O grupo Promotora de Informaciones S.A. (Prisa), que edita o jornal espanhol El País, anunciou ontem [terça, 20/1]que vai unificar as edições impressa e online do diário e refundá-lo como empresa de produção de conteúdos de qualidade a partir de 1º de março. Esse processo será feito por meio de uma reestruturação, que implicará a criação de três novas companhias. Segundo o delegado conselheiro da Prisa no jornal, Juan Luis Cebrián, a medida representa uma forma de o El País sobreviver aos desafios atuais da recessão global e simultaneamente se adaptar à revolução tecnológica do setor. Ele acrescentou que as mudanças não representarão cortes de pessoal.
– O El País vai se converter em uma empresa de produção de conteúdos de qualidade em papel, internet e celulares – disse Cebrián em reunião com empregados da redação, acrescentando que será necessário um novo modelo organizacional que pressupõe ‘uma mudança estrutural’, com a criação de três novas empresas.
A redação do El País se fundirá com a de sua edição online. Essa integração não se restringirá meramente ao plano jornalístico, mas constituirá também uma fusão de operações econômicas. Assim, será criada uma empresa de conteúdos de qualidade com a marca El País, com quase 500 funcionários.
A mudança também implicará a criação de outras duas empresas: uma delas prestará serviços administrativos, de sistemas, recursos humanos e distribuição, entre outros, para a editora do El País. A outra aglutinará a área de produção.
Universo cultural
As três empresas funcionarão na sede atual do jornal, embora em prédios distintos.
– Em cinco anos, com toda a certeza, existirão jornais impressos. Dentro de dez, se fizerem tudo certo, na melhor das hipóteses, provavelmente sim. Em 15, não estou certo de que continuarão existindo tal como os conhecemos – previu Cebrián. – Existirão se lutarmos para que existam.
O conselheiro disse que a decisão é a mais importante já tomada pela Prisa desde sua fundação. Já para o El País, a medida representa a mudança cultural mais profunda vivida pelo jornal desde o seu nascimento, em 1976. Segundo Cebrián, o setor de jornais, fundamentais como formadores de opinião pública nas sociedades democráticas, foi profundamente afetado pelas mudanças tecnológicas e a crise econômica mundial.
Com a reestruturação, o jornal, explicou ele, garante sua presença futura no processo de formação de opinião pública e de construção do universo cultural e socioeconômico na Espanha e na América Latina, onde tem uma forte influência.
– É a única forma viável para que, dentro de dez anos, (o jornal) continue existindo, e para ajudar ainda a sobrevivência do resto da imprensa escrita – afirmou o conselheiro da Prisa.
Jornal dos leitores, sempre
Ele disse que o processo ocorrerá sem demissões e permitirá que a empresa ganhe competitividade e garanta seu futuro no contexto de crise, que ‘pode tornar pequena a depressão dos anos 30’.
– A taxa de mortalidade dos jornais é altíssima. A festa acabou e todos terão que ser consequentes. A crise é conjuntural, mas também é preciso enfrentar mudanças estruturais na imprensa – disse Cebrián. – E, um jornal com a influência do El País deve ter capacidade de reflexão e não permanecer impassível, pois está em jogo o direito à informação dos leitores.
Segundo ele, é nesse contexto que o El País se refunda como empresa para oferecer conteúdos singulares e de qualidade, aproveitar o acesso aos leitores através da internet e distinguir-se diante do excesso de informações atual. Os jornais do futuro, sejam como forem, continuarão sendo, de qualquer modo, dos leitores, disse Cebrián, ao lado de outros três diretores do El País e do diretor-geral do jornal, Pedro García Guillén.