Parte da imprensa e a oposição passaram as últimas semanas hostilizando (com razão) o governo pela quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. A imprensa, que adora cunhar neologismos que facilitem o entendimento do assunto e a criação de manchetes, tentou embalar o paloccigate – analogia ao caso Watergate, com o arrombamento do escritório do Partido Democrata, nos Estados Unidos, estopim de uma crise que resultou na queda, anos depois, do presidente Richard Nixon. E não é que o PSDB talvez tenha copiado, mais fielmente que o PT o caso americano?
A denúncia foi ignorada pela Folha de S. Paulo, mas não passou batida no Globo. Ainda que timidamente, nos últimos três parágrafos de matéria secundária, o jornal carioca noticiou o estranho arrombamento do escritório político do corregedor da Assembléia Legislativa de São Paulo, Romeu Tuma Junior (PMDB), ocorrido no fim de semana anterior. Tuma Junior é autor das duas representações que geraram as investigações, pelo Ministério Público, ao ex-governador e à ex-primeira dama, Lu Alckmin, e pediu a abertura de uma CPI para apurar as nebulosas propagandas do governo tucano de São Paulo.
Braço clandestino?
Do local foram furtados vários documentos relativos às investigações sobre as denúncias contra Alckmin. Coincidência? Atenção para o detalhe: segundo a polícia, nos últimos cinco anos só foram registrados dois casos de furto na rua do escritório. Esse e um outro caso de arrombamento, na mesma sala, ano passado, após Tuma Junior abrir sindicância para apurar possível venda de votos de deputados nas eleições da Mesa Diretora. ‘Não quero ser leviano, mas é muito estranho isso acontecer após eu denunciar a corrupção na Nossa Caixa e apurar a eventual relação promíscua entre o Executivo e o Legislativo. Querem me intimidar, mas não vão conseguir’, disse o corregedor ao jornal.
Há algo de podre em São Paulo. E parece haver algo de podre na mídia brasileira, que deu, até agora, quase nenhum destaque ao caso. Por que a mídia se cala nessa acusação? E o Ministério Público, a polícia? Não vão investigar o caso? Será que Alckmin, além de engavetar quase 70 CPIs contra seu governo, teria o seu braço clandestino que age na ilegalidade para preservar seus interesses? São suspeitas gravíssimas que precisam ser investigadas num país que se diz um Estado Democrático de Direito. Para o nosso bem.
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Jornalista, São Paulo