ESTRELA
Ruy Castro
Enxurrada de amor
‘RIO DE JANEIRO – Ontem, de manhã. Zico chega ao Maracanã para uma entrevista de TV. Vem dirigindo o próprio carro. Ele mesmo o estaciona, sai e acena para a equipe e para o outro convidado. É reconhecido e interceptado por um grupo de alemães em visita ao estádio. Posa sorrindo para fotos com todos e com cada um. Depois, autografa bolas, camisas, papeluchos.
Reunimo-nos e seguimos pelo hall dos elevadores. Há um exército de gente varrendo o chão, instalando cabos, colando painéis. Largam o que estão fazendo e vão posar com ele e pedir-lhe autógrafos. Zico atende a todos. De repente, ouve-se: ‘Zico! Zico! Zico!’. São 20 ou 30 escolares, muitos com a camisa do Flamengo, sentados no chão do hall com a professora. Zico, que acabou de ser avô, aproxima-se feliz, senta-se no meio delas e é vastamente fotografado.
Subimos para as tribunas, no 6º andar, onde será a gravação. Ao abrir-se a porta do elevador, o anel surge à nossa frente -um panorama que ele já viu mil vezes lá de baixo, do nível do gramado. Mas não consegue deixar de exclamar: ‘Que bonito!’. É dia de semana, e o Maraca está vazio, mas quase podemos ouvir o eco das 180 mil vozes que, nos anos 70 e 80, gritaram tantas vezes o seu nome. Ali ainda é a sua casa -ele, que fez gols e ganhou títulos, pelo Flamengo e pelo Brasil, nos cinco continentes.
O pessoal da TV, habituado a esnobar os astros da novela, rende-se a Zico. Abraçam-no, contam-lhe o que ele representou em suas vidas e como lhe são gratos por tanta coisa. Já me disseram que esse banho de afeto, essa enxurrada de amor, se repete pelo dia inteiro -no Rio, onde mora, no Japão, onde trabalhou, na Turquia, onde trabalha, e aonde quer que vá.
E -posso garantir, porque já vi- Zico ouve cada declaração dessas como se fosse a primeira vez.’
GRAU DE INVESTIMENTO
Nota cinco
‘NÃO SÃO muitos os que sabem explicar exatamente o que é o ‘grau de investimento’, a grande notícia desta semana. Mas a idéia geral é simples, como as certificações de qualidade, começando por ISO e seguidas por um número, geralmente aplicadas para produtos industriais.
É claro que um consumidor indefeso, diante de um ferro de passar roupa ISO 9.000, pode ficar impressionado com o selo, mas vai ficar indeciso diante de outro produto com um selo ISO 8.000, de outra cor e mais caro.
Quando se trata da certificação da qualidade do crédito de um país, ou mais precisamente do risco soberano, o que se pode dizer de forma muito simples sobre as escalas é que, como as notas no colégio, vão de zero a dez, em intervalos de meio ponto. E, também como no ginásio, as notas iguais ou maiores que cinco são designadas como ‘grau de investimento’.
Para duas das três principais agências certificadoras ou classificadoras de crédito no mundo, o Brasil é nota cinco. Para a terceira, a Moody’s, estamos ainda com um esforçado quatro e meio.
Há muito significado na nota cinco, que é a mínima exigida em muitos estatutos de investidores institucionais, de modo que ganhar um cinco é semelhante a passar de ano, motivo de festa para um país que esteve em estado crônico de reprovação há décadas. Todavia, o alívio deve ser comedido, pois, na realidade, o menino passou raspando, e a nota não é boa e está muito abaixo do potencial de aprendizado da criança.
Por isso mesmo os pais não devem pensar que a vida ficou mais fácil, pelo contrário. Ao passar de ano, o menino vai ver matéria nova, bem mais difícil. O grau de exigência ficou maior, como bem sabe o América de Natal, que, no ano retrasado, ganhou com méritos o direito de jogar na primeira divisão do futebol brasileiro, mas teve dificuldade em se equilibrar na nova condição.
