Os jornalistas da NBC News devem ter ficado contentes com o ‘furo’. Em geral, um furo é buscado por todo profissional do jornalismo convencional (no jornalismo-cidadão, o conceito de furo e informação factual ainda não foi bem definido). O repórter vai atrás da notícia e a consegue, antes de todos, por mérito próprio ou sorte. Neste caso, o furo chegou à emissora norte-americana pelo correio, em um pacote com 29 fotos, 27 pequenos vídeos e um texto de 1.800 palavras paranóicas. A NBC News recebeu um perfil multimídia de um jovem assassino mentalmente enfermo. Não tenho mais informações, mas creio que a NBC foi a primeira emissora no mundo a receber um ‘presente’ tão curioso, postado pelo próprio assunto.
Um dos vídeos de Cho está no sítio da CNN. Em menos de uma semana, pelo menos alguns dos outros 27 podem estar no YouTube. Eles possuem curtas durações, são perfeitos para a internet. Bem como o vídeo de Saddam Hussein sendo enforcado. Tudo bem, o vídeo de Saddam é mais chocante porque apresenta a morte chegando violenta ao pescoço do ex-ditador, mas isso não torna menos curiosos os 27 de Cho. Teríamos, na web, pequenas confissões da mente planejadora do maior massacre estudantil da história dos EUA. Não deixa de ser menos mórbido do que no caso explícito de Saddam. Tendo a mídia consciência disso ou não, os dois casos são registros históricos importantes, preservados digitalmente. Reflexo da pós-modernidade, alguns dizem.
Sobrevida online
Alguns sítios de cinema até compararam as poses de Cho nas fotos enviadas ao filme Oldboy, de 2004, também coreano. O garoto se insere, aos poucos, no contexto sócio-cultural da modernidade. Seja como for, Cho mostrou-se um assassino condizente com o seu tempo.
Ao fim do massacre, o garoto atirou no próprio rosto. Não para ficar irreconhecível. Provavelmente sabia que o rosto continuaria a viver, online.
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Jornalista da Fundação Biblioteca Nacional