Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Estrela Serrano

‘Como os leitores estarão lembrados, a coluna da provedora da passada segunda-feira analisava um trabalho do DN sobre o novo abono de família, no qual o ministro Bagão Félix era caricaturado de Pinóquio. Nessa coluna, depois das explicações da jornalista sobre o texto de que era autora, a provedora afirmava que ‘as questões suscitadas não abrangiam, apenas, o conteúdo formal’ do texto, uma vez que este não podia ‘ser separado da caricatura a que estava associado’, da qual a jornalista não era responsável. Mais adiante, a provedora afirmava que ‘é a hierarquia do jornal que decide títulos, ilustrações (…), sendo esses elementos que, quase sempre, conferem às notícias um determinado tom’ e acrescentava que ‘na maioria dos casos, a versão final do que é publicado escapa aos autores das notícias, o que, muitas vezes, é motivo de forte polémica no seio da Redacção, só raramente chegando ao conhecimento do público’.

A direcção do jornal reagiu a esta última frase, através de uma ‘Nota’ publicada nesse mesmo dia, informando que ‘essa prática não se aplica neste jornal’ e se a provedora ‘tem conhecimento de eventuais situações que a levaram a escrever tal afirmação, em nome do rigor que reclama para os jornalistas, deveria especificar casos concretos e não torná-los públicos de uma forma vaga’.

O Conselho de Redacção (CR) dirigiu-se, por sua vez, à provedora, afirmando que ‘ficou surpreendido’ ao ler essa frase e acrescenta que ‘tendo em conta que esta afirmação descredibiliza o trabalho de todos os jornalistas do DN, assim como o das suas chefias’, solicita à provedora que ‘esclareça quais os ‘casos’ em que se fundamenta e dos quais não tem conhecimento’. O CR invoca ‘competências relacionadas com o efectivo exercício da profissão’ que a lei e o seu estatuto lhe atribuem.

Vejamos, por partes: ao folhearem o DN, nesse dia, os leitores ter-se-ão surpreendido ao serem confrontados com a situação insólita de encontrarem, na página 8, uma Nota da Direcção sobre a coluna da provedora que era publicada na página 11.

Por outro lado, a direcção foi, na altura, solicitada a pronunciar-se sobre a peça em questão, nomeadamente sobre o facto de o ministro ser ‘chamado mentiroso’, tendo, contudo, preferido manter silêncio.

Quanto à substância da matéria, em primeiro lugar, a análise baseou-se no princípio de que um trabalho jornalístico não é lido apenas em função de um dos seus elementos – o texto –, mas do conjunto formado por antetítulo, título, pós-título, texto de 1.ª página e imagens, que o enquadram e lhe dão sentido, os quais constituem a sua ‘versão final’ e cuja responsabilidade não cabe, em geral, aos redactores. O caso em análise constituía um exemplo de como um desses elementos – a caricatura – conferiu à ‘versão final’ um tom ofensivo para o visado na notícia, a que a jornalista era alheia. Era esse o sentido da frase como, aliás, decorre da leitura integral da coluna. Em nenhuma parte se encontra qualquer afirmação que ‘descredibilize’ o ‘trabalho de todos os jornalistas do DN ou das suas chefias’.

Em segundo lugar, a afirmação não possui qualquer originalidade. A direcção e o CR poderão encontrar ‘casos concretos’, de natureza semelhante, em colunas dos dois anteriores provedores do jornal, publicadas em livro, donde constam depoimentos de jornalistas do DN que assumiram, abertamente, discordância com decisões tomadas pelas chefias, relativamente à maneira como trabalhos de sua autoria foram apresentados aos leitores.