A lição do América de Natal, hoje rebaixado, deve ser muito útil para o ministro da Fazenda e para o governo em geral, que devem investir nos atributos que são próprios dos clubes grandes, e que as agências elogiaram, e não nos conceitos e idéias que as agências criticaram abertamente, como esse keynesianismo paraguaio que às vezes assoma o governo quando se trata de despesa e, mais especificamente, como algumas piruetas como o Fundo Soberano e a nova CPMF.
A melhor coisa do ‘grau de investimento’ é deixar claro que idéias alternativas e esotéricas no domínio da política econômica ficaram para trás e não cabem mais na nossa classificação de crédito. Mais um prego no caixão das heterodoxias.’
GOVERNO
Convênios terão prestação de contas em site
‘Com quase seis meses de atraso, o governo federal publicou ontem portaria em que detalha as regras de controle e transparência dos chamados ‘convênios’ -obras e investimentos nos municípios feitos por repasse de recursos federais. A maior novidade é que a prestação de contas relativa a esses convênios terá de ser divulgada na internet.
O Portal dos Convênios (www.convenios.gov.br) já está no ar, mas não tem dados a serem consultados. Isso começará a ser feito a partir de 1º de julho. Convênios firmados antes da eleição não devem estar disponíveis para consulta.’
BIOGRAFIA
Diário de uma obsessão
‘Paulo Coelho nasceu morto. Com a sentença, na página 62 da biografia ‘O Mago’, que chega hoje às livrarias, o jornalista Fernando Morais começa a dar contornos à história de obstinação de seu biografado: ao nascer, Coelho saiu vivo de uma asfixia com líquido amniótico, no ventre da mãe. Adolescente, foi hostilizado pelo pai, que o internou três vezes num hospício. Adulto, sobreviveu ao satanismo, às drogas e à crítica. E realizou o sonho que desde os dez anos alimentara como uma obsessão: ser um escritor lido e reconhecido em todo o mundo.
Morais começou a escrever a biografia em 2006, após seguir Coelho por dois meses, em viagens ao Oriente Médio e à Europa, e conviver por mais de um mês com o escritor, em sua casa na cidade de Saint Martin, na França. O que Morais viu nas viagens está registrado nos primeiros capítulos, uma amostragem do sucesso daquele que o biógrafo chama de ‘um brasileiro cujo trânsito internacional só se compara a Pelé’.
Terminadas as viagens, no entanto, o livro tomou outros rumos. Morais leu um testamento em que o escritor havia determinado que um baú, guardado em sua casa no Rio, deveria ser incinerado com todo seu conteúdo logo após a sua morte. Morais insistiu para vê-lo.
‘Pensei que era uma caixinha de sapato, um bauzinho de madeira. Mas era uma arca daquelas que as famílias usavam para viajar de navio’, conta Morais.
‘Lá estavam 40 anos de diários, em 170 cadernos grossos e mais uma centena de fitas cassetes. Quando acabei de ler tudo, descobri que tinha de jogar fora as cem páginas que já havia escrito porque o livro era outro. Eu tinha imaginado um personagem mais água de flor de laranjeira, mais light. Mas a história dele possuía uma dramaticidade que não tinha vindo à tona integralmente nos depoimentos dele e das outras pessoas.’
Os tais diários de Paulo Coelho, diz Morais, deram a verdadeira dimensão do que o biógrafo chama de sua ‘busca incessante e neurótica da lenda pessoal’, ou seja, a realização do sonho de ser escritor.
‘Não é mero jogo de palavras. Tendo em vista a quantidade de adversidades que a vida pôs diante dele, não sei como não se suicidou, coisa que chegou a tentar’, diz o biógrafo.
‘O livro iria se chamar ‘O Sobrevivente’. A primeira coisa que me chamou a atenção foi o fato de ele ter sobrevivido a tudo. Às drogas, ao hospício, aos pais hostis, ao satanismo e à crítica, depois que se tornou uma estrela.’
