Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Folha de S. Paulo


MORDAÇA
Fernando Rodrigues


A República inexistente


‘BRASÍLIA – O Palácio do Planalto em peso, nesta semana, decidiu levar adiante um projeto de lei propondo punição aos meios de comunicação que se atreverem a divulgar o conteúdo de escutas telefônicas ilegais. O texto será dinamitado no Congresso, mas a audácia anti-republicana do lulismo fica outra vez explicitada.


Não existe um caso recente de escândalo nacional cuja execução de escutas ilegais tenha sido responsabilidade da mídia. Criminosos praticam a ilegalidade. Passam a chantagear os grampeados. Como o jornalismo nasce onde começa o interesse contrariado, muitas vezes o público tem a sorte de ter acesso inaudito ao que se passa nos porões do poder.


Um exemplo emblemático ocorreu em 1998. Uma quadrilha grampeou empresários, ministros e o presidente da República às vésperas do leilão de privatização das empresas de telefonia. Ao divulgar o conteúdo dessas escutas ilegais, a mídia cumpriu sua missão de bem informar. O público conheceu algo antes circunscrito a um grupo diminuto de pessoas.


O projeto antigrampo de Lula não é apenas limitador da liberdade de expressão e de informação. É também omisso por não tratar da raiz do problema: o baixo investimento e a desídia da companhias telefônicas na área de segurança dos dados pessoais dos usuários.


Para impedir funcionários de quinto escalão de venderem dados sigilosos por R$ 500, as telefônicas teriam de gastar muito dinheiro.


Segurança interna e controle rigoroso exigiriam treinamento de pessoal e rígidos sistemas de vigilância.


A lei proposta por Lula não toca nesse tema. Seria inconveniente para o Palácio do Planalto incomodar empresários tão generosos durante períodos eleitorais.


É mais cômodo inflar uma lei inútil. O governo finge estar preocupado. Imagem, Lula sabe, é tudo.’


 


 


Maria Clara Cabral e Letícia Sander


Deputados criticam projeto que pune mídia


‘Deputados e entidades ligadas à imprensa criticaram ontem o projeto do governo federal encaminhado ao Congresso que prevê a possibilidade de punição criminal ao veículo e ao jornalista que divulgarem escutas telefônicas ilegais ou legais sob segredo de Justiça.


O presidente e o relator da CPI dos Grampos da Câmara, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ) e Nelson Pellegrino (PT-BA), respectivamente, classificaram o texto como ‘inconstitucional e desrespeitoso’, pois fere a liberdade de imprensa e o direito à informação: ‘Esse tipo de coisa merece o meu desrespeito. Fere o direito ao sigilo da fonte do jornalista e o direito do cidadão de se informar’, diz Itagiba.


Para o deputado federal Gustavo Fruet (PSDB-PR), da CPI, o envio do projeto foi uma ‘jogada do governo para tentar esconder os problemas atuais do Brasil’. O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) disse acreditar que o projeto não tem chance de ser aprovado na Câmara.


O ministro do STF, Marco Aurélio Mello, disse ontem que ‘o problema envolve um valor maior, que é a obrigação dos veículos de informação de informarem o grande público. Não é o jornal ou a revista que quebra o sigilo. Ele não vai lá e tem acesso, são os dados que chegam até o jornal. A responsabilidade, portanto, não é do jornal, mas de quem deu o acesso aos dados sigilosos’.


Em nota, o vice-presidente da ANJ (Associação Nacional de Jornais), Júlio César Mesquita, afirmou que a entidade ‘estranha e condena a insistência do governo em buscar formas de punir jornalistas e meios de comunicação pelas informações que divulgam’. ‘Tais atitudes e posições do governo vão na contramão das repetidas declarações públicas do presidente da República, de que, sem uma imprensa livre, não teria tido condições de realizar seu projeto político e de chegar aonde chegou.’ Para ele, o projeto de lei enviado ao Congresso ‘atinge diretamente a liberdade de imprensa’.


O presidente da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), Sérgio Murillo de Andrade, disse achar o projeto ‘desnecessário’. Ele disse que até ontem não havia tido acesso à proposta, mas ponderou: ‘Não precisa desta legislação. Precisamos, isso sim, de uma instância para fazer esta discussão interna, entre os jornalistas’.


Já o presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício Azêdo, afirmou que no conteúdo do texto há ‘veladamente uma preocupação censória que, no fundo, repete as práticas do regime militar’.


O ministro Franklin Martins (Comunicação Social) defendeu a iniciativa: ‘O projeto não muda nada. Quem usar direito a informação não terá problema algum. Agora, se alguém usar para caluniar, difamar, injuriar, aí poderá ser punido’.


