Tem jabuti no pedaço
O Ibope divulgou a primeira pesquisa de 2006 sobre as intenções de voto para a corrida presidencial. A margem de erro é de 2%. Foram ouvidos 2.002 eleitores em 143 municípios entre os dias 12 e 16 de janeiro. O registro da pesquisa no TSE é 236/2006 e o cliente é a IstoÉ. A divulgação foi feita pela TV Globo no Jornal Nacional.
Foram feitas várias simulações. Os nomes que permaneceram fixos em todos os cenários foram o do presidente Lula, da senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) e do senador Cristovam Buarque (PDT-DF). José Serra, Geraldo Alckmin, Fernando Henrique e Aécio Neves foram os tucanos testados. Anthony Garotinho, Germano Rigotto e Nelson Jobim os peemedebistas que se revezaram nas simulações.
Não foram divulgados cenários de segundo turno. O cliente informou à TV Globo que não fez estas consultas, pois não encomendou simulações para o segundo turno, e esclareceu ainda que, em virtude da mudança dos nomes testados, também não foi feita a evolução do desempenho dos candidatos.
Como especialista no assunto, estou tentado a imaginar que plantaram um jabuti na pesquisa. Achei muito estranho testarem quatro nomes tucanos e três peemedebistas.
Afinal, o processo no PSDB afunilou nos nomes de Serra e Alckmin. Não entendi testar FHC e Aécio. No PMDB, a inclusão de Jobim não tem sentido se o cliente é um veículo de comunicação.
Mas estranho, ainda, não terem sido feitas simulações de segundo turno, nem divulgarem a aprovação ou desaprovação do presidente Lula e do governo.
Geralmente pesquisas com muitas simulações são encomendadas por políticos com aspiração a mandato executivo e não são registradas para divulgação: servem para consumo interno do staff político do candidato.
As simulações divulgadas nos inclinam a este raciocínio. Quem quiser mais detalhes procure o TSE e requisite o questionário. Dessa forma, a curiosidade dos que me indagaram sobre o assunto será respondida, apesar de aí morar o perigo. (12h52 de 20/1/2006)
Tem jabuti no pedaço (2)
Ao desconfiar de que tinha algo suspeito na divulgação da pesquisa Ibope/IstoÉ, feita pela TV Globo, fi-lo porque tinha absoluta certeza de que o questionário registrado no TSE continha simulações de segundo turno e outras perguntas relacionadas a um determinado pré-candidato a presidente da República.
Os anos de estrada indicavam que a pesquisa tinha sido feita sob medida para o ex-governador Anthony Garotinho. A inclusão dos nomes de FHC e Aécio Neves serviram apenas para despistar as suspeitas; já a inclusão de Germano Rigotto e Nelson Jobim servia ao objetivo da pesquisa, que foi o de mostrar ao PMDB que o pré-candidato mais competitivo do partido é Anthony Garotinho.
Tudo teria dado certo se não tivessem omitido os resultados das simulações de segundo turno, o que causou estranheza e fez a revista Veja correr atrás do questionário registrado no TSE.
Para se preservar, o Ibope decidiu divulgar a pesquisa em seu sítio na internet, pois os resultados só estarão à disposição dos interessados no TSE na segunda-feira.
A esperteza de Garotinho e sua trupe ruiu. Ao divulgar somente o que lhes interessava, levantaram a lebre da desconfiança, apesar de a pesquisa ter sido encomendada e paga pela Editora Três para lhe dar credibilidade perante o PMDB.
Com certeza fui o primeiro a pressentir e alertar que existia um jabuti colocado na pesquisa. Fico satisfeito que, no rastro da nota postada no blog, o Ibope e a imprensa se mexeram e correram atrás do prejuízo. Mas resta saber por que a IstoÉ não divulgou a pesquisa em seu todo. (12h52 de 21/1/2006)
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Jornalista