Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo

TELEVISÃO
Walter Ceneviva

Pregação religiosa na TV

‘O NATAL DÁ UM bom motivo para reexaminar a liberdade constitucional em face de seu relacionamento com as religiões. A regra do inciso VI do artigo 5º da Constituição é clara ao garantir o ‘livre exercício dos cultos religiosos’, bem como, ‘na forma da lei, a proteção dos seus locais de culto e a suas liturgias’.

A norma sugere, depois das novas técnicas dos meios eletrônicos de comunicação, um esforço para os compatibilizar com a Carta Magna, sob a luz dos seus princípios essenciais. O exercício dos cultos inclui as manifestações propriamente religiosas. O adjetivo ‘religiosos’, quando ligado ao substantivo ‘manifestação’, no singular ou no plural, compõe o pensamento exteriorizado, apenas proibido o anonimato do manifestante.

A liberdade de consciência e de crença, no inciso VI, é a do íntimo de cada ser humano, quando psicológica (a faculdade própria da capacidade e da personalidade de conhecer e controlar a expressão de seu eu). Quando social ou moral, regula a prática dos atos em face de todos os terceiros, tomados individual ou coletivamente. A liberdade religiosa compreende limites relativos ao seu enquadramento na comunidade, sob a mesma ordem jurídica.

A televisão, enquanto ferramenta de manifestações religiosas, tem preponderante condicionamento próprio desse meio eletrônico. Mesmo que transmitida para proclamar ensinamentos de um certo culto, continua comunicação social, com pessoal e material que lhe são inerentes (gravações, edições, ensaios, com custos materiais, técnicos, artísticos, na prestação teatral ou musical, com formatos variáveis, impossíveis de resumir aqui). Exemplo: nas recentes eleições americanas foram constantes as referências a grupos ultraconservadores de pregadores religiosos, fazendo proselitismo político, eventualmente discriminatório, sob capa de enunciarem verdades religiosas. Não foi novidade o estímulo ampliado na TV à intolerância religiosa, com as muitas mortes entre católicos e protestantes na Irlanda a ajudarem a compreender a distorção possível.

Vejamos agora a menção a ‘locais de culto’, enquanto áreas destinadas à gravação de programas, seja qual for o segmento religioso de pregadores, participantes e entrevistados. Há duas linhas de argumentação, a favor e contra. Na primeira visão o programa de televisão gravado, quando o ‘apresentador’ seja um religioso e fale de sua religião, é local de culto. Não assim para a segunda linha: o meio eletrônico cria um programa de televisão, com gravações, cortes e regravações, depois de selecionados os fiéis mais ‘televisivos’.

A segunda parece a mais justa. Não pode se comparar com a transmissão ao vivo. No primeiro caso o auditório eventualmente mostrado não é local de culto, mas de gravação para TV, a ser composta em minutos ou segundos, conforme a disponibilidade nos horários comprados nas emissoras. Tendo o pregador, além da qualidade histriônica, a condição de político militante, leva a questão para os limites da lei eleitoral, cujas restrições não ferem a liberdade de culto. Lembremos que em 1988, quando a Constituição foi votada, ainda não dominavam os meios, as técnicas, a trucagem de hoje. Sem prejuízo para a liberdade, o direito pede atualização.’

 

INTERNET
Julio Wiziack

Governo pode competir com teles na banda larga

‘O governo confundiu as operadoras fixas e móveis que oferecem banda larga ao anunciar ontem aporte de R$ 200 milhões na Telebrás, holding estatal de telecomunicações.

Os recursos seriam destinados à Eletronet, uma empresa praticamente falida que possui uma rede de 16 mil quilômetros de fibras óticas, estendendo-se por 18 Estados.

O aporte foi comunicado à Bolsa de Valores, onde as ações da Telebrás registraram alta de 35,48% (preferenciais) e de 21,62% (ordinárias). Os papéis da Eletrobrás, outro acionista da Eletronet, subiram 2,38% (preferenciais) e os da Eletropaulo, 3,99%, cujo controlador, a americana AES, também é sócia da Eletronet.

A companhia privada foi fundada em 1999 por empresas do setor de energia que implantaram a rede de transmissão de dados por fibra ótica com suas linhas de energia elétrica, o que garante velocidade de conexão muito maior que a da rede convencional das operadoras fixas e móveis.

Atualmente está sob consulta na Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) o uso de uma nova tecnologia (Power Line Communications) que permitirá a oferta de banda larga pelos fios elétricos diretamente às residências. Se aprovada, será mais uma possibilidade para a Eletronet, que hoje tem aval da Anatel para uma tecnologia diferente.

O governo nunca desistiu da idéia de prestar serviços pela Eletronet, mas, para isso, precisa resolver as pendências judiciais com os credores da Eletronet. Entre eles estão a Alcatel-Lucent e a Furukawa, fornecedores de equipamentos que cobram cerca de R$ 300 milhões.

Além disso, a Telebrás e a Eletrobrás terão de fazer um acordo. No contrato da Eletronet há uma cláusula transferindo à Eletrobrás a rede da Eletronet, caso sua falência seja decretada. Essa é uma questão em andamento na Justiça Federal do Rio de Janeiro.

Segundo Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, há no governo divergências sobre a Eletronet. Um grupo pretende criar uma estatal que alugue sua rede às operadoras privadas. Outra frente defende o uso dessa rede para a prestação de serviços de banda larga aos consumidores em geral. ‘Mas para isso seria preciso muito investimento’, diz Tude. ‘Não faz sentido desembolso depois de ter privatizado todo o sistema de telecomunicações.’ Seja qual for o caminho, Tude considera que está claro o interesse do governo nesse mercado.’

 

Diógenes Muniz

Stripper virtual fatura mais do que dançarina de boate

‘Lili começa o expediente às 18h e só deixa o serviço às 2h. Ferramentas de trabalho: PC, conexão com a internet, webcam de 4 Mpixels e o corpo.

Em uma noite, consegue arrecadar até R$ 300 sem sair de casa ou ter relações sexuais. O salário mínimo é de R$ 1.500 mensais, mas pode atingir mais de R$ 2.000, dependendo do ânimo da clientela.

A capixaba de 29 anos trabalha com strip-tease pela internet, ramo promissor do mercado erótico, tanto pelos ganhos quanto pela comodidade.

‘Muito homem está percebendo que é melhor brincar com isso na rede a fazer besteira e pôr o casamento em risco’, diz a stripper virtual.

Assim como as outras entrevistadas, ela cita apenas seu nome de guerra e afirma nunca ter feito programa. ‘Nem pretendo. Se eu não quiser realizar o show, é só desligar o MSN. Com garota de programa é diferente. Acho perigoso.’

O dinheiro que Lili e dezenas de mulheres -e homens e travestis- levantam com apresentações de nudez na web ultrapassa, em média, a quantia conseguida em um mês por strippers de casas noturnas. Evaldo Shiroma, presidente da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual e criador da maior feira do setor no país, a Erotika Fair, aponta que o cachê-base de uma dançarina de boate é de R$ 100. Segundo ele, as strippers fazem, no mínimo, cinco apresentações por semana.

Sem contar os gastos com locomoção e na própria boate, já perderiam na largada para as concorrentes virtuais.

Depósito online

Lais, 26, do Rio Grande do Sul, consegue R$ 2.500 por mês. Seu segredo: ela também atua com o marido no MSN. Ex-professora de magistério da 1ª à 4ª série, decidiu investir na web após ser demitida.

Por 30 minutos de show, cobra R$ 50. Acompanhada, o preço dobra. ‘O internauta escolhe e comanda tudo’, diz. Os shows só começam após os depósitos serem feitos pela internet. Como o risco de calote é iminente, as garotas fazem sites para mostrar ‘credibilidade’. A página de Lili, por exemplo, explica que suas apresentações custam R$ 25 (10 minutos), R$ 35 (15 minutos), R$ 50 (20 minutos) ou R$ 70 (30 minutos). Esta última inclui fantasias de presidiária, empregada doméstica, bombeira, policial etc. ‘É tipo um filme pornô, só que nele o cliente é o astro, não um mero espectador.’

Das 7h às 18h, quando ela está fora do circuito, outra stripper assume o posto, mas transmitindo da zona sul de São Paulo. Bruna, 40, adota um estilo de negócio menos profissional. Segundo ela, mais prazeroso.

‘Faço show há dez meses, mas me mostro na câmera há bem mais tempo. Sempre tive essa coisa de entrar em chat de sexo, adoro. Pensei: ‘Vou começar a ganhar com isso’.’ Salas de bate-papo e comunidades do Orkut são as avenidas de divulgação dessas profissionais.

Bruna diz conseguir entre R$ 600 e R$ 1.000 por mês, mas também trabalha com artesanato, o que permite um ritmo de apresentações menor. Prefere ‘brincar’ com homens que também se mostrem na câmera. Tem cerca de 20 clientes fidelizados. Procuram seus serviços todo mês. Tem marido e um filho de 16 anos. ‘Eles não sabem, ficam fora o dia todo.’

‘É bem mais barato do que uma prostituta ou uma stripper de boate. Se o sujeito quiser, me paga, vê o show, deleta e acabou’, afirma. ‘Geralmente, são homens com mais de 30 anos, que não têm sexo na vida real, mesmo quando são casados.’

A dançarina paulistana Chris Lima, 23, já se apresentou nas boates Enigma (Moema), Café Gauguin (Brooklin) e String Fellows (Itaim Bibi). Por 15 minutos de exibição com outra garota, ganha R$ 250. ‘A procura já caiu bastante em dezembro. Na última semana, só fiz uma apresentação’, conta.

Chris explica que, normalmente, faz três shows semanais. Já trabalhou pela internet e, ainda assim, prefere clientes reais a virtuais. A desconfiança e a concorrência na rede são os principais desafios, explica. Segundo a Sobratt (Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades), o Brasil tem 10 milhões de pessoas que fazem atividades profissionais -formais ou informais- fora do ambiente de trabalho tradicional e com uso de tecnologia da informação e comunicação.’

 

***
Sexo virtual pode ser ‘doentio’, diz psicólogo

‘A crescente monetização do sexo na internet desperta a atenção de psicólogos, que vêem na obsessão pelo virtual uma patologia.

‘A prática se torna doentia quando impede alternativas de relacionamentos reais’, diz o psicólogo Oswaldo Rodrigues Jr., diretor do Instituto Paulista de Sexualidade.

De acordo com Rodrigues Jr., é equivocado classificar esse tipo de estímulo como masturbação.

‘Mesmo que exista automanipulação genital, a condição é diferente, pois existe uma troca entre duas pessoas’, diz.

De acordo com a psicóloga e terapeuta sexual Arlete Gavranic, do Isexp (Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia e Medicina Psicossomática), as transas on-line são usadas por pessoas com ‘pouca liberdade para manifestar suas fantasias com o parceiro ou a parceira’.

Na rede, analisa ela, vivem uma transgressão segura. Podem ‘trair, fazer algo que consideram ilegal ou inadequado, pois de alguma forma se sentem protegidas no anonimato’.

Novos produtos

De olho no crescimento do mercado, empresas estão colocando à venda produtos que buscam tornar o sexo virtual o mais próximo possível da experiência real.

A empresa britânica Novo, por exemplo, desenvolveu a webcam Minoru 3D. Com aparência entre um robozinho e um vibrador, esse aparelho custará cerca de US$ 90. Capta duas imagens e as mistura, de modo a deixar a transmissão tridimensional -e, por isso, mais realista.

‘O produto vai funcionar de forma fantástica para sexo virtual. Pensamos em um formato em que você possa usá-lo também como brinquedo erótico’, diz Martin Illman, executivo de vendas da empresa.

O ponto negativo é que o usuário precisa de óculos especiais para captar as cenas em 3D -o que não chega a ser um acessório sexy. O brinquedo tecnológico não tem previsão para chegar ao Brasil, mas já está à venda no Reino Unido.

No entanto, lojas on-line já oferecem ao consumidor nacional desde vibradores para conectar ao PC por meio de porta USB (R$ 134) até simuladores de genitália feminina que, além de imitar a pele humana, interagem com o usuário por meio de jogos de computador (R$ 396).

Há também o VibraPod, consolo que entra no ritmo do que se está ouvindo no tocador de MP3 (R$ 395).

‘No Brasil, cada usuário desses sites soma, em um mês, 54 minutos navegando em busca de conteúdo erótico. É um tempo que dobrou em três anos, principalmente porque agora há mais vídeos do que antes’, diz José Calazans, analista do Ibope/NetRatings.

De acordo com o especialista, sites de sexo são fundamentais para a web como ‘indicadores de tendências’.

‘Grandes inovações são apresentadas primeiro nesses sites. A própria adoção de webcams e vídeos surgiu primeiro neles, a troca de arquivos em redes P2P, as comunidades, e agora o uso de mapas’, afirma.’

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