Se não fosse pelo noticiário dos veículos de imprensa nacionais, a população brasiliense teria passado o último final de semana sem entender a gravidade das acusações que constam no inquérito do Superior Tribunal de Justiça contra o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, secretários e parlamentares. Particularmente, os jornais Correio Braziliense e o Jornal de Brasília comportam-se como assessores de imprensa do governo. As manchetes dos diários são discretas. O Correio, quem diria, de tanta história de referência para o jornalismo nacional, estampou ‘GDF prepara respostas para denúncias de operação da PF’. Duas siglas no mesmo título e quase nada de informação relevante a não ser especulações. Nenhuma palavra sobre o silêncio do mesmo homem que assumiu, chorando, que mentiu em pleno Plenário da Câmara (lembram-se?!).
Não é de hoje que Deus e o mundo têm ciência que a imprensa local não pode escrever um lide contra o governo sob pena de perder os recursos para se manter, da publicidade oficial. O problema é que a economia de Brasília, baseada em serviços para atender os funcionários públicos, não cresceu a ponto da imprensa poder quebrar as correntes de dependência do dinheiro que sai do cofre do Pai Arruda. Antes, era o Pai Roriz. Ambos conhecidos nas redações por ligarem pessoalmente para os diretores e pedir a cabeça desse ou daquele jornalista. O último fio de sobrevivência foi até os tempos de Ricardo Noblat no Correio Braziliense. Perdeu a guerra. O governo Roriz venceu. Desde então, permanece a censura de conteúdo. Ler um desses diários ou o boletim do governo tem a mesma validade.
Prática não é nova
Nada sobre as transcrições de gravações feitas com autorização judicial em que Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais, e o próprio Arruda (DEM) dividem dinheiro para ser repartido entre membros do primeiro escalão do governo e para deputados da base aliada. O vice-governador, Paulo Octávio, também é citado nas transcrições. Mas nem pensar em falar de Paulo Octávio – além de vice, é empresário de vários setores em Brasília, incluindo a construção civil, a segunda maior renda para os veículos.
Arruda manteve-se em silêncio e conta com apoio da imprensa local para não incomodá-lo na residência oficial. O DEM, partido do governador, já exigiu que ele se explique. Já sai do Palácio do Buriti que a questão não é simples assim. E que a prática do mensalão para aliados vem desde o governo Roriz. Arruda e Roriz são (eram) os dois principais candidatos à eleição do ano que vem. Os jornais já devem estar com a pulga atrás da orelha: ‘Quem vai agora me sustentar?’. Deve ser melhor para eles o tempo da censura. Isso comprova que a crise não está apenas no Buriti.
******
Jornalista