Estresse
Morais conta que se ‘estressou’ escrevendo ‘O Mago’. Após abrir o baú, o biógrafo começou a lidar com uma ‘tentação forte’ de se autocensurar, pois descobriu coisas da vida de Coelho que, se fosse sua própria biografia, não gostaria que se tornassem públicas.
‘Comecei a me questionar se não estaria sendo desleal com ele, que abriu as vísceras para mim. Mas aí pensei o seguinte: recorrer a ele seria quebrar o pacto que eu havia proposto. E me expor à possibilidade de ele dizer não, e eu ter de aceitar.’
A autocensura se referia, em parte, a passagens um tanto ‘picantes’ da vida de Paulo Coelho, como as experiências homossexuais ou a relação sexual que ele teve com uma namorada em frente à tia muda e paralítica da moça. Para Morais, tais passagens são anedóticas e dão certo sabor ao livro. A sexualidade do mago, porém, tem grande peso na biografia.
‘Há uma sucessão de acontecimentos que levam ele a ter essa sexualidade tortuosa. Ele cresce um menino feio, frágil e asmático. Depois vêm os surtos de terror que ele tinha com o inferno que os jesuítas descreviam para quem cometesse o pecado da masturbação. Aí a mãe leva ele para tomar remédio para crescer e surgem tetas nele. Então isso já vai criando certa confusão’, conta Morais.
Até mesmo o laudo médico do manicômio, onde Coelho foi internado três vezes, entre os 15 e 17 anos, referia-se a sua sexualidade. ‘Ali está escrito que ele tinha dificuldades com sua sexualidade porque havia se recusado a operar de fimose. Pô, isso é interpretação pré-colombiana. Nove entre dez adolescentes preferem não fazer, e a mãe dele entendeu como sendo sinal de que era homossexual.’
Morais diz que Coelho se aproximou de homossexuais no teatro e se confrontou com a dúvida: ‘Quem garante que a minha vida sexual é mais saborosa do que a daquele cara que é gay?’.
‘A única maneira de descobrir era tendo experiências. Da primeira vez, ele vai num mafuá de Copacabana e não consegue. Na segunda, sente-se desconfortável, nu, com outro homem na cama, e não consegue consumar a relação. Mas continua com medo e busca um parceiro no teatro. Depois de muita dificuldade, consuma o ato. Mas chega à conclusão de que não lhe dá prazer.’’
***
Biografia sairá em mais de 30 países
‘O lançamento de ‘O Mago’ foi adiantado em uma semana pela editora Planeta. A tiragem inicial do livro é de cem mil exemplares -a média brasileira fica em torno de três mil cópias- e a editora diz que já está se preparando para uma reedição.
‘A gente deposita muita fé que a biografia supere as expectativas. Mas o livro é um produto em que as questões imponderáveis vivem aprontando’, diz Pascoal Soto, diretor editorial da Planeta.
Os direitos mundiais de publicação em português e espanhol -leia-se Portugal, Espanha e América Latina- pertencem à própria Planeta, que pretende lançar a biografia no exterior no início do segundo semestre. Segundo Soto, ao todo mais de 30 países já compraram os direitos de tradução.
O diretor diz que, por conta das regras da editora, não pode revelar as cifras que envolvem o marketing e a propaganda do lançamento. Mas ele garante que se trata de uma das maiores operações da Planeta Brasil até agora.
O marketing está concentrado nos pontos de venda, com participação nos catálogos que são feitos pelas livrarias e distribuídos entre seus clientes. E a editora também negociou a exposição dentro das lojas, com displays etc.
‘A experiência nos mostra que o nome apenas não vende. Mas estamos lidando com dois pesos pesados, Fernando Morais e Paulo Coelho. É daquelas biografias de que a gente vai se lembrar por muito tempo’, diz Soto.
