Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Filme que enfureceu judeus afrouxa censura árabe

Graças ao alvoroço que Mel Gibson, com A Paixão de Cristo, causou nos círculos judeus, o filme está despertando o interesse do público islâmico e desprezando tabus do mundo árabe. Críticos de cinema disseram que as reclamações dos judeus sobre o filme parecem ter estimulado os governos conservadores árabes a quebrar as rígidas regras de censura e permitir que A Paixão seja exibido sem cortes. Alfred Mutua, diretor de cinema de Dubai e professor universitário, diz que ‘qualquer coisa criticada pelos judeus vira interessante nesta parte do mundo e vende fácil’.

De acordo com Miral Fahmy [Reuters, 6/4/04], as minorias cristãs do Egito e do Líbano ajudaram o filme a virar um sucesso de bilheteria, mas religiosos árabes também estão indo em massa ao cinema, enquanto clérigos muçulmanos permanecem surpreendentemente acríticos. O Islamismo proíbe a exibição de carne e sangue de figuras sagradas, sejam muçulmanas, judaicas ou católicas, bem como afirma que Jesus não foi crucificado e nem é o filho de Deus. O poderoso clérigo da região supervisiona o trabalho dos governos na censura de livros e artes tidos como blasfemos.

Apesar das restrições, apenas Kuwait e Bahrain baniram A Paixão. No Egito, Catar, Síria, Líbano, Jordânia e Emirados Árabes Unidos, o filme quebrou recordes de bilheteria, de acordo com seu distribuidor. Até na Arábia Saudita, onde não há cinemas, jornais da capital Riad noticiaram que cópias piratas do filme estavam sendo vendidas rapidamente.

No Kuwait, o xiita muçulmano aiatolá Mohammad Baqer al-Mohri estimulou o governo a retirar a censura ao filme afirmando que expõe o papel dos judeus na morte de Jesus. A maior parte dos funcionários dos governos árabes nega que haja relação entre política e a permissão de exibição de A Paixão. Analistas, porém, afirmam que o filme não teria sido permitido no mundo árabe se o conflito entre israelenses e palestinos não estivesse tão inflamado.