Desde a ocupação de Gaza pelo Hamas, em junho, está cada vez mais acirrada a disputa, entre as duas facções que dirigiam a Autoridade Palestina, pela conquista da opinião pública, noticiam Karin Laub [AP, 11/8/07] e Ibrahim Barzak [AP, 13/8/07]. Emissoras de TV ligadas ao Fatah e ao Hamas deram início a uma campanha de propaganda sem fim, onde o objetivo final parece ser sujar o máximo possível a imagem do grupo rival.
Mesmo com pesquisas indicando que, após meses de conflitos sem descanso, os palestinos estão cada vez mais desiludidos com seus dois principais partidos políticos, a opinião pública ainda é de grande importância. ‘A opinião pública colocou o Hamas no poder e pode trazer o Fatah de volta’, diz o analista palestino Ghassan Khatib.
Recentemente, dois vídeos foram incessantemente divulgados na emissora estatal Palestinian TV, leal ao Fatah. Um mostrava milícias do Hamas espancando convidados que cantavam músicas do Fatah – em homenagem ao presidente Mahmoud Abbas e a seu antecessor, o falecido Yasser Arafat – em uma festa de noivado; o outro exibia imagens do primeiro-ministro deposto do Hamas, Ismail Haniyeh, acusando as forças do Fatah de torturar um ativista do Hamas até a morte. Posteriormente, o ‘morto’ aparecia na TV, declarando que não havia sido maltratado. No caso da falsa acusação de morte, o Hamas pode ter caído em uma armação do serviço de inteligência de aliados do Fatah.
Troca de acusações
O cinegrafista de uma agência de notícias local que registrou as agressões da festa de noivado foi preso e interrogado pelo Hamas. Segundo a facção, a delegacia próxima ao local da festa havia sido alvejada por tiros – supostamente vindos da comemoração – e por isso os militantes reagiram. ‘Não prendemos ninguém por conta de afiliação política. Os quatro homens foram presos por terem cometido crimes’, dizia a declaração da Força Executiva. O Fatah alega que não foram quatro, mas sim 15 homens presos.
Já o vídeo do ‘morto’ dizia respeito a Muayad Bani Odeh, partidário do Hamas na Cisjordânia, preso pelo serviço de inteligência do presidente Abbas no mês passado. Depois da tomada de Gaza pelo Hamas, o Fatah formou um governo moderado na Cisjordânia. Segundo afirmaram a família de Odeh e o legislador independente Khaleda Jarrar, a agência de inteligência lhes informou que o prisioneiro estava em um hospital israelense, em sérias condições de saúde.
Após consultar o chefe da inteligência, Tawfiq Tirawi, Jarrar recebeu a notícia de que Odeh estava clinicamente morto. A informação chegou até Haniyeh, do Hamas, que, em discurso acusou as forças do Fatah de torturar e perseguir afiliados do partido na Cisjordânia. ‘O mais recente foi Muayad Bani Odeh, filho do Islã, torturado até a morte’, afirmou.
A notícia da morte de Odeh gerou protestos. Dois dias depois, a Palestinian TV divulgou as imagens do homem, que confessava ter ajudado Israel. Sentado em uma cama e recebendo medicamentos, ele afirmava ter fornecido informações que levaram ao assassinato de cinco fugitivos, incluindo três do Hamas, por tropas israelenses, na cidade de Tamoun, em 2003. No dia seguinte, Odeh conversou com repórteres em Nablus, e repetiu as declarações. Sua família, no entanto, acredita que ele foi forçado a fazê-las.