Em terceiro lugar, sem desejar entrar em detalhes, por o caso não se inserir no âmbito das suas funções, e não desconhecendo que a direcção do jornal foi, parcialmente, renovada há poucos meses e que também o actual Conselho de Redacção (CR) se encontra em funções há pouco tempo, a provedora estranha, contudo, que ambos desconheçam o parecer emitido pelo anterior CR em 3/12/03, sobre a queixa de um jornalista motivada por um texto seu ter sido alterado sem o seu conhecimento e publicado com o seu nome. Nesse parecer, o superior hierárquico do jornalista, ouvido pelo CR, afirma que ‘o procedimento de alterar textos de redactores era também regra de editores anteriores da secção’. Nas ‘recomendações’ formuladas pelo CR, a propósito desse caso, pode ler-se que ‘os editores do DN tenham sempre presente a necessidade de articular a eficácia das operações diárias do fecho do jornal com o princípio do respeito da autoria dos textos assinados pelos jornalistas’ e que estes ‘tenham sempre acesso aos seus textos depois da intervenção dos editores’. Citando outro caso ocorrido no DN, em 1980, de alteração de um título, o CR recorda que ‘casos como estes, repetidos ao longo dos anos na generalidade das redacções, justificaram uma recomendação do Conselho Deontológico dos Jornalistas’, em Setembro de 1997.

A provedora quer, contudo, deixar claro que não existe qualquer relação entre estes casos e a sua coluna da semana passada. Caso contrário, tê-lo-ia explicitado, como sempre faz – ‘em nome do rigor’.

Bloco-Notas

Leitores em discurso directo – Rosa Maria do Ó Caeiro: ‘Desde há quatro semanas que, na página inteira de publicidade de The Closet Factory (DN Classificados) se deixa repetir o mesmo erro de português, sem que ninguém se digne corrigir a maqueta inicial da composição da página. Insiste-se no erro, lamentável e imperdoável (‘Ao inaugurar-mos…’), deixando uma imagem de negligência e ignorância que se não coaduna com o DN a que estamos habituados. A responsabilidade do DN perante os seus leitores é enorme, tão grande quanto o universo de portugueses a que se dirige. (…) Como leitora do DN desde há mais de 40 anos, fico triste perante esta ausência de correcções, que se impunham de imediato.’

Muro israelita – José Alexandre Brito: ‘Escrevo-lhe este simples mail para lhe dar conta do seguinte: na edição de 29/2 (página 20) vêm duas opiniões sobre a questão do muro israelita, a opinião israelita e a opinião palestiniana. Até aqui tudo bem. Porém, na edição online verifico que só a posição israelita é editada. Porquê? Penso que terá de haver um pouco mais de rigor aquando da transposição do papel para o online, pois outras situações algo semelhantes, com assuntos diferentes, têm acontecido.’

Falta de rigor – Carlos Ferreira: ‘Mais uma vez, notei falta de rigor jornalístico no DN, quando se refere que os centros de saúde viram 22,5 milhões de utentes em 2003, quando Portugal tem apenas dez milhões, havendo muitos milhares que nem sequer vão aos centros de saúde.’ (Na edição consultada, a provedora não encontrou, contudo, essa frase, mas outra, ao alto da página 21, que dizia ‘22,5 milhões de adultos foram atendidos em 2002 pelos seis mil clínicos gerais existentes no País’, à qual se aplica, igualmente, o comentário do leitor).

Mais atenção – José Raimundo Correia de Almeida: ‘Sobre a notícia relativa a tráfico de órgãos em Moçambique, publicada em 27/2/04, com o título Freira que fez as denúncias assassinada em Nampula, não foi a freira que fez as denúncias que foi assassinada em Nampula.’

O verbo intervir (Novamente) – José Raimundo Correia de Almeida: ‘Escreve-se, na pág. 23 do DN, de 12/4/04 (antetítulo ‘Espanha e título Uma mulher assassinada por semana): ‘A estatística podia ter sido muito pior, caso a polícia espanhola não tivesse ‘intervido’; a tempo (…)’.’ Posso admitir a Fernando Barciela, que é correspondente em Madrid, mas já não admito que a revisão não tenha notado o erro. Não tivesse ‘intervindo’ é o modo de conjugação correcto. O DN é um jornal de referência. O que fazer?’

Cartas não publicadas – Mikel Goikoetxea (Salamanca): ‘Não posso deixar de lamentar profundamente, que as minhas cartas – assim como as de vários outros leitores (e eu sei que isso acontece) – nunca sejam publicadas: será que o teor dessas cartas não interessa ao vosso jornal, pois não se coadunam com o status quo?’’