma subjetiva, chegou à conclusão de que 67% das propostas haviam sido cumpridas.
Pelo menos, tiveram o cuidado de não chegar aos 100%, muito embora o percentual seja bem próximo ao resultado eleitoral de Eduardo Paes, nas eleições de 2012: 64,60% dos votos.
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[Marcus Miranda é jornalista]