O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse que o projeto de lei mantém integralmente o direito à informação e o sigilo da fonte. ‘O que o projeto faz é dizer que utilizar essas informações para fins de obter vantagem ou proporcionar injúria, calúnia ou difamação passa a ser um delito conjugado’.’


 


 


INVASÃO
Ruy Castro


Perene pirataria


‘RIO DE JANEIRO – Piratas eram os do passado. Tomavam um navio a punhal e bacamarte, cuspiam no convés, saqueavam a carga e, depois de degolar o comandante, afundavam o navio e iam encher a cara em Tortuga. Imagine a adrenalina. Hoje, os piratas são virtuais -sujeitos que invadem o e-mail ou o telefone dos outros e têm orgasmos também virtuais, pensando no desconforto que causarão a suas vítimas.


O e-mail pessoal de Sarah Palin, candidata republicana a vice-presidente dos EUA, foi invadido esta semana por um grupo de ‘hackers’ conhecido como ‘Anonymous’ e distribuído a sites que o jogaram na rede. De repente, mensagens e imagens particulares da candidata ficaram expostas à visitação pública.


Claro que foi uma violação à lei e uma invasão da privacidade de Sarah Palin. Mas só assim se ficou sabendo que, por descuido ou má-fé, ela usava seu próprio e-mail, e não o da conta oficial, para tratar dos assuntos do Estado de que é governadora, o Alasca -e, com isso, seus atos ficavam fora da vigilância de quem de direito.


Descobriu-se, por exemplo, que ela era dada à mesquinharia de perseguir certo policial, aliás seu ex-cunhado. Isso se chama abuso de poder, prática condenável em quem postula emprego na Casa Branca (embora possa ser fartamente exercida depois que se é eleito). Pois foi preciso um ataque pirata à fortaleza para pôr a nu esse desvio de caráter da candidata.


Invasões a e-mails e escutas telefônicas, clandestinas ou não, são apenas algumas das novas ofertas do cardápio eletrônico. Quando exercidas por particulares, como os ‘hackers’ americanos, são chamadas de pirataria. Quando quem as executa são os poderes oficiais, podem ser chamadas de interceptações, ‘grampos’, ‘varreduras’ ou do que for. Mas são pirataria, do mesmo jeito.’


 


 


ACIDENTES
Painel do Leitor


Lei seca


‘‘Até quando a imprensa e a população vão ignorar que a redução de acidentes nos últimos três meses não tem nada a ver com a lei seca, mas com a intensa fiscalização que se seguiu após sua promulgação?


Os acidentes não são provocados por quem bebeu moderadamente, até o limite do Código de Trânsito Brasileiro original, mas, sim, por quem estava de fato embriagado.


Quem será responsabilizado por não fiscalizar motoristas bêbados todos esses dez anos de vigência do Código de Trânsito Brasileiro, em que milhares de mortes teriam sido evitadas?’


BOB SHARP (São Paulo, SP)’


 


 


CAMPANHA
Folha de S. Paulo


Prefeito usa na TV imagens de tucano em convenção de 2004


‘O prefeito e candidato à reeleição Gilberto Kassab (DEM) usou ontem à noite no programa de TV imagens do próprio candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, para responder aos ataques do tucano.


Enviado às emissoras na tarde de ontem, o programa apresenta cenas com o ex-governador na convenção que oficializou a chapa José Serra/Kassab para a prefeitura em 2004. ‘Geraldo Alckmin elogia e aplaude’, diz o locutor.


A idéia é mostrar que a aliança tinha o apoio do tucano.


Sem citar os ataques de Alckmin, o programa mostra ainda imagens de Kassab com Serra e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, num evento em que a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) também aparece.


Sob o pretexto de enaltecer a imagem de um prefeito que sabe trabalhar em parceria, há declarações de tucanos em favor da candidatura de Kassab.


Em sua participação, gravada ontem de manhã, Kassab defende a importância de se governar com amplo apoio partidário. A reação, por enquanto, deve ficar por aí.


Amparado por pesquisas qualitativas, o coordenador de comunicação de Kassab, jornalista Luiz Gonzalez, tem contido os aliados do prefeito. Sua avaliação é que a campanha não pode ser ditada pela agenda de Alckimin.’


 


 


LIVRO
Moacyr Scliar


Sarney usa a crônica como antídoto contra o rancor de nosso tempo


‘A JULGAR pelas enquetes de confiabilidade que comparam diferentes categorias, os brasileiros não levam muito a sério os seus políticos, o que pode corresponder a uma histórica frustração e/ou a algum grau de preconceito. Mas o que acontece quando o político exerce alguma outra atividade ou profissão? Quando ele é, por exemplo, um médico? Será que os pacientes deste médico o verão com a mesma desconfiança com que avaliam o político? E se ele for um jornalista, como será avaliado?


