‘Eu não sei mais onde estão a verdade e a mentira dessa reportagem. Não sei de onde tirei essas coisas, se foi da imprensa, da minha cabeça, de ouvir…’ (Silvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, dizendo à CPI dos Bingos não saber distinguir o que é ‘fato, fantasia ou ficção’ na entrevista que deu ao jornal O Globo; Folha, 12/5).
A ponto de não mais distinguir o que é fato, fantasia ou ficção, o ex-secretário-geral do PT revela-nos de modo emblemático e desconcertante o jogo do poder que se desenrola no palco midiático – cheio de ressentimento e cinismo voltou à cena com a explosiva entrevista dada ao jornal O Globo, mas à CPI não acrescentou nada de novo senão a desfaçatez e a confusão entre realidade e fantasia.
Realidade
O que é a verdade, afinal? Tudo parece relativizado – e em tal contexto perdem-se os parâmetros da ética e do bom senso. Se o ex-secretário-geral do PT tornou-se persona non grata, perdendo os canais de comunicação com o partido, parece ter encontrado na imprensa um meio de reatá-los ou pelo menos sinalizar que não merece tal castigo. Os interesses são muitos – e escusos pelo visto.
Não se pode acusar a imprensa de ingenuidade – também tem seus interesses em jogo, além da capacidade de manipular informações, num verdadeiro embate de discursos e forças. Não deve correr o risco porém de se deixar iludir com os prestidigitadores de plantão – nem se deixar seduzir pela espetacularização, perdendo o que teria de mais importante a oferecer: a credibilidade. Para que não venham depois acusá-la de misturar fato e ficção – tornando-se ela própria uma fantasia.
Os tempos atuais são obscuros, próprios de uma ficção nebulosa e sem qualquer caráter dignificante – mas a realidade ainda parece sobrepujá-la.
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Funcionário público, Jaú, SP