O exemplar de Paulo Coelho foi enviado ontem a Paris, onde o escritor se encontra. De acordo com Fernando Morais, o mago recebe o livro amanhã de manhã.’
Manuel da Costa Pinto
Vida de Paulo Coelho é mais curiosa que seus personagens
‘POUCO depois da publicação do romance ‘O Zahir’, o hotel parisiense Bristol rebatizou uma de suas iguarias com o nome ‘Chocolate quente de Paulo Coelho’, em retribuição ao fato de o escritor ter ambientado ali uma das cenas do livro.
A homenagem seria seguida por um restaurante de Marrakech, no Marrocos, que incluiu em seu cardápio o ‘cuscuz à Paulo Coelho’.
Essas celebrações gastronômicas, porém, são risíveis perto do reconhecimento pecuniário do emir de Dubai, que, em 2007, presenteou o autor de ‘O Alquimista’ com uma mansão no valor de US$ 4,5 milhões -dádivas semelhantes contemplariam Pelé, o jogador David Beckham e o piloto Michael Schumacher.
Fatos como estes, relatados na biografia ‘O Mago’, de Fernando Morais, não deixam dúvida: Paulo Coelho não é apenas um fenômeno editorial que suplantou Jorge Amado como escritor brasileiro mais conhecido no mundo; ele é o único escritor de qualquer língua a atingir celebridade planetária.
Sucesso como sina
Morais não busca as razões literárias dessa consagração. Seu enfoque é a obstinação de um jovem que desde muito cedo queria se tornar escritor -a ponto de ter se empenhado mais na construção da imagem de iluminado do que na produção de uma obra.
O biógrafo teve acesso a um baú contendo 40 anos de diários e gravações. Num dos trechos, Paulo Coelho escreve: ‘Sou um guerreiro aguardando sua hora de entrar decisivamente em cena (…) e minha sina é o sucesso. Meu grande talento é lutar por ele’.
Até agora, Paulo Coelho era mais conhecido como o parceiro de Raul Seixas, o maluco beleza envolvido em seitas satânicas, que percorreu o caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, e conquistou o estrelato com a publicação de ‘Diário de um Mago’. Agora, sobe ao palco um personagem que, em meio a promiscuidade, drogas, internação em manicômios (com direito a tratamento por eletrochoque) e prisões sob suspeita (infundada) de envolvimento com grupos terroristas durante o regime militar, orquestrou o sucesso com o calculismo de um administrador de empresas.
A parte mais envolvente do livro corresponde aos anos de formação, marcados pelo fantasma de algumas culpas -como a omissão de socorro após atropelar um garoto ou aquela que considera sua maior covardia: ter se calado quando sua namorada implorava que ele a reconhecesse diante de torturadores do DOI-Codi.
Experiências homossexuais na juventude ou o curioso plágio de um texto de Carlos Heitor Cony (assinado fraudulentamente para um jornal de Aracaju) são momentos de desbunde que preparam a grande virada: uma visita ao campo de concentração nazista de Dachau, durante a qual teve a visão de um facho de luz que indicaria sua ‘trajetória mágica’.
‘Esquartejamento’
Morais afirma que o ‘escritor Paulo Coelho’ nasceu naquele dia de fevereiro de 1982. Sua obra propriamente dita só teria início em 1987, com ‘O Diário de um Mago’ -e, com ela, aquilo que ele descreve como ‘esquartejamento público’ do escritor por uma crítica até hoje atônita com seu sucesso.
Para os leitores menos crédulos, as supostas faculdades paranormais de Coelho sempre soaram como um hábil exercício de mistificação. Morais nos mostra, porém, um autor cuja religiosidade e obsessão de ver ‘sinais’ a todo momento parecem autênticas. Isso certamente não convalida o esoterismo e as lições espiritualistas de seus romances, mas confere complexidade à figura do escritor.
Em resumo, o protagonista de Fernando Morais em ‘O Mago’ talvez seja mais interessante do que qualquer personagem de Paulo Coelho.