Esta última pergunta é mais que pertinente, por causa da inevitável proximidade, da simbiose quase, entre jornalismo e política. Esta proximidade não exclui diferenças e contradições, ligadas, sobretudo, à relação de cada uma das atividades com a informação. O jornalismo, por definição, faz circular a informação; a política, ao contrário, muitas vezes detém a informação. Deter a informação, como deter o saber, significa poder. E poder é, ao fim e ao cabo, o grande tema da política.


José Sarney tem uma longa carreira política. Eleito deputado federal em 1954, é o parlamentar mais antigo em atividade no Congresso. Foi senador, governador do Maranhão e assumiu a Presidência da República em condições difíceis: o presidente eleito, Tancredo Neves, do qual José Sarney era o vice, adoeceu e veio a falecer, no momento em que o Brasil retomava o caminho da democracia, ainda sob a sombra da ditadura.


A carreira jornalística e literária de José Sarney iniciou-se antes mesmo de sua carreira política. Colaborou em numerosos jornais e revistas, sobretudo do Nordeste, mas também escreveu para o ‘Jornal do Brasil’ e ‘O Globo’. Desde 1982 é colaborador da Folha. Membro da ABL, é autor de várias obras nos gêneros ensaio, poesia, conto, crônica e romance, a mais recente das quais é ‘A duquesa vale uma missa’ (romance, 2007). A sua bibliografia junta-se agora o volume ‘Crônicas do Brasil Contemporâneo – volume VII’, reunindo textos publicados nos anos de 2006 e 2007.


Abrangem temas muito variados, refletindo a intensa experiência de vida e a ampla gama de interesses do autor. Mas a política está, claro, presente nelas, e o autor evoca muitos momentos de sua movimentada carreira. Cada crônica é precedida de uma frase e de uma lista dos fatos importantes que ocorriam no momento, de modo a situar melhor o leitor na conjuntura da época. Em ‘A Bolívia e seus demônios’, fala de uma conversa que teve com o presidente Ronald Reagan acerca do país latino-americano, sublinhando o escasso interesse do mandatário estadunidense no tema. Em ‘Vinte anos do cruzado’, comenta o plano econômico que, como presidente da República, editou em 1986.


Em ‘O jogo dos sete erros’, fala da desastrada política norte-americana no Oriente Médio. Momentos transcendentes da história do Brasil e do mundo são assim retratados e comentados. Não espere o leitor, contudo, revelações sensacionais, mesmo porque raramente a crônica é adequado veículo para esse tipo de revelações. Trata-se de um gênero muito peculiar e muito brasileiro: entre nós, pode ser vista como a transcrição, na página do jornal, da conversação informal, do papo descontraído que nossa gente cultiva. Se o jornalismo é diferente da política, a crônica é mais diferente ainda, exatamente por seu caráter leve, descompromissado. Mas há considerações que fazem pensar, como em ‘O ódio e a inveja’. Na frase que inicia o texto diz José Sarney: ‘Na prática, a política é uma contenda, uma disputa, uma luta por poder e autoridade, sem esquecer que lida com a violência’.


E, mais adiante: ‘Velho político, duas coisas acho que movem a prática da política: o ódio e a inveja, sentimentos que destroem os contendores’. Talvez esteja aí o motivo pelo qual José Sarney optou pela crônica como forma de veicular suas considerações sobre a vida e o mundo: esse gênero estaria, até por sua origem, preservado do rancor e da violência de nosso tempo; funcionaria, pois, como uma defesa, como uma proteção contra os ‘petardos e flechas lançados por um destino afrontoso’, de que fala Shakespeare em Hamlet. Simbolicamente, a última crônica é uma carta a Papai Noel, uma tentativa de recuperar os sonhos e as fantasias da infância.


‘De viver, vive-se’, diz Sarney. Vive-se duramente, ainda que apaixonadamente, na política; vive-se liricamente na crônica.


MOACYR SCLIAR, escritor, é membro da Academia Brasileira de Letras e colunista da Folha.


CRÔNICAS DO BRASIL CONTEMPORÂNEO – Vol. VII


Autor: José Sarney


Editora: Ediouro


Quanto: R$ 29,90 (239 págs.)’


 


 


IMPRENSA NA JUSTIÇA
Folha de S. Paulo


Justiça extingue mais 5 ações contra a Folha


‘A Justiça extinguiu mais cinco ações movidas por seguidores da Igreja Universal do Reino de Deus contra a Folha e a jornalista Elvira Lobato, autora da reportagem ‘Universal chega aos 30 anos com império empresarial’, publicada em dezembro.


