Bem-vindos ao Observatório da Imprensa. Não doeu, foi bom para todos, produziu manchetes em todos os jornais e por isso mesmo não se entende por que razão o governo demorou tanto para autorizar um encontro do presidente com os jornalistas. A imprensa não morde, no máximo incomoda e incomoda mais aqueles que procuram mantê-la a distância.
A entrevista do presidente Lula ao Roda Viva, ontem [segunda-feira 7/11], pode marcar uma reviravolta nas relações do governo com a imprensa. Ficou evidente que alguns discursos por dia, cinco vezes por semana, conseguem menos, muito menos do que uma conversa franca de duas horas com seis jornalistas.
Uma crise mais desastrosa
Além da crise política existem outras crises e algumas destas crises podem ser mais explosivas e muito mais desastrosas do que o mensalão ou o caixa dois. A violência e o narcotráfico estão nas primeiras páginas, mas tanto a violência como o narcotráfico são erupções de um gigantesco vulcão pronto a explodir.
Está longe o tempo em que as favelas pareciam pitorescas, território do samba e da malandragem inofensiva. Favela hoje significa uma dramática divisão do país, de norte a sul. A favela não é obra do acaso, é obra do descaso. Favela é o nome de um estado cuja principal característica é o absoluto desprezo por políticas de habitação e de transporte público.
Quando vemos os subúrbios das grandes cidades francesas varridos pelo ódio pode-se entender como é frágil, como é distante o antigo ideal liberdade-fraternidade-igualdade. Estamos longe de uma explosão semelhante, mas convém lembrar que a França sempre funcionou como exemplo, como inspiração e também como advertência.