O MAGO
Autor: Fernando Morais
Editora: Planeta
Quanto: R$ 59,90 (632 págs.)
Avaliação: bom’
VIAGEM
Marcos Strecker
‘Granta’ traz Theroux e Diegues
‘Com o título ‘Longe Daqui’, o segundo número da ‘Granta’ nacional tem um apelo mais forte para o leitor brasileiro. E não apenas por trazer nomes familiares, como o escritor Ignácio de Loyola Brandão. Os 11 textos exploram viagens ‘na memória ou na imaginação’, segundo a diretora editorial da Objetiva, Isa Pessôa. E esse tema (‘viagem’) é um dos que mais marcaram a centenária publicação britânica, famosa por criar modas.
A versão brasileira foi lançada em novembro de 2007, reunindo jovens americanos. O segundo número, que respeita a proporção de 60% e 40% para autores estrangeiros e nacionais (esses últimos inéditos), respectivamente, dá uma idéia mais precisa do que vai ser sua cara brasileira.
O nome jovem é Ricardo Lísias, com o conto ‘Concentração’. Seguindo a tradição de adiantar romances inéditos, há um capítulo de ‘Parasitas e Hospedeiros’, que Lourenço Mutarelli escreve para o projeto ‘Amores Expressos’ -e que o levou por um mês para Nova York. Um ensaio fotográfico de Hilton Ribeiro registra Cidade Ocian (Praia Grande).
Entre os textos traduzidos (de edições lançadas entre 1985 e 2006 e do nº 7 da ‘Granta’ espanhola, de 2007), um destaque é ‘A Queda de Saigon’, escrito em 1975 por James Fenton, que registra a cidade vietnamita devastada (leia trecho em www.folha.com.br/081503, publicado no Mais! em 25/5/08). Outro destaque é ‘O Melhor Ano da Minha Vida’, de Paul Theroux, sobre um jovem que foge com a namorada grávida. Em ‘Meu Primeiro Europeu’, Edmund White contrasta a América provinciana com a Europa dos anos 60 (o texto vai integrar as memórias do escritor). Também escrevem o albanês Ismail Kadaré e o indiano Amitav Ghosh.
E há vários tipos de viagens, incluindo uma delirante ‘bad trip’ de Arnaldo Jabor, que conta a experiência com seu primeiro ácido lisérgico (‘para esquecer o Ato nº 5’). Já a viagem de Carlos Diegues é com Glauber Rocha, em Sintra, onde o cineasta morava no início dos anos 80 com a saúde debilitada (vai integrar seu livro sobre o cinema novo).
A próxima edição (semestral) deve ter como base o nº 100 da ‘Granta’, editada por William Boyd, incluindo autores como Mario Vargas Llosa, Julian Barnes e Martin Amis.
GRANTA Nº 2
Autores: Edmund White, Paul Theroux, Carlos Diegues, Geoff Dyer, Ignácio de Loyola Brandão, Ricardo Lísias, Arnaldo Jabor, Ismail Kadaré, Lourenço Mutarelli, Amitav Ghosh, James Fenton, Hilton Ribeiro
Tradução: Álvaro Hattnher, Otacílio Nunes, André Telles, Fernanda Abreu, Ângela Pessoa, Otacílio Nunes
Editora: Objetiva/Alfaguara
Quanto: R$ 36,90 (278 págs.)’
EDITORAS
Novos selos apostam em auto-ajuda
‘O fenômeno editorial de auto-ajuda continua motivando o mercado e duas das maiores editoras nacionais estão apostando no filão. A Objetiva, que faz parte do grupo espanhol Santillana/Prisa, acaba de lançar o selo Fontanar, que pretende reunir best-sellers que tratem de crescimento pessoal, saúde e sexualidade.
O selo Fontanar traz de início três títulos: ‘O Anticâncer’, de David Servan-Schreiber; ‘Sobrevivi para Contar’, de Immaculée Ilibagiza; e ‘Treine a Mente, Mude o Cérebro’, de Sharon Begley.
