Os jornais têm acompanhando com grande interesse a queda de braço entre autoridades do governo e o presidente da Vale, Roger Agnelli, cuja demissão foi finalmente acertada entre os principais acionistas, governo e Bradesco, e marcada para o dia 19 de abril.
Nas entrelinhas, a queda de Agnelli foi aposta de dez entre dez reportagens sobre o assunto durante as últimas semanas, mas nos artigos e editoriais fica claro que a imprensa tinha opinião formada em favor de Agnelli. No entanto, as razões expostas nos textos opinativos não permitem avançar muito no entendimento do imbroglio.
Os jornais repetem o mantra segundo o qual Agnelli contrariou o governo, ainda no mandato de Lula da Silva, quando demitiu 1300 funcionários e deu férias coletivas a outros 5500 após a eclosão da crise financeira internacional.
Argumento pífio
Na ocasião, o presidente da República chegou a divulgar que havia pessoalmente telefonado para o presidente da Vale exigindo explicações. Ele preferia anúncios de mais investimento no Brasil e mais esforço na exportação de produtos de maior valor agregado. Segundo Lula da Silva, Agnelli estava contrariando a estratégia do governo contra a crise, alimentando o pessimismo e provocando insegurança no mercado.
A demissão seria, então, uma vingança de Lula?
Após a posse de Dilma Rousseff na Presidência da República, o tema esfriou, mas as negociações entre o governo e o Bradesco não foram interrompidas. Os jornais ainda mantiveram o assunto em banho-maria, com exceção de alguns colunistas, que afirmavam ser intenção do governo criar a vaga na presidência da empresa para atender compromissos políticos. Mas esse argumento primário não foi comprado pelos editoriais.
Interesses estratégicos
Fragmentos de declarações permitem deduzir, porém, que a divergência não foi superada com o fim da crise financeira e a retomada de contratações e investimentos por parte da empresa.
A questão que parece ter levado ao desfecho anunciado pelos jornais se refere ao papel que o governo imagina para a Vale. Em dez anos na direção da antiga estatal, Agnelli produziu grandes lucros e levou a empresa a um posicionamento de destaque no setor, mas há quem entenda que ele priorizou resultados de curto prazo e tornou a Vale vulnerável a mudanças no mercado internacional, principalmente à decisão da China de jogar pesado no setor de minérios.
O dilema por trás da questão seria, então, beneficiar o acionista ou dar preferência aos interesses estratégicos do país. Quais seriam esses interesses? O noticiário não esclarece. Mas o mercado, que já lidava com a informação da demissão do superexecutivo desde a semana passada, não deu sinais de abalo.
Observatório
na TVUma das grandes questões que a imprensa discute após a catástrofe no Japão tem sido a segurança da geração nuclear de energia. Alguns articulistas defendem a energia nuclear dizendo que um terremoto na região de grandes hidrelétricas teria produzido ainda mais mortes.
Essa e outras questões povoam jornais e revistas, mas as análises ainda são parciais e não se atacam os pontos centrais. Omite-se, por exemplo, que o vazamento de combustível nuclear pode impossibilitar a vida em vastas regiões do planeta muito além do local do acidente.
Qual a dimensão dessa possibilidade, no caso do desastre no Japão? Diante disso, a energia nuclear pode ser considerada limpa?
Alberto Dines:
A mídia internacional não está querendo ou não está sabendo dar a real dimensão ao vazamento radioativo no complexo nuclear de Fukushima. Apoiados majoritariamente no teor e no espírito do noticiário da rede japonesa NHK, os meios de comunicação, inclusive os nacionais, estão adotando um diapasão minimalista.
As razões são óbvias: a NHK dirige-se ao público japonês já muito estressado pelo pavoroso terremoto e catastrófico tsunami, razão pela qual procura evitar o pânico e promover o caos. Isto é bom ou ruim? Decida você mesmo hoje, no Observatório da Imprensa, às 22h, ao vivo, em rede nacional pela TV Brasil. Em São Paulo pela NET canal 4 e 181 da TVA.