Já foram ajuizadas 101 ações de indenização por danos morais e proferidas 57 sentenças, todas favoráveis ao jornal.


A juíza Cristiane da Silva Brandão Lima, do Juizado Especial Cível de Niterói (RJ), extinguiu ação movida por Rosa Maria Soares, homologando decisão da juíza leiga Gisella Maria Quesma Leitão.


O juiz Paulo Pereira da Silva Evangelista, da comarca de Santarém (PA), extinguiu ação movida pelo pastor Jorge Luís de Brito Cabral, condenando-o a pagar as custas processuais e multando-o por litigância de má-fé [abuso do direito de recorrer à Justiça]. Em Recife, foi extinta ação movida por Ivanildo Julião da Silva contra a Folha e a Rede Globo de Televisão. Silva foi condenado ao pagamento das custas processuais.


Na comarca de Pedro Canário (ES), o juiz Deodato Vital dos Anjos extinguiu ação movida por Paulo Valério Coelho de Lima por não considerá-lo parte legítima para pedir a indenização por danos morais. O juiz Carlos Barbosa Dias, de Parnaíba (PI), julgou extinta ação movida por Leandro Pereira da Silva.’


 


 


TELES
Folha de S. Paulo


Anatel questiona telefônicas sobre sigilo de clientes


‘A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) enviou ontem pedido de informação para as concessionárias de telefonia fixa sobre o sigilo telefônico dos clientes. A agência quer saber quais medidas as empresas tomam para manter em segredo os dados dos usuários.


As empresas têm cinco dias para responder, contados a partir do recebimento. Na quarta-feira, a mesma solicitação foi enviada às concessionárias de celulares.


Dependendo da resposta das empresas, a Anatel definirá o que fazer. Uma das hipóteses é a abertura de um processo administrativo, que poderá responsabilizar e punir as operadoras pelo vazamento dos dados. O sigilo telefônico é garantido pela Constituição. Regulamentos da Anatel também estabelecem que as operadoras são responsáveis pela inviolabilidade do sigilo de suas redes.’


 


 


INTERNET
Verônica Couto


Prefeitura de SP proíbe acesso ao Orkut


‘A Prefeitura de São Paulo vai aumentar o controle sobre a internet dentro da rede municipal, inclusive em telecentros. Decreto do prefeito Gilberto Kassab (DEM), publicado em 15 de agosto, obriga os órgãos da administração direta e indireta a impedir o ‘acesso a conteúdos inadequados’.


São eles os sites com ‘conteúdos relacionados a sexo, drogas, pornografia, pedofilia, violência e armamento, bem como outros que venham a assim ser conceituados’.


Na lista dos sites proibidos, está o site de relacionamentos Orkut, já bloqueado nas escolas. Um portal educacional, em fase de homologação, vai oferecer blogs, comunidades e e-mails próprios, para que os alunos evitem os da internet.


A Prodam, empresa municipal que opera a rede da prefeitura, centraliza o controle do conteúdo acessado na administração direta, por meio de filtros de hardware e software e com base em palavras-chaves e sites banidos.


Entidades com redes externas devem mostrar que têm condições de restringir os acessos ou apresentar projeto técnico com esse fim em 180 dias.


A regra vale para os 144 telecentros de ONGs (organizações não-governamentais) conveniadas (de um total de 245).


A secretária de Gestão, Malde Maria Vilas Bôas, admite que o telecentro ‘pode ter um padrão de sites um pouco diferente’. A liberação será caso a caso: ‘Vamos sentar e discutir’. Esses espaços podem funcionar com conexões próprias ou cedidas por parceiros.


O presidente da Prodam, João Octaviano Machado Neto, quer ao menos um servidor de cada telecentro ligado à rede da prefeitura para possibilitar vistorias periódicas.


A medida gerou críticas. ‘Um decreto preventivo e repressivo, em assunto tão complexo, pode abrir caminho para a violações de direitos’, adverte Carlos Afonso, integrante do Comitê Gestor da Internet -órgão que concede os endereços dos sites brasileiros.


Segundo o Lidec (Laboratório de Inclusão Digital da USP), parceiro do programa de telecentros estaduais -o Acessa São Paulo-, há 3.000 pessoas que fazem parte de comunidades do Orkut ligadas ao programa. Uma professora municipal que não quis se identificar também reclamou da proibição do acesso escolar ao site, onde mantinha atividades pedagógicas com os alunos.


