Este era o nome do jornal que Tenório Cavalcanti (1906-87), deputado, homem da capa preta e pistoleiro nas horas vagas, publicou durante vários anos. Sua peça de resistência era o crime em geral; dizia-se que ao se espremer o jornal, jorrava sangue de suas páginas. Além disso, era famoso por suas manchetes, inclusive esta, sobre um casamento em Duque de Caxias (RJ), feudo do próprio Tenório: “Pau comeu na noite de núpcias”.
Ainda há por aí jornais que se dedicam ao crime, pois há uma espécie de convicção segundo a qual o sangue vende mais do que o esporte e tudo o mais. A verdade é que os jornais sérios, comprometidos com valores mais altos, dedicam ao crime o peso que merece, mas não ao ponto de jorrar sangue de suas páginas. Pergunto: se espremermos os jornais de hoje, o que jorrará de suas páginas? Acredito que será a corrupção e sua consequência mais visível: o escândalo.
Tramoia futura
No jornal de Tenório, não se inventava nada, os crimes aconteciam com a regularidade dos cometas e dos eclipses. Não havia espaço para as fontes, para os dossiês. A adúltera assassinada pelo marido era adúltera mesmo, o marido era, de fato, ébrio contumaz. Com a corrupção, com o escândalo político e econômico, não há tal e tamanha transparência, tudo se dilui, tudo entra em desconstrução, editorialistas e colunistas se esbofam cobrando punições ou reparações, todos cultivam suas fontes capazes de ampliar ou minimizar o problema.
Tirante a previsão do tempo e a cotação do dólar, o que jorra da maioria de suas páginas são as agruras dos partidos, dos cargos, das verbas, dos documentos que confirmam ou negam uma tramoia passada. Ou uma tramoia futura, em gestação nos complicados escaninhos da vida pública nacional.
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[Carlos Heitor Cony é jornalista, escritor e colunista da Folha de S.Paulo]