Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo

ELEIÇÕES 2006
Editorial

Mais debate

‘O 2º turno provocou um confronto de posições mais democrático, superando os padrões do marketing eleitoral

DIRIGINDO-SE com bom humor aos jornalistas da Folha, depois de encerrada a sabatina de quarta-feira passada, o presidente Lula afirmou sua disposição de ‘encher a paciência de vocês de tanto dar entrevistas’ num eventual segundo mandato. Que não seja apenas mais uma promessa de campanha.

Durante os quatro anos de seu governo, o presidente Lula raramente se dispôs ao confronto direto com jornalistas, dedicando-se antes ao que parecia uma seqüência interminável de comícios eleitorais. Os mais variados eventos e ocasiões habituaram-no ao exercício fácil da retórica sem contestação, cristalizando o célebre refrão segundo o qual ‘nunca, neste país’ registraram-se tantos e tão extraordinários feitos como os contabilizados nos quatro anos de seu governo.

Foi sem dúvida um efeito positivo do segundo turno o de forçar o presidente Lula a abandonar a atitude de isolamento, entre defensiva e messiânica, que vinha adotando durante a disputa sucessória. Como candidato, foi por certo punido pelo eleitorado ao se recusar a participar do único debate programado durante o primeiro turno.

À medida que se aproximam as eleições, a campanha dá mostras de superar os padrões do puro marketing político. Sem dúvida, continuam vagas e evasivas as discussões sobre o que há de substancial a ser feito para acelerar o crescimento econômico, para resolver as carências gritantes do país em áreas como infra-estrutura, educação, saúde e segurança pública.

A discussão dos sucessos e malogros do atual governo, sua comparação com o que se fez e se deixou de fazer no governo Fernando Henrique Cardoso, contribuiu entretanto para trazer a público, se bem que sob a forma desnorteante da saraivada de estatísticas ostentadas pelos postulantes em cada debate, alguma informação concreta sobre as realidades do país.

O pano de fundo de todo o debate continua a ser o de uma deprimente falta de propostas inovadoras, indicando até mesmo uma convergência programática entre os candidatos que, evidentemente, o ardor político da campanha tende a ocultar. Seja como for, o período do monólogo, do auto-elogio, dos gestos vazios de palanque, cedeu lugar a uma campanha mais viva e democrática neste segundo turno.

Mais do que uma simples mudança de qualidade na disputa presidencial, está em jogo o fortalecimento de uma prática que não se resume aos momentos pré-eleitorais. Não apenas na condição de candidato, mas também na de governante, todo líder político numa democracia é periodicamente levado a prestar contas de suas atitudes e responder aos questionamentos da imprensa. Eis um compromisso republicano que, embora óbvio, ainda tem ares de novidade no Brasil; quanto à imprensa, só se pode dizer, para repetir os termos do presidente Lula, que não lhe falta ‘paciência’ para cumprir a sua parte.’

Mari Tortato

Lula vê ‘trica e futrica’ nas acusações e na imprensa

‘Um dia após a divulgação de que seu secretário Gilberto Carvalho ligou para um petista envolvido no caso do dossiê, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desafiou ontem a imprensa e a oposição a apresentarem novas ‘acusações’ contra ele e integrantes de seu governo.

Em Curitiba, ele classificou as revelações de ‘futricas’ que não atrapalharão sua reeleição: ‘Eu não preciso ofender nenhum adversário para ganhar a eleição. Se quiserem me ofender, me ofendam. Se quiserem me acusar, me acusem. Eu vou ter o bom comportamento que um presidente da República deve ter: altivo, sereno e sabedor que o ódio que eles têm por mim não é por mim. Eles sabem que não roubo e não roubei, o ódio deles é [que] pela primeira vez o povo está podendo levantar a cabeça.’

Ele voltou a mencionar o caso em sua passagem por Alvorada e Canoas, região metropolitana de Porto Alegre: ‘Não podemos perder o bom humor. Temos apenas uma semana para ganhar a eleição’. No calçadão do centro de Curitiba, Lula pediu a comparação dos dois projetos presidenciais e disse que era com os avanços que a imprensa deveria se ocupar. ‘A imprensa brasileira poderia dar essa contribuição aos leitores dos jornais. Porque não é possível a gente viver a vida inteira subordinada à trica e à futrica. Há ladrão se anunciando inocente, e há pessoas sendo expostas todo dia’, afirmou.

Ainda segundo ele, ‘a palavra desculpa saiu do dicionário. É só acusação, acusação e acusação’. Apesar de não deixar claro, o presidente reagia às notícias sobre seu filho e sobre o relatório parcial da compra do dossiê contra tucanos entregue à Justiça, que contém a informação de que o articulador da compra Jorge Lorenzetti recebeu ligação de Gilberto Carvalho, secretário particular do presidente, e que voltou a falar com ele num segundo telefonema, no dia em que a PF prendeu os primeiros envolvidos num hotel. A ‘Veja’, por sua vez, traz reportagem sobre a ascensão nos negócios de Fábio Luís Lula da Silva, filho do presidente, após contrato com a Telemar.

Lula pediu votos para o governador licenciado do Paraná, Roberto Requião (PMDB), que não esteve no palanque.

Rio Grande do Sul

Já em seu comício em Alvorada (RS), Lula disse: ‘Se em quatro anos fizemos mais do que eles em oito, em mais quatro vamos fazer 16 ou 20 [anos]. Eles são incompetentes’.

Em Canoas, Lula participou de uma caminhada e pediu votos para o petista Olívio Dutra: ‘Se eu tiver aqui um governador que seja um companheiro, a gente pode ajudar muito mais o Rio Grande do Sul’, disse. Ele brincou com os petistas ao recomendar que não façam campanha ‘com o dedo esticado, porque eles podem morder’.

Em comício em Caxias do Sul, o petista voltou a criticar o candidato tucano, o PSDB e FHC. ‘Os tucanos quase destruíram esse país e nós recuperamos’. Sobre o ex-presidente: ‘Como é que pode um doutor da USP, um professor de ciência política, [que] na teoria conhecia tudo e na prática não conhecia absolutamente nada’.

Sobre privatização no Estado, disse que ‘assim é fácil governar, não tem que pensar, não tem que decidir, só tem que pegar um banco e privatizar, o povo quer um governador [Olívio Dutra] não quer um mascate’. Lula cobrou de Olívio que fazia tempo que ele não levava um ‘vinhozinho da Miolo’ para ele. ‘Eu tomo com a Marisa, quem não gosta?’. Lula esteve ontem em Curitiba, Alvorada e Caxias do Sul.

Colaborou LÉO GERCHMANN , da Agência Folha, em Canoas’



TELEVISÃO
Daniel Castro

Pela 2ª vez, cassetas decepcionam no cinema

‘‘Seus Problemas Acabaram!!!’, a segunda incursão dos humoristas do ‘Casseta & Planeta’ no cinema, poderá ter menos público do que o primeiro filme do grupo, ‘A Taça do Mundo É Nossa’, de 2003, considerado um grande fracasso, com 640 mil espectadores.

Lançado em 1º de setembro, ‘Seus Problemas Acabaram!!!’ tinha sido visto por 542.551 espectadores até o último final de semana, segundo o informativo especializado ‘Filme B’.

Para os padrões do cinema nacional, trata-se de um estrondoso sucesso, mas não para um longa-metragem intensamente divulgado pela maior rede de TV do país, com o mesmo elenco e repertório de um programa televisivo que faz sucesso há 14 anos _o público do filme equivale a menos de um quarto da audiência de uma única edição do ‘Casseta & Planeta’ apenas na Grande SP.

Diferentemente do que fez em 2003, os cassetas não divulgaram desta vez a expectativa de bilheteria. Mas admitiram que fizeram um filme mais próximo do programa de TV, acessível ao seu público habitual.

A Globo não concorda que ‘Seus Problemas Acabaram!!!’ seja um fracasso. Diz que um filme que faz dez vezes a média de público das películas nacionais não pode ser tratado assim. Conta que ‘Seus Problemas Acabaram!!!’ é o quarto filme brasileiro mais visto neste ano, desempenho melhor do que ‘A Taça’ (nono em 2003).

SEM GRAÇAO SBT abortou o projeto de um novo programa de humor, ‘Sem Controle’, baseado em original argentino. A emissora gravou um piloto com os experientes Angela Dip, Ary França e Eduardo Martini. O piloto fez muito sucesso entre funcionários do SBT. Mas Silvio Santos o assistiu e não achou graça.

INTERNACIONALA CNN en Español exibe hoje, às 21h30, uma entrevista com Joana Mocarzel, a menina Clara de ‘Páginas da Vida’, portadora da Síndrome de Down. O canal pago também conversou com Regina Duarte, mãe de Joana na ficção.

SÓ NA FICÇÃO As freiras da novela das oito, ‘Páginas da Vida’, estão cometendo o pecado da vaidade. Elas pintam as unhas.

MUITA SEDEA Record promete ainda tirar muito ator da Globo. No ano que vem, quer ter um banco de elenco (atores com contratos de médio e longo prazos) de 200 profissionais. Hoje, seu banco tem 110 atores.

MUITA FOME A mais nova ofensiva da Record é sobre o elenco de ‘Cristal’, novela do SBT que está nos últimos capítulos.

BRILHANTINACom ‘O Profeta’, que se passa nos anos 50, quando a propaganda se firmava, a Globo quer alavancar o ‘merchandising de época’. A rede está oferecendo ao mercado publicitário ‘oportunidades’ para marcas que já existiam há 50 anos, que podem aparecer na novela na forma de cartazes, jingles e comerciais de rádio e TV da época.’

Laura Mattos

‘Novela da Globo lança vírus ideológico’

‘Depois da Record, agora é a Band que corre atrás da Globo e tenta emplacar como produtora -e exportadora- de novelas. ‘Paixões Proibidas’ estréia no próximo mês, com Felipe Camargo, Graziella Moretto e alguns outros poucos globais.

De época, é co-produzida pela RTP, emissora pública de Portugal, e deverá ser veiculada simultaneamente nos dois países. Por isso, o elenco traz astros da TV portuguesa.

A história é baseada em três romances do escritor português Camilo Castelo Branco (1825-1890), com roteiro de Aimar Labaki e direção de Ignácio Coqueiro, que já atuaram na teledramaturgia da Globo.

Dono da Band, João Carlos Saad fala à Folha sobre o investimento em teledramaturgia e alfineta a Globo com uma tese inusitada: a de que suas novelas disseminam internacionalmente ‘determinados vírus ideológicos’. A Globo não quis comentar. A seguir, Saad explica essa e outras teorias.

FOLHA – Por que fazer novela?

JOÃO CARLOS SAAD – Por acreditar que é um gênero importante na cultura latina. Uma emissora latina tem de ter novela.

FOLHA – Além da dificuldade financeira, um outro motivo levou a Band a abandonar novelas por anos?

SAAD – A parada não foi só na produção de novela, mas em tudo. Não há programação que resista à quantidade de esportes que exibíamos. Transmitíamos todos os eventos esportivos que comprávamos. Arrebentamos com a programação, não havia como acertá-la diante de tantas mudanças de horários dos jogos. Hoje, se tivéssemos regras corretas, detentores de direitos esportivos teriam de exibir o que compram. É injusto e incorreto comprar eventos esportivos e não exibir.

FOLHA – A parceria da Band com a RTP reflete a demanda por novelas locais e não ‘enlatadas’ brasileiras. Por isso a Globo perdeu espaço?

SAAD – A [rede portuguesa] TVI [concorrente da SIC, que exibe novelas da Globo] foi ao primeiro lugar em razão disso.

FOLHA – Em resposta a essa tendência, que parece mundial, a Globo montou um novo modelo de negócio, no qual tentará exportar não só a novela pronta, mas seu formato, para que seja produzida uma nova versão em cada país. O que acha?

SAAD – Já ouvi de países vizinhos problemas com a novela brasileira, seja em razão do excesso de ‘tempero’, seja de determinados vírus ideológicos.

FOLHA – Que vírus ideológico?

SAAD – Vários. Pega o ‘Rei do Gado’ [1996/97]. O que foi glamourizado? O que saiu do noticiário e entrou na dramaturgia? O MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra]. Lembra que o [senador petista Eduardo] Suplicy entrou na novela? Procure ver aonde foi a novela [a mais de 30 países, entre eles Cuba e Argentina]. Vi muito país dizer ‘Não quero’. A TV aberta no mundo é muito conservadora. Só não é aqui [no Brasil], onde você vê muito tema com o qual se incomoda por estar com seu filho na sala. Se é menina, então, fica mais grilado. Mas com menino também.

FOLHA – Já foi publicado é que a novela da Band será ‘apimentada’.

SAAD – Tem que perguntar ao autor e ao diretor. O horário de exibição [22h] até permite.

FOLHA – As novelas da Globo, e agora isso chegou à Record, passaram a abrir um espaço para debater o preconceito em torno dos gays…

SAAD – [interrompendo] Se olhar o tratamento dado ao tema lá fora, verá que o nosso é muito mais [procura a palavra]… liberal. ‘Escrava Isaura’, que foi um baita sucesso mundial, é clássica e conservadora.

FOLHA – Por isso a Bandeirantes optou por uma novela de época?

SAAD – A escolha foi em torno de um grande escritor. E novela de época não tem merchandising, mas é atemporal. É bom para exportação, reexibição.

FOLHA – Por que a Band, assim como a Record, é paulistana mas levou a produção da novela para o Rio?

SAAD – O governo de SP ainda não sabe o que é essa indústria, não a olhou estrategicamente. O do Rio, que sabe a importância dessa indústria para geração de impostos, empregos, marketing, é bem mais ágil. A vantagem vai desde custo de estúdio até liberação de ruas para gravações, menos impostos.

FOLHA – Mudando de assunto, o que achou do debate da Band?

SAAD – Como empresário de TV, fiquei feliz. Como brasileiro, triste e preocupado, porque muita gente não assistiu. Apesar de a audiência ter sido grande para nós, 70% dos brasileiros não viram. Há alienação.

FOLHA – Quem ganhou o debate?

SAAD – A pesquisa dá essa resposta. Para as camadas mais humildes, o formato agressivo do Alckmin não funcionou.

FOLHA – O que achou de o ‘Jornal Nacional’ (Globo) ignorar o debate?

SAAD – Lamentável.

FOLHA – Por último: telejornais da Band fizeram reportagens sobre supostas irregularidades do SBT quando a TV Alphaville, de Silvio Santos, trocou a Bandnews pela Globonews. Isso não é submeter o jornalismo a interesses comerciais?

SAAD – [pausa] Precisa voltar à época [1º semestre], se não embola tudo e confunde. São coisas separadas que podem estar próximas. Acho que não tem a ver, pode ter sido coincidência.

FOLHA – E, para você me expulsar [risos]: vai renovar contrato com o pastor RR Soares [que paga para ocupar o horário nobre da Band]?

SAAD – Pensei: ‘ela arrasta uma asa por ele, não vai deixar de perguntar’ [risos]. Não sei.’



***

Saad defende que o governo utilize BNDES para financiar telenovelas

‘Abaixo, João Carlos Saad defende redução de impostos e financiamento do governo à produção de novelas. (LM)

FOLHA – Novela dá muito dinheiro?

SAAD – Dá dinheiro se fizer sucesso e a emissora estiver estabilizada, porque novela tem um ciclo financeiro longo. Você faz um fluxo negativo de caixa de praticamente seis meses. Contrata, arruma estúdio, grava, começa a exibir. Só aí o comercial começa a vender. E a gente tem um sistema estapafúrdio no qual financia-se tudo, menos produção nacional.

FOLHA – O BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] deveria financiar novelas?

SAAD – Sim, os países todos fazem isso. Aqui, além de não haver financiamento, há um sistema tributário perverso. Vem muita revolução tecnológica por aí, e continuo vendo a gente falando do fulaninho que sai com a fulaninha, uma visão meio ‘Caras’. Após as eleições, temos de refletir para ver o que podemos fazer para essa indústria crescer mais. A Argentina está produzindo mais do que a gente. Tenho visto bons filmes argentinos, e está duro achar um bom nacional, não tá?

FOLHA – Um financiamento do BNDES seria dado às TVs ou a uma produtora independente que forneceria a novela para a emissora?

SAAD – Para ambos. Se ambos estão produzindo conteúdo nacional, por que financio você e não a sua prima? Baseado em que, se as duas são brasileiras e querem fazer a mesma coisa?

FOLHA – Talvez na necessidade de pulverizar a produção nacional…

SAAD – Aí, sobre pulverização, a conversa tem que ser muito mais profunda do que essa. Se não fica só um latidinho de cachorro baixinho. Temos que discutir isso num outro papo.

FOLHA – Um financiamento para novelas não pode favorecer a Globo e complicar a vida das concorrentes?

SAAD – Não, porque a Globo não precisaria, ela já consolidou o ciclo dela de produção.

FOLHA – A Band fez ‘Floribella’ com uma produtora independente e agora opta por produzir a novela internamente. Por que a mudança?

SAAD – Estamos fazendo uma co-produção com os portugueses. No caso de ‘Floribella’, era preciso fazer mudanças no contrato e não houve acordo. Mas a produção independente é o caminho para as TVs. Se fizéssemos ‘Paixões Proibidas’ sozinhos, arcaríamos com 100% dos custos. Com a RTP, as despesas estão compartilhadas.’

Ana Carolina Dani

Atores de novela das sete passeiam pelos pontos turísticos de Paris

‘Parte do elenco, produção e direção da próxima novela das sete da Rede Globo, ‘Pé na Jaca’, deixou Paris ontem, após três semanas filmando na cidade. As cenas gravadas na capital francesa vão abrir os primeiros 15 capítulos da novela de Carlos Lombardi, que estréia no dia 20 de novembro e substitui ‘Cobras e Lagartos’. Entre os personagens principais da trama, os atores Marcos Pasquim, Fernanda Lima, Drica Moraes e Beth Lago participaram das gravações internacionais [.]

‘Paris foi escolhida porque é um dos centros mundiais da moda e a personagem Maria, interpretada por Fernanda Lima, é uma modelo brasileira de carreira internacional’ explica Lombardi.

A maioria das cenas rodadas na capital francesa foram filmadas ao ar livre. Segundo o diretor de núcleo da novela, Ricardo Waddington, a idéia é que, ao ver as imagens, o público possa reconhecer a cidade. Para isso, a produção explorou todos os pontos turísticos, como a avenida Champs-Elysées, a catedral de Notre Dame, a praça do Trocadéro, a torre Eiffel e o Arco do Triunfo.

O dramaturgo Carlos Lombardi também escolheu mostrar Paris sob o ponto de vista de quem não chega de primeira classe. Vivido por Marcos Pasquim, o personagem Lance é o antigo namorado de Maria que vai parar na cidade como clandestino, fugindo de um problema no Brasil.

‘Ao contrário de outras novelas que filmamos fora do Brasil, ‘Pé na Jaca’ tem muitas cenas de ação, característica do Lombardi, o que demanda uma estrutura e um elenco muito maiores’, explica Waddington.

Um dos desafios para a produção foi gravar em meio aos habitantes e turistas. Por conta do grande número de produções na capital francesa, a prefeitura não permite fechar espaços públicos para filmagens e, normalmente, as avenidas podem ficar bloqueadas por no máximo três minutos.

Além do elenco da Globo, participaram das gravações 300 figurantes e 25 atores estrangeiros, entre eles o alemão Peter Ketnath (‘Cinema, Aspirinas e Urubus’).’

Bia Abramo

A propaganda política e seu duplo

‘AGORA, ACABOU o folclore. Ao contrário do primeiro turno, quando as exigüidades de tempo, de domínio da linguagem televisiva e de idéias produzem aberrações hilariantes, a propaganda eleitoral gratuita no segundo turno é um ringue de batalha.

Bem postados, bem vestidos, bem retocados, os candidatos fazem um confronto imagem a imagem, palavra a palavra, cada uma delas milimetricamente ensaiadas, testadas, calculadas.

Por mais positividade que se tente imprimir ao tom dos filmes -e como se tenta!- a impressão que resta do horário político é a de uma luta exaustiva.

O curioso é que se obtém a vitória ou a derrota, a adesão a esta ou àquela proposta e aqui, frise-se, estamos examinando os recursos de linguagem e estilo, por meio de uma operação em que, mesmo com sentimentos edulcorados, maquiados e embalados para o consumo fácil e imediato, a agressividade própria da briga política acaba por se impor.

Uns meses atrás, o programa ‘Casseta e Planeta’ fez uma paródia genial de propagandas ‘oficiais’, de empresas públicas e mesmo de privadas, que se utilizam do recurso da ‘musiquinha’.

Em geral, junta-se um pout-pourri de imagens de uma brasilidade feliz, sorridente, popular, de representação transregional, transclassista (desde que, é claro, os pobres que pareçam tenha todos os dentes bem brancos), transetária a uma ‘musiquinha’ tresandando a ‘Brasil’. É uma das fórmulas mais eficientes de conferir uma pátina de alegria e otimismo à ideia de nação, fazendo o espectador se render aos encantos e às graças dessa abstração chamada ‘povo’.

Pois bem, é esse ‘povo’, feliz e lindo, capaz de tantas manifestações de beleza inconteste, que está sendo disputado, palmo a palmo, consciência a consciência, escolha a escolha.

Daí, o aviso: essa imagem de felicidade, realização e pujança cultural só se realiza se um e apenas um daqueles que se candidatam a chefe da nação se elege, pois caso seja o outro, é o negativo daquilo que é sugerido pela ‘musiquinha’ que teremos como perspectiva.

Se funciona? É claro que sim, mas a questão é: a que custo? Sabemos de um parte desse custo já desde as primeiras eleições diretas pós-regime militar, mas a evolução das técnicas de propaganda política sugerem que o estrago pode ser bem mais permanente e maior.’



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O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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