Para a estudante Daiane Resende, 16, que vai três vezes por semana ao Telecentro Santa Cecília (região central), sem o Orkut, os telecentros ‘vão ficar vazios’, pois ‘todo mundo vem aqui para isso, até os idosos têm Orkut’. Rafael Bastos, 26, também é contra. A troca de mensagens com os amigos, diz, é cada vez mais pela rede social.


Félix Ximenes, diretor de comunicação do Google, que controla o Orkut, diz que a empresa vai procurar a prefeitura para mostrar que o site de relacionamentos é seguro.


Em setembro de 2007, ele diz que foram registradas, no Brasil, 20 mil denúncias por semana, sendo 5% relativas à violação de alguma norma do site -0,4% com conotação sexual.’


 


 


PUBLICIDADE
Mônica Bergamo


Festa fechada


‘O Conar determinou que o último comercial de TV da cerveja Crystal seja alterado. O filme usava a frase ‘Sabe o que tem embaixo desse selo?’ e mostrava, dentro da lata do produto, imagens de pessoas dançando em festas, rodeios e micaretas. O conselho considerou que o anúncio associava a bebida ao sucesso social. A Crystal não se manifesta enquanto não for comunicada pelo Conar.’


 


 


ARTE
Gabriela Longman


‘Minha vida é só o ponto de partida’


‘Em 2005, Sophie Calle recebeu uma carta de rompimento amoroso. ‘Cuide-se bem’, dizia o texto, ao fim. Sem saber o que fazer com o papel e com a dor que sentia, entregou a carta a 107 mulheres de variadas idades e profissões para que buscassem interpretações. Fotografou-as, filmou-as, e o resultado é ‘Prenez Soin de Vous’ (cuide-se bem), enorme instalação em multimídia que a artista francesa concebeu para a Bienal de Veneza de 2007, exibiu em Paris no início deste ano e leva a três cidades brasileiras no ano que vem, em sua primeira visita ao país -Calle ainda estuda a possibilidade de participar da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Nome de peso da arte conceitual francesa, Calle especializou-se em investigar e expor traços da intimidade -sua ou alheia -numa combinação de biografia, ficção e voyeurismo. ‘La Filature’ (perseguição), um de seus projetos mais antigos, de 1981, será exibido na 28ª Bienal de SP, em outubro. Poucos dias após apresentar novo trabalho na galeria Emmanuel Perrotin, a artista recebeu a reportagem da Folha em sua casa, em Malakoff, subúrbio ao sul de Paris. Entre beliscar um salame e acariciar o gato, falou sobre particularidades do seu trabalho e a decisão de filmar a morte de sua mãe.


FOLHA – Como será a sua primeira passagem pelo Brasil?


SOPHIE CALLE – De repente, eu me vi envolvida em muitos projetos. ‘Prenez Soin de Vous’ vai passar por três museus: em São Paulo, no Sesc Pompéia, do fim de julho ao fim de setembro de 2009; em Salvador, de outubro a novembro; e no Rio, de dezembro a janeiro de 2010. Irei para essa montagem. Além disso, há uma exposição coletiva no Oi Futuro, no Rio, e tenho convites para o Videobrasil e para um evento literário em… Pa-rat-y? Mas esse ainda não sei se poderei aceitar, vai depender das datas. Não posso passar quatro meses no Brasil…


FOLHA – Mas, antes de tudo isso, o seu nome é um dos principais da 28ª Bienal de São Paulo…


CALLE – Quanto à Bienal, não houve muito o que decidir. Pegaram um projeto antigo [‘La Filature’, 1981], ligaram sabendo bem o que queriam. Como é um empréstimo de obra, os trâmites foram feitos pela galeria, não me ocupei disso.


FOLHA – Você tem uma metodologia recorrente: cria um jogo com regras definidas. Como isso começou?


CALLE – Para dizer a verdade, estava perdida em Paris, no fim dos anos 70. Passei anos viajando e, ao voltar, não sabia o que fazer da vida, não tinha amigos nem emprego… Comecei a seguir pessoas na rua e a fazer fotos para me lembrar delas. Comecei a tomar notas para registrar aonde iam, criando uma ficha, como as de polícia. Foi um meio de reencontrar minha cidade. As regras do jogo estão na minha natureza. Quando era pequena, ia ao cemitério, fazia cerimônias de enterro para meus bichos de estimação. Sempre adorei rituais.


FOLHA – Seus projetos costumam juntar texto e imagem. A foto nasce baseada em texto ou é o contrário?


