O jornal espanhol El País detalhou ontem em editorial as circunstâncias nas quais obteve uma foto que chegou a ser publicada na quinta-feira [24/1] em suas edições impressa e online como sendo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e provocou uma crise com o governo bolivariano. A imagem, de um homem com respirador artificial em uma mesa de operação, é de um vídeo médico desde 2008 no YouTube.
Segundo o jornal, ao negociar a foto, a agência espanhola Gtres garantiu se tratar de uma imagem obtida por uma enfermeira cubana, que teria usado sua irmã para vendê-la. A correspondente do jornal em Havana, a blogueira Yoani Sánchez – que também é colunista do Estado de S.Paulo –, não pôde verificar a autenticidade da foto, ainda de acordo com a publicação, por ser dissidente do regime dos irmãos Castro.
O editorial “A foto que o 'El País' nunca deveria ter publicado” diz ainda que o jornal ficou sabendo do erro por redes sociais no momento em que imprimia a edição. A foto foi tirada da web meia hora depois de ser publicada.
Conforme o relato do jornal espanhol, a imagem foi oferecida à redação na manhã de quarta-feira [23]. Segundo o Estado apurou, a foto foi mantida pela direção do jornal sob sigilo durante o dia. “Nem mesmo os correspondentes do jornal na Venezuela foram consultados porque se temia que a foto vazasse. Ela só foi para o site quando já não poderia ser comprada na América Latina”, disse um jornalista. O vídeo de onde a imagem foi tirada era conhecido na Venezuela havia alguns dias.
O diário afirma que buscou mais informações ao longo do dia com a agência, que pediu à direção do jornal que não divulgasse detalhes sobre a enfermeira para que ela não sofresse represálias. Segundo o jornal concorrente El Mundo, uma foto similar foi oferecida por 30 mil [euros].
Normas violadas
“El País quis deixar bem claro a seus leitores que não pôde verificar as circunstâncias nas quais a foto foi feita em razão das restrições aplicadas pelo regime cubano à informação”, diz o editorial. “A correspondente de El País na ilha, Yoani Sánchez, além disso, é uma conhecida crítica proibida de consultar fontes oficiais e tem seus movimentos vigiados.”
No texto, o jornal afirma ainda ter debatido se a imagem de um homem doente tinha valor jornalístico. A decisão pela publicação foi tomada porque se pensava que a imagem era de Chávez, cuja saúde e ausência da Venezuela se tornou de interesse público.
Na noite de quinta-feira [24/1], o ministro de Comunicações da Venezuela, Ernesto Villegas, anunciou que o governo tomaria medidas legais contra El País. O governo considerou insuficiente o pedido de desculpas do diário espanhol. “Nem sequer estenderam as desculpas ao presidente Chávez e à sua família e ao povo venezuelano”, criticou Villegas. “(O jornal) violou todas as normas do jornalismo ético e seu manual (de redação).” (EFE e AFP, colaborou Rodrigo Cavalheiro)
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