O anúncio do acordo para votar o plano de salvamento do sistema financeiro americano deve excitar as bolsas mundiais. Se a Câmara dos Representantes aprová-lo no fim da tarde e o Senado referendá-lo na quarta-feira, a excitação corre o risco de transformar-se em euforia. E nesta possível euforia é que reside o perigo.
Em primeiro lugar, porque este salvamento não reverteu o naufrágio do sistema financeiro mundial, apenas o interrompeu. Em segundo lugar, porque ultimamente tudo o que tem acontecido de ruim na economia americana, e em seguida na mundial, origina-se numa exuberância que nada tem de irracional, é puramente especulativa: os que perderam querem diminuir o prejuízo, os que ganharam querem ganhar um pouco mais.
Quem fabrica as euforias é a imprensa. Não apenas através da vibração obtida com o abuso de verbos fortes, impactantes, mas sobretudo através de um olhar acrítico.
Em nenhum manual de jornalismo está escrito que os profissionais de imprensa têm a obrigação de acompanhar ou acionar os delírios otimistas. Ao contrário: na condição de fiscal a serviço da sociedade, cabe à mídia assumir uma posição ostensivamente crítica, cética, contrária aos arrebatamentos, prudente.
A imprensa pode até especular – no sentido de conjecturar – mas não tem o direito de estimular a especulação financeira. Boas notícias tornam mais felizes os leitores, ouvintes e telespectadores, mas esta felicidade não pode ser confundida com falácia.
Anunciantes gostam do clima otimista, obviamente, porque este otimismo estimula as vendas e aumenta o faturamento publicitário. A função dos meios de comunicação, porém, não é a de servir como promotora de vendas, seu compromisso é com a difusão do bom senso.
Vender ilusões na beira do abismo pode render alguns dividendos, mas geralmente acaba com a credibilidade daqueles que não quiseram ou não souberam emitir os sinais corretos no momento apropriado.