Com a polêmica sobre se o presidente dos EUA George W. Bush, antes do dia 11/9/01, não teria dado atenção a avisos de que a al-Qaeda iria atacar dentro do país, repórteres americanos tentam pressioná-lo a pedir desculpas ou, pelo menos, admitir seu suposto erro. E, em artigo para o Washington Post [26/4/04], Howard Kurtz compara a situação de Bush com a dos editores do New York Times e do USA Today. Nos dois jornais, funcionários de alto escalão abandonaram seus cargos depois de revelado que repórteres sob sua responsabilidade inventavam e plagiavam matérias. ‘Quando organizações de notícias erram, seus executivos comumente não admitem sua culpabilidade ou não pedem desculpas aos leitores ou espectadores’, observa.
Os casos do Times e do USA Today mostram que há redações muito mais desorganizadas que certos órgãos do governo que os jornais fiscalizam. Karen Jurgensen abandonou o posto de editora do USA Today depois que as lorotas de Jack Kelley vieram à tona. No ano passado, Howell Raines deixou o comando do New York Times com a revelação de que o repórter Jayson Blair mentia e plagiava. Mas nenhum dos dois deu satisfação ao público.
Ao que tudo indica, eles não sabiam que seus repórteres agiam de má-fé. Ainda assim, foram obrigados a se demitir, pois se argumenta que sua forma de administrar a equipe favoreceria esse tipo de problema. Mas se ambos também ficaram surpresos e decepcionados com as atitudes de seus repórteres, por que suas cabeças tiveram de rolar?
Na opinião de Alex Jones, do centro de estudos de mídia Shorenstein, da Universidade de Harvard, Karen e Raines tiveram de sair para que o assunto fosse dado por encerrado. No entanto, nem sempre a solução para problemas com repórteres cascateiros foi a demissão da chefia. No antológico caso da jornalista Janet Cooke, do Washington Post, que ganhou um Pulitzer em 1980 com uma reportagem inventada, seu editor Ben Bradlee simplesmente se desculpou publicamente e continuou trabalhando.
‘Ainda que o editor não tenha qualquer responsabilidade direta pela má conduta, ele tem sim a responsabilidade de se explicar e se desculpar. Mas não entendo porque tenha de cometer haraquiri’, comenta James Naughton, ex-editor-executivo do Philadelphia Inquirer e ex-chefe do Instituto Poynter. Para Matthew Storin, que não deixou o comando do Boston Globe em 1998 quando dois de seu colunistas deixaram o diário por problemas éticos, o fato é que, às vezes, o foco de atenção do público é desviado dos ‘perpetradores’ principais – aqueles que mentem e plagiam.