CALLE – No caso de um trabalho como ‘Unfinished’ [inacabado], vi as imagens antes e não soube o que fazer com elas. Procurei o texto por 15 anos. Mas nunca me senti 100% à vontade só com um ou outro. Quando seguia pessoas na rua, a necessidade de produzir imagens me obrigava a chegar mais perto e, com isso, ter mais material para texto. As coisas estão intrincadas. Mas, em geral, encontro a idéia primeiro -enviar algo a alguém, instalar-me em tal endereço, idéias simples-, o resto vem depois.


FOLHA – Seus trabalhos costumam ter boas doses autobiográficas. Como separa ficção e realidade?


CALLE – Não quero só expor minhas dores e sofrimentos. Minha vida é o ponto de partida, mas o que me interessa é fazer uma boa obra de arte, um livro bem escrito, o que seja. Com ‘Prenez Soin de Vous’, vi logo o que isso podia me trazer em termos terapêuticos, mas, após alguns dias, estava mais preocupada em saber se o resultado ficaria bem na parede. Se for pela terapia, outras coisas funcionam igual: viajar, comprar um vestido, ir ao cabeleireiro…


FOLHA – Você há pouco tempo registrou em vídeo a morte de sua mãe. Foi uma decisão artística?


CALLE – Minha mãe era vaidosa e extravagante, adorava estar no centro. Os médicos lhe deram um mês de vida. Eu gostaria de estar lá quando ela morresse, escutar suas últimas palavras. E, embora tenha me mudado para a casa dela, não podia estar ali o tempo inteiro. Precisava dormir, fazer comida… Num dado momento, disse a ela que colocaria uma câmera. Em vez de contar os dias que faltavam para a morte dela, passei a contar de forma obsessiva os minutos que faltavam para trocar a fita, desloquei a angústia. Quando ela morreu, eu estava efetivamente presente, vi seu sorriso. Quanto ao material, até agora não tive coragem de me debruçar sobre a filmagem. Tenho 612 horas.


FOLHA – Mas como isso foi parar na Bienal de Veneza?


CALLE – Publiquei um texto em todos os jornais para anunciar sua morte. Robert Storr [curador] me propôs expor esse texto e as imagens em vídeo na Bienal. Eu disse: ‘Sinto muito. Gostaria de fazer algo sobre a morte da minha mãe, mas não estou pronta’. Ele insistiu. Justamente por não ser capaz de assistir aos filmes, só vi um, o último. O projeto saiu assim, com esse texto e com minha incapacidade de ver os outros filmes. Foi uma homenagem… Se ela tivesse morrido com convulsões, eu nunca mostraria, mas ela morreu magnífica. Levá-la a Veneza deixou muita gente horrorizada. Recebi cartas com insultos, mas a maior parte dessas pessoas nem sequer viu o trabalho.


FOLHA – Feitiços podem virar contra o feiticeiro. Você já foi seguida?


CALLE – Uma estudante canadense recebeu uma bolsa para me seguir e depois publicou um livro. Mas ela se engana muito. Foi aos bairros de que gosto, fotografou a porta da minha casa, mas eu nunca estou nas fotos. Assim fica meio fácil.


FOLHA – Ouvi dizer que você prepara um projeto usando o que os jornalistas escrevem a seu respeito…


CALLE – As entrevistas sempre dão margem a mal-entendidos. Volta e meia encontro erros ou frases fora de contexto. Às vezes, algo que nunca fiz é atribuído como projeto meu… Então, o que me interessa é um dia fazer tudo o que disseram que eu fiz. Agora, em vez de me irritar quando encontro um erro, esfrego as mãos e digo: ‘Ah ha!’.


FOLHA – Então vou pensar em algo bem original…


CALLE – Ok, mas publique o erro sem dizê-lo a ninguém (risos).’


 


 


TELEVISÃO
Cristina Fibe


Início da segunda temporada reconstrói dramas do passado


‘Parece que se andou para trás no primeiro episódio da segunda temporada de ‘Brothers & Sisters’: estamos de volta à mansão dos Walker, onde, como há um ano, será comemorado o aniversário de Kitty (Calista Flockhart), que, como sempre, não tem se relacionado muito bem com a mãe, a constante Sally Field. A intérprete de Nora, a matriarca, concentra o sofrimento no início deste segundo ano, que começa a ser exibido na próxima quarta, no Universal Channel. Sua angústia é não saber se está vivo ou morto o seu filho militar, Justin (Dave Annable), que voltou ao campo de batalha no Afeganistão no fim da primeira temporada e não dá notícias há três semanas. Os dias se passam, e a tensão deste episódio fica dividida entre a mãe, preocupada com a guerra, e a filha, em campanha para que o noivo, republicano como Bush, seja eleito presidente dos Estados Unidos. Kitty se desdobra, e sofre de novo, para não ser ofuscada pelo brilho do futuro marido. Mas, dela, a mídia não quer saber as visões políticas: está mais interessada nos escândalos que a família Walker promove em público e no vestido que a loira irá usar. O dilema: Kitty não sabe se continua a defender o papel de mulher independente e profissional ou se assume o de futura esposa. Para alguém que tem um irmão na guerra, parece um problema um tanto irreal. Para o resto da temporada, outros dramas já se desenham: entre os irmãos do título, Sarah (Rachel Griffiths) sofre com a rejeição do ex-marido; Kevin (Matthew Rhys) perde o namorado pastor para uma missão na Malásia; e o bom-moço Tommy (Balthazar Getty) é maltratado pela mulher, deprimida com a perda de um filho; meio fora de circuito, o insosso tio Saul (Ron Rifkin) volta ao foco enquanto decide o que fazer sobre sua sexualidade. Ninguém duvida de que o casamento de Kitty com o senador (Rob Lowe), que deve acontecer nesta temporada, não será um mar de rosas. Os personagens de ‘Brothers & Sisters’ se alimentam de dramas, mesmo que sejam repetecos. O elenco merecia mais.


BROTHERS & SISTERS – 2ª TEMPORADA


Quando: estréia nesta quarta-feira (24/ 9), às 23h


Onde: no Universal Channel


Classificação indicativa: não recomendada para menores de 14 anos


Avaliação: regular’


 


 


Folha de S. Paulo


Série investiga o universo e seus corpos


‘Exibida pelo The History Channel, a série norte-americana ‘O Universo’ dedica-se a mostrar o que acontece no universo hoje e em seus corpos. Entre depoimentos de especialistas, ‘O Universo’ reúne animações e imagens de pesquisas para se debruçar sobre um capítulo específico do tema. Conversa mais com leigos do que com iniciados no assunto, e não impressiona tanto quanto a recente produção do Discovery ‘Grandes Missões da Nasa’, que revelou imagens até então exclusivas da agência espacial norte-americana. Mas, antes de estrear o segundo ano da série, ainda neste mês, o canal retoma quatro dos que julga os episódios mais interessantes da temporada de estréia, numa maratona hoje. O primeiro programa, ‘Segredos do Sol’, debruça-se sobre o astro, enquanto especialistas afirmam estarmos perto de um período solar intenso, mais grave que o aquecimento global. Depois, ‘Marte -0O Planeta Vermelho’ investiga a viabilidade do planeta oferecer abrigo aos humanos. ‘O Fim da Terra’ aborda os perigos que asteróides, cometas nos apresentam. Por último, ‘Lugares Mortais’ traz buracos negros e outros riscos à exploração humana do universo.


O UNIVERSO


Quando: hoje, a partir das 16h


Onde: no THC


Classificação indicativa: não recomendado para menores de 10 anos’


 


 


LIVRO
Eduardo Simões


Autor ataca passividade chinesa


‘Na onda da literatura ‘made in China’, um romance se destacou por números de vendagem superlativos, um grande prêmio e sua crítica à passividade do povo chinês. Recém-lançado no Brasil, ‘O Totem do Lobo’ vendeu mais de 2 milhões de exemplares na China -o número chega a 10 milhões entre as cópias piratas- e ganhou, no ano passado, a primeira edição da variante asiática do Booker Prize, mais prestigioso prêmio do Reino Unido. No livro, Jiang Rong (pseudônimo de Lu Jiamin, 61) conta a história de Chen Zhen, jovem que, nos anos 60, como o próprio autor, troca Pequim pela vida nômade nas estepes da Mongólia Interior, onde o progresso começa a ameaçar o meio ambiente. Rong propõe uma alegoria em que o espírito livre do Ocidente é representado pelos lobos, em contraponto com a passividade dos chineses, as ovelhas. Leia abaixo trechos da entrevista dada por Rong à Folha, por e-mail.


FOLHA – Que analogias o sr. propõe entre o cenário e enredo de seu livro e a atual China?


JIANG RONG – Os temas do meu livro são liberdade e proteção ambiental. Na China de hoje, os dois maiores problemas são: como aspirar pelo máximo de liberdade econômica e política e como proteger o meio ambiente já seriamente danificado. A razão pela qual ‘O Totem do Lobo’ se tornou um best-seller na China é porque suas histórias tocam os dois problemas.


FOLHA – Em seu romance, o equilíbrio entre lobos e humanos é prejudicado pelo progresso -trata-se de uma metáfora do que está acontecendo em países emergentes como China, Índia e Brasil?


RONG – De fato, o equilíbrio prejudicado entre o homem e a natureza aponta para um sério problema que a maioria dos países em desenvolvimento está enfrentando. Acho que a filosofia ecológica que eu propus em meu livro, isto é, as relações entre a ‘grande vida’ e a ‘pequena vida’, já se tornou a política principal para todo o mundo. No futuro que hoje concebemos, os conflitos entre homem e natureza vão tomar o lugar daqueles entre religiões, raças e civilizações, e estarão na raiz de todos os tipos de conflitos civilizacionais. Nos países em desenvolvimento, os desastres ecológicos que surgem do progresso podem, por sua vez, impedir o desenvolvimento. Fico aterrorizado com o fato de que grandes áreas de florestas no Brasil tenham se transformado em fazendas para a agricultura, assim como as estepes da China se tornaram desertos.


FOLHA – O sr. passou mais de dez anos na Mongólia Interior. Que experiências deste período o sr. considera como as mais relevantes para sua escrita? Por quê?


RONG – Os 11 anos passados na Mongólia Interior me permitiram viver em uma outra cultura. A cultura nômade é completamente diferente da cultura tradicional rural chinesa. Pude aprender algo da essência da cultura ocidental, como a liberdade, a independência, a iniciativa, a aventura etc. São valores incorporados à cultura dos lobos da estepe. Eles são importantes para minha maneira de pensar e minha personalidade e têm profunda influência em minha obra.


FOLHA – Quando se fala de liberdade política e social, o sr. não apenas critica o governo chinês mas também o povo, certo?


RONG – Sim. De fato eu critico mais o povo chinês do que o governo. As pessoas e o governo partilham do mesmo caráter. O caráter nacional chinês, que carece de liberdade e independência, produz gerações de governos contrários à liberdade. O caráter nacional chinês tem sido criticado por muitos dos grandes pensadores e escritores na moderna história do país. O caráter nacional fraco e obediente é o lastro sobre o qual os governos autocráticos foram construídos na história chinesa. É uma das tarefas importantes para um escritor chinês livre criticar e melhorar o caráter nacional de seu povo.


FOLHA – Como é ser um escritor na China nos dias de hoje -o sr. se sente livre para questionar a política, questões sociais etc.? A propósito, por que o sr. usa um pseudônimo em vez de seu próprio nome?


RONG – Na China atual, os escritores não expressam suas idéias acerca de política de uma maneira direta. Em vez disso, eles questionam a política atual indiretamente, criticando a política tradicional e cultura. Entretanto, a China está fazendo um grande progresso na liberdade de expressão e escrita. Meu livro não foi banido e ainda está sendo publicado, embora contenha em si muita crítica aguda. Eu usei um pseudônimo porque fui condenado por crime anti-revolucionário em 1989 e fui preso. Se tivesse usado meu verdadeiro nome no livro, sua publicação não teria sido permitida. Mas o livro se tornou um best-seller logo após sua publicação e não foi banido.


FOLHA – O sr. está otimista quanto à liberdade política na China? As coisas melhoraram ou pioraram ultimamente?


RONG – Sou otimista quanto à liberdade política na China porque, sob o impacto da economia de mercado e economia livre, o povo chinês está diante de uma maior consciência da liberdade. Além disso, com o rápido desenvolvimento da internet na China, o país agora tem a maior população de usuários do mundo, acima de 200 milhões. A liberdade de expressão parcial de que os chineses se beneficiam também terá um impacto sobre as restrições à liberdade de expressão e, por fim, levará à liberdade política.


Há sinais recentes de um bom progresso na China. Por exemplo, no ano passado o Partido Comunista Chinês anunciou que em 2017 será permitido um sufrágio universal tanto para o chefe executivo quanto para a formação de uma legislatura em Hong Kong, de acordo com o sistema de parlamentarismo democrático e multipartidarismo do Ocidente. O partido também tem praticado democracia internamente. Recentemente, teve início uma tentativa de reforma político-democrática na cidade de Shenzhen.


A China está à beira de se tornar um país com liberdade política, ainda que o processo venha a ser um tanto lento. Como escritor livre, não acho que a reforma política deva ser rápida. A reforma política radical só é possível em uma livre economia bem desenvolvida e estável, caso contrário há turbulência. O que não seria bom para o progresso da liberdade política.’


 


 


CINEMA
Folha de S. Paulo


‘Tropa de Elite’ estréia em Nova York


O filme ‘Tropa de Elite’, do diretor José Padilha, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim deste ano, estreou ontem em uma sala de cinema em Manhattan, no ‘cult’ East Village, lançado pelo IFC Films e pela Weinstein Company. Manohla Dargis, crítica de cinema do ‘New York Times’, classificou o filme como ‘feio’ e ‘desagradável’ em seu texto publicado no jornal.’


 


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