Prumo
Já Paulo Rocco, proprietário da editora carioca Rocco, entra no segmento com uma nova editora, a Prumo, com sede em São Paulo. Os primeiros títulos, que devem abrigar um espectro amplo de ficção, de não-ficção e de infanto-juvenis, devem chegar às livrarias em junho. A Prumo também vai publicar obras patrocinadas e livros de arte (‘coffe table books’). Já a Rocco carioca lança dois selos infanto-juvenis: Fio e Pavio.’
FOTOGRAFIA
Irmãos contam histórias do fotojornalismo
‘Ética, estética, originalidade, informação relevante e, de preferência, exclusiva são os atributos de uma boa imagem jornalística.
Cultura, noções de arte, intuição, persistência, um pouco de sorte e muito, muito suor são os pré-requisitos básicos para alcançar tal resultado, como demonstram os irmãos Marques no livro ‘Caçadores de Luz: Histórias de Fotojornalismo’, lançado pela Publifolha.
São mais de 60 anos dedicados ao fotojornalismo, somando o tempo das carreiras de Sérgio, Lula e Alan. Todos atuam em Brasília, fotografando e editando diariamente imagens dos bastidores da política, acompanhando todos os presidentes da República desde 1984, quando Sérgio chegou ao jornal ‘O Globo’. Lula atua na Folha há 21 anos e Alan há 11, depois de fotografar por cinco anos no ‘Jornal de Brasília’.
No livro, os irmãos narram em tom quase épico as agruras do dia-a-dia da profissão de repórter-fotográfico. Como a maior parte das pautas em Brasília se limita a políticos dando declarações, os Marques demonstram quão necessário é ter a habilidade de um caçador para conseguir uma imagem diferenciada e que simbolize de forma inteligente os freqüentes escândalos que envolvem os políticos.
O capítulo ‘A Luta pela Imagem’ destaca histórias nas quais a busca obsessiva pela imagem exclusiva quase transformou o fotógrafo numa notícia fúnebre, como na cobertura realizada por Sérgio na guerra de Angola, em 1989, ou quando Lula teve um revólver apontado para a sua cabeça na comemoração dos 500 anos do Brasil, em 2000.
Alan, o mais literário dos irmãos, conta em pormenores inimagináveis a dificuldade da cobertura da queda do vôo 1907 da Gol, em 2006.
Nos outros dois capítulos, ‘Histórias de Presidentes’ e ‘Celebridades do Mundo’, os Marques dosam narrativas saborosas sobre as ante-salas de Brasília, as esperas intermináveis por uma declaração, a frustração com as fotografias protocolares, o eterno embate com assessores, seguranças e policiais para furar o cerco e ter acesso a lugares onde nem sempre são bem-vindos, com histórias que demonstram a personalidade dos presidentes Sarney, Itamar, Collor e FHC e a forma como eles se portavam em relação às imagens.
Quanto ao governo atual, Lula Marques faz uma pesada crítica à forma como o presidente Lula e sua assessoria tratam a imprensa em geral e os fotógrafos em particular: ‘Existe ordem para manter a imprensa longe. Os seguranças se sentiram no direito de voltar a ter atitudes com as quais só nos deparamos em países com regime de governo ditatorial’, escreve.
A boa idéia do projeto e as narrativas em ritmo de seqüência de fotogramas, porém, foram bastante prejudicadas por um projeto gráfico burocrático, pela edição decepcionante de minguadas fotos de cada história e pela má impressão. Idéia certeira em forma equivocada.
CAÇADORES DE LUZ: HISTÓRIAS DE FOTOJORNALISMO
Autores: Alan Marques, Lula Marques e Sérgio Marques
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 37 (240 págs.)
