Com redações cada vez mais enxutas, os meios de comunicação encontram no freelancer a figura perfeita para suas necessidades. Aquele que produz textos por encomenda, envia propostas de pautas por e-mail aos editores e manda fotos pelo celular desde o local dos fatos terá uma plataforma global para vender seus conteúdos. Por um lado, a ausência do vínculo empregatício gera maior instabilidade na vida do profissional; por outro, a informação é veiculada sem a sombra de interesses de terceiros.
De um modo geral, a atuação do jornalista como freelancer é uma possibilidade do ofício – neste caso, vista como uma tendência. A seguir, uma entrevista com o jornalista australiano Rakhal Ebeli, de 31 anos, criador do Newsmodo, uma espécie de agência de notícias que faz a intermediação entre jornalistas freelancers e empresas de mídia jornalística.
Por que você acredita que os jornalistas se interessarão pela sua plataforma?
Rakhal Ebeli – A primeira razão para se interessar é que monetizamos o trabalho dele, ele estará vendendo seu trabalho num mercado seguro e confortável, com várias possibilidades de licença (exclusiva, extensiva). Criamos valor de conteúdo e trabalho, um modelo de abastecimento de notícias. Se você é jornalista imagino que tenha individualmente alguns clientes para vender seu trabalho. A ideia do Newsmodo é que você o venda para o mundo inteiro e para vários tipos de mídias. Queremos, ao mesmo tempo, preservar os direitos dos jornalistas e defender o que é importante para ele – aproximar os compradores de notícias aos produtores de notícias. O que vemos hoje em dia é que se você não faz algo grátis, outra pessoa o fará, perdendo a dignidade da própria matéria produzida e de toda a categoria. Nós defendemos a qualidade e o profissionalismo acima de tudo. Proximamente iniciaremos uma viagem pela Europa para apresentar a plataforma aos meios de comunicação e empresas que estejam buscando conteúdo para seus sites, ou seja, faremos o trabalho de buscar clientes por vocês.
E os meios de comunição pagarão por isso? Com tantas agências de notícia, quase tudo está coberto…
R.E. – Cada vez mais as empresas buscam informação especializada, cobrir nichos muito específicos que têm necessidade de conteúdo. E no Newsmodo elas poderão encontrar o jornalista para produzir essa informação – e em qualquer lugar do mundo. As pautas serão de conteúdo atual e os meios só poderão publicá-las se comprarem o material. Tanto os conteúdos quanto os compradores estarão protegidos por meio de acordos e licenças para preservar o jornalista e a propriedade intelectual. Os meios poderão criar “tarefas”, você pode aceitá-las e, caso eles te escolham para fazer o trabalho, dirão o quanto estão dispostos a pagar. Não acontecerá como em algumas comunidades de designers, onde quatro ou mais pessoas realizam a mesma atividade mas, no final, a empresa compra a opção mais barata. Haverá um preço mínimo para todo tipo de material comercializado.
Então os freelancerspodem substituir o jornalista?
R.E. – Com as pesquisas que fizemos, descobrimos que os meios querem produzir mais conteúdo com menos pessoas em uma redação, mas necessitam cobrir as necessidades de alguma maneira. Eles foram os responsáveis pela tendência da transição de um trabalho integral para o de freelancer. Eles querem encontrar o jornalista e aproveitar os recursos econômicos da empresa, que são cada vez menores, apesar do aumento da demanda de informação.
Qual o perfil do freelancerdo Newsmodo?
R.E. – É importante reforçar que não estamos fazendo jornalismo-cidadão; esta plataforma é para jornalistas profissionais, com experiência, que estão onde estão as notícias, com bom texto/foto/vídeo, capazes de criar laços que lhes beneficiem, contando a seu favor a frequência de atividade na plataforma. As empresas terão acesso ao perfil desse jornalista freelancer, à sua experiência, às tarefas realizadas e ao feedback de trabalhos concluídos anteriormente por meio da plataforma. A nata, naturalmente, subirá à superfície, os melhores profissionais se destacarão nesta comunidade.
De onde surgiu a ideia do Newsmodo?
R.E. – Trabalhei em televisão por 10 anos, em produção e como âncora. E observei, enquanto exercia minha função, que os cidadãos oferecem uma enorme quantidade de conteúdo. Por isso criei uma plataforma (já inativa) para que o cidadão comum pudesse colocar sua informação num só lugar, em vez de espalhar de forma irregular por meio do Facebook ou do Twitter. Tinha as fontes de notícias ali e era ao mesmo tempo uma forma fácil de encontrar as necessidades da sociedade. Isso foi em 2011. Teve sucesso, as pessoas colocavam vídeos também, e isso me ajudou a obter apoio financeiro para criar a Newsmodo. Quis aumentar as expectativas. Vi que os meios tinham dificuldade de encontrar profissionais, porque havia muito ruído na web de cidadãos – muitas coisas eram úteis, outras, alarmes falsos. Então pensei em criar um local onde ambas as audiências estivessem juntas, com notícias verdadeiras e genuínas. Somos uma equipe de profissionais programadores, jornalistas e designers de várias partes do mundo, principalmente do Reino Unido e países asiáticos.
A partir do contato com veículos de comunicação de vários lugares, você viu alguma diferença do jornalismo que se faz na Austrália com o que se faz em outros países democráticos?
R.E. – Eu nunca estive tão relacionado com a comunidade internacional quanto agora. Eu falo com pessoas de Buenos Aires a Belfast e os sentimentos são muito parecidos. O que acontece localmente está representado em nível global. Vejo oportunidades. Claro que há discussões, como a da “twittersfera”, e o fato de o jornalista confiar nas redes sociais – há muito ruído na internet, hoje. Mas os bons jornalistas permanecem, os que verificam os fatos e histórias, que continuam produzindo conteúdos e mantendo seus blogs atualizados.
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Como funciona?
Newsmodo é uma plataforma para jornalistas profissionais. Ela pretende facilitar o caminho do freelancer na hora de vender reportagens, fotos e vídeos. O profissional cria um perfil e todo o material produzido oferecido por ele por meio do site será protegido por marcas d’água e leitura de texto com limitadores de acesso.
Os meios de comunicação podem também propor pautas. Cada jornalista pode se candidatar ao frila e, após a seleção, o veículo negocia um preço para produzir o material, que pode ou não ser aceito. Haverá um preço mínimo, fixado pelo próprio site, com base em estudos de mercado de cada país.
Quanto custa?
As empresas pagarão um preço por acessar o conteúdo e ter à sua disposição jornalistas do mundo inteiro. A tabela ainda não está definida. Para criar um perfil o jornalista não terá que pagar.
Em quais idiomas posso escrever?
Inicialmente em inglês, mas a ideia é fazer a plataforma em várias línguas de outros países. Não haverá tradução de conteúdo: o que for escrito em inglês será vendido em inglês.
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Beatriz Borges é jornalista