O presidente George W. Bush estaria recebendo instruções dos assessores através de um ‘ponto eletrônico’ durante o primeiro debate (30/9) ou isto foi invenção do site Salon? A saliência debaixo do terno nas costas do presidente é casual ou foi inventada por um site sensacionalista engajado na campanha contra a sua reeleição?
Quaisquer que sejam as conseqüências da denúncia (que chegou aos grandes jornais), o que importa é a constatação do nível de desconfiança em torno do presidente e da sua entourage.
Quando em 1974 o presidente Richard Nixon disse na TV ‘I’m not a crook’ (não sou um trapaceiro), tentava responder à sua própria consciência mas também aos sentimentos generalizados da sociedade americana. Não convenceu, foi obrigado a renunciar.
A Casa Branca hoje parece uma Casa Cinza tantas são as mentiras, logros e burlas que dela emanaram nos últimos quatro anos – inclusive no processo de apuração no pleito que levou o atual ocupante às suas dependências.
As justificativas para a invadir o Iraque foram tão estapafúrdias e estão de tal forma desmoralizadas que torna-se impossível não acreditar que novas maracutaias e falcatruas não estejam em gestação para garantir uma nova vitória para Bush. O tal ‘ponto-eletrônico’ seria uma delas.
Isto não deve significar que o denuncismo e o sensacionalismo da imprensa resultam sempre de uma resistência ao poder político central. O certo seria dizer quase sempre.
E não apenas nos EUA. Em ambientes democráticos (ou democratizantes) podem-se encontrar relações de causa e efeito entre ações mais autoritárias do poder político e reações menos isentas do poder midiático. É uma questão de equilíbrio, compensação.
Pressões, contrapressões e repressões são palavras parecidas e forças afins, partes de um mesmo sistema. O que se convencionou chamar de ‘clima’ é um dos vetores da sociedade de massas, principalmente em circunstâncias e locais onde os valores morais não estão suficientemente arraigados.
Insensatez e arrogância de uma parte costumam gerar insensatez e arrogância da parte contrária – os contágios são inevitáveis. Isto fica mais visível em situações de tensão. Eleições não são necessariamente tensas, mas as exacerbações tendem a multiplicar-se.
O tal ‘ponto-eletrônico’ supostamente usado por Bush no debate televisivo é um ponto que não deve ser perdido de vista. Em qualquer disputa eleitoral.