Se O Liberal acha que realmente é exemplar a atuação do chefe do Ministério Público Federal no Pará, José Augusto Torres Potiguar, devia entrevistá-lo, fazer reportagens sobre sua atuação ou ouvir o que dizem a respeito pessoas abalizadas. Repetir notas hagiográficas na coluna ‘Repórter 70’, com pouca ou nenhuma informação, e carregadas de adjetivos de exaltação, acaba criando um halo de suspeição sobre o procurador da República. Ao invés de contribuir para aperfeiçoar o processo eleitoral, pode comprometer a atuação do MPF.
Não que a imprensa não deva apoiar e destacar a atuação de servidores públicos exemplares. O problema é que o Grupo Liberal tem candidatos na eleição. Também essa posição não é original nem merece condenação em si. Outros órgãos da imprensa também tomam partido, no mundo inteiro. Aqueles que merecem credibilidade e respeito, porém, assumem com clareza uma posição editorial. Dizem, no espaço adequado, que é exatamente o editorial, a quem apóiam e porque o apóiam.
O Liberal exerce sua preferência dentro do noticiário, de forma implícita, às vezes subliminar. Sugere ao leitor que está simplesmente exercendo o jornalismo. Manipula, portanto, quem o lê. Induz a votar a partir da premissa de que os candidatos favorecidos no noticiário, supostamente isento, são os melhores. De que o material do jornal traduz a realidade, captando a opinião pública (quando a cria, ao dar-lhe letra de forma viciada).
Confetes e serpentinas
Nenhum espaço se ajusta melhor a esses propósitos manipuladores do que as colunas sociais ou as colunas em geral, especialmente as não assinadas, como o ‘Repórter 70′. Elas estão a um passo do noticiário e a outro passo do editorial, não sendo exatamente nem uma coisa nem outra, mas ambas, de forma difusa. Parecem estar transmitindo uma informação, mas essa é apenas a cobertura, o glacê. Por baixo, vai a opinião, a sugestão, a indução. Devia ser escrita com a seriedade, a honestidade, o equilíbrio e o discernimento que estão em falta no ’70’.
Talvez por causa desse toma-lá-dá-cá, o judiciário paraense, ao distribuir recentemente (por método pretensamente salomônico) três medalhas para o Grupo Liberal e outras três para o Grupo RBA, escolheu apenas colunistas. Como se em nenhum dos dois veículos houvesse repórteres, vários de boa qualidade, alguns que já produziram matérias importantes exatamente sobre o judiciário, especialmente o combate dado à grilagem de terras, um dos males crônicos do Estado. A honraria parece concebida menos para servir ao poder, enquanto instituição, do que a quem o comanda, objeto de atenções e desvