O grupo separatista basco ETA pode não ter sido o responsável pelas explosões em trens de Madri em 11 de março, mas os ataques são um sangrento lembrete de que o grupo é responsável por uma forma ímpar e perigosa de terrorismo: investidas contra a grande imprensa espanhola. O ETA já tentou assassinar dúzias de jornalistas, matando dois deles. Só Luis del Olmo já sofreu oito tentativas de ser assassinado.
Cerca de 100 jornalistas andam com guarda-costas e vários fugiram do país Basco após os ataques. Os principais jornais tomam medidas de segurança semelhantes às de aeroportos, com detectores de metal e seguranças nas portas. Jornalistas e seus guarda-costas têm aulas para aprender a dirigir fugindo de uma tentativa de assassinato. Freqüentemente, verificam se há bombas embaixo de seus carros, mudam itinerários e horários para não ser alvos previsíveis, vigiam as redondezas de suas casas e aprendem métodos de autodefesa.
De acordo com Eleanor Stables [The International Herald Tribune, 5/4/04], os terroristas asfixiam a liberdade de imprensa ao amedrontar jornalistas em relação a suas críticas ao ETA. E hoje, mais que nunca, a Espanha precisa de jornalistas que analisem causas e efeitos do terrorismo e informem o público sem tendenciosidade ou intimidação. Os próprios profissionais reconhecem que a tática do grupo basco tem impacto sobre a imprensa espanhola, embora ainda haja jornalistas militantemente opostos ao ETA. Mas os terroristas conseguem, afinal, limitar o diálogo e tornar necessária a descoberta de uma solução política para as exigências de independência basca.
Andoni Ortuzar, diretor-geral da rádio e TV pública basca EITB, disse que os terroristas querem promover a autocensura jornalística por meio de intimidação. Muitos jornalistas afirmam que no dia em que deixarem de escrever algo por medo, está na hora de desistir, mas a maioria reconhece que o terrorismo afeta o trabalho. De acordo com uma pesquisa da Universidade do País Basco, 74% dos jornalistas bascos acham que trabalhar na região é diferente de trabalhar em qualquer outro lugar.
Os ataques a jornalistas estão funcionando ‘menos do que o ETA gostaria, mas mais que o ideal’, disse a jornalista basca Carmen Gurruchaga, que deixou sua terra natal em 1997 após o ETA bombardear seu apartamento, no qual seus dois filhos pequenos dormiam. As ameaças levaram muitos colunistas a não assinarem seus artigos e outros repórteres a desistir de cobrir política.
Apesar dos problemas, os jornalistas não foram silenciados. Em maio de 2001, o repórter Gorka Landáburu perdeu o polegar, as extremidades de vários dedos e a visão de um olho quando o ETA lhe enviou uma carta-bomba. Seu rosto e estômago também foram mutilados. ‘Cortaram meus dedos, mas não minha língua e não vão me silenciar’, disse Landáburu.