Avaliação: regular’
HISTÓRIA
Joaquim Nabuco usa guerra chilena para criticar Brasil
‘Em 1891, o Brasil era uma República recém-nascida, e Joaquim Nabuco (1849-1910), um intelectual monarquista inconformado com o fim do Império. Enquanto isso, no Chile, um presidente acuado por uma rebelião parlamentar e pelas conseqüências de uma guerra sangrenta cometia suicídio.
O célebre abolicionista brasileiro, então, resolveu investigar a tragédia pessoal de José Manuel Balmaceda (1840-1891) e o drama político que explodira naquele país andino. Nabuco queria entender os novos tempos que a América Latina vivia, admitindo, nitidamente com pesar, que o Brasil republicano teria agora de fazer parte dela.
‘Balmaceda’, publicado originalmente em 1895, sai agora em nova edição pela Cosac Naify. Já no prefácio, Nabuco avisa que não conhecia bem os meandros da política chilena, mas que tomaria dos acontecimentos os elementos que lhe fossem úteis para expor as debilidades do sistema republicano e os ‘acidentes’ que este poderia causar.
Na sua opinião, o militarismo, a corrupção, o desmembramento e a anarquia. ‘Nabuco estava procurando formas de fazer campanha contra a República no Brasil. Tinha horror a Floriano Peixoto e ao autoritarismo daqueles primeiros anos. Nessa conjuntura, era difícil fazer críticas diretas ao governo. Escrever sobre o caso Balmaceda foi um artifício por ele encontrado para traçar analogias com a situação brasileira’, afirma Angela Alonso, professora de sociologia da USP, pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e autora da biografia ‘Joaquim Nabuco’.
Durante praticamente todo o século 19, o Chile havia sido um exemplo de estabilidade num continente transtornado por guerras civis e disputas entre caudilhos. O segredo, dizia-se, estava na seqüência de governos conservadores, apoiados pela oligarquia, que o país tivera desde a independência.
A presidência de Balmaceda, iniciada em 1886, veio romper esse padrão. De perfil liberal, ele começou a modernizar as instituições e as regulações civis do país de modo radical, além de reorganizar os partidos. Centralizando cada vez mais o poder, passou a fazer frente a velhas lideranças da elite e ao parlamento conservador. O processo levou o país a cindir-se em duas facções. De um lado, estava o chefe do Executivo, apoiado pelo Exército; de outro, o Legislativo, que tinha o suporte da Marinha.
O desfecho foi violento, e um banho de sangue não demorou a acontecer.
Refugiado na embaixada argentina, Balmaceda deixou ordens a seu secretário, Julio Bañados Espinosa, para escrever um livro que justificasse as suas atitudes. Isso feito, apertou o gatilho e encerrou a própria vida.
Com o livro de Bañados (‘Balmaceda, su Gobierno y la Revolución’) em mãos, Nabuco analisou o ocorrido, tomando o partido do parlamento revoltado. Para ele, Balmaceda havia cometido vários erros. O principal, querer governar sem o Congresso, tornando-se um ditador. Condenava a tentação à novidade que seduzira o líder chileno. Dizia que o afã pelo novo o levara a cometer excessos característicos do jacobinismo.
Por fim, que suas leituras desordenadas tinham amolecido seu cérebro, pois agia como ‘um títere de biblioteca’, que não sabia organizar suas idéias.
Para o autor chileno Jorge Edwards, que assina o prefácio do livro, a análise do brasileiro é demasiado partidária. ‘Nabuco é muito conservador e deixa para segundo plano a importante ruptura que Balmaceda promoveu com uma elite histórica’, disse, em entrevista à Folha. O escritor explica que, hoje, Balmaceda é um mito no Chile. ‘Tornou-se um herói para a esquerda, e um de nossos primeiros líderes antiimperialistas. É uma surpresa que Chávez ainda não o tenha utilizado’, brinca.
Edwards chama a atenção para a semelhança entre o final dramático do personagem e os de Salvador Allende e Getulio Vargas. ‘Ambos citavam Balmaceda, que se tornou um símbolo da defesa trágica de princípios.’ Ainda assim, o escritor vê aspectos positivos no ensaio de Nabuco. ‘O fato de um intelectual brasileiro se interessar por um episódio chileno é original e nos dá um exemplo de como deveríamos tentar conhecer melhor a nós mesmos.’
‘Pulsação continental’
Nas últimas páginas, o abolicionista chama a atenção para a existência de uma ‘questão da América Latina’. Diz que, depois de proclamada a República, o Brasil passara a fazer parte de um sistema político mais vasto e que, por conta disso, deveria obrigar-se a ‘auscultar o murmúrio, a pulsação continental’. Aponta, com certo tom de lamento, que seria impossível escapar do ‘imã do continente’. Alertava para o perigo de a região tornar-se uma área em ‘estado permanente de desgoverno e anarquia’.
Sua resposta para esse problema estaria na formação de um extenso ‘poder moderador’ e a participação dos homens cultos de cada país em defesa desta causa comum.
Edwards, ainda em sua crítica a Nabuco, não concorda com suas conclusões, mas vê uma relevância atual em suas preocupações. ‘Mesmo que muitas de suas respostas não sejam válidas, a maioria das perguntas, na verdade, o são; elas jogam luz sobre um passado de pouco mais de um século e sobre o presente imediato. E isso tem sentido para o Chile, para o Brasil e para toda a complicada região latino-americana.’
BALMACEDA
Autor: Joaquim Nabuco
Editora: Cosac Naify
Quanto: R$ 47 (252 págs.)’
TELEVISÃO
Record dá sobrevida aos seus ‘antigos’ mutantes
‘Os mutantes não terão férias. Depois de dez meses envolvidos em confrontos entre o bem e o mal em ‘Caminhos do Coração’, eles retornam à Record nesta terça-feira, no dia seguinte ao último capítulo da novela, com a estréia de ‘Os Mutantes -Caminhos do Coração’.
Na nova trama, as mutações continuam a ser o cerne da história e a transformar seus personagens em vampiros, lobisomens e serpentes em plena São Paulo.
‘A fórmula se parece bem com a de ‘Caminhos do Coração’ até porque é uma continuação’, diz Tiago Santiago, autor das duas tramas.
‘Esta é uma história aberta, que não está fechada em um núcleo familiar com um problema’, explica ele, para quem agora ‘o problema é amplo, de uma cientista que criou mutantes’, o que lhe possibilita criar novos personagens e histórias.
A trama maniqueísta e de ares trash manteve média de 20 pontos no Ibope desde janeiro, o que encorajou a Record a dar seqüência à novela e a antecipar o horário de exibição. Em vez de ser transmitida pouco depois das 22h, como sua precursora, ‘Mutantes’ será exibida às 20h40, concorrendo com a novela das 21h da Globo.
‘A maioria do nosso público é adulta, até por causa do horário. Mas a novela exerce um fascínio imenso no público infanto-juvenil, que ama e cultua a história. Havia demanda para que ela fosse para um horário mais cedo’, diz Santiago.
O autor adianta como pretende enfrentar a forte concorrência da TV Globo: ‘A gente vai colocar mais ação, mais efeitos especiais, novos personagens’.
Da última novela, 45 deles serão aproveitados e ganharão a companhia de 30 novos, entre eles Valente (Marcos Pitombo), que descobrirá alguns segredos da trama, e Samira, irmã gêmea (e má) da protagonista Maria (Bianca Rinaldi). Como em ‘Caminhos do Coração’, a direção de ‘Mutantes’ é de Alexandre Avancini. Santiago refuta qualquer cansaço por parte do público com a trama, que deve se estender até o ano que vem. ‘Essa novela não é usual, ela tem uma dose de ficção científica que nunca foi vista antes. E isso vai continuar.’
Por ele, cansados só ficarão seus mutantes.
OS MUTANTES – CAMINHOS DO CORAÇÃO
Quando: estréia na próxima terça-feira, às 20h40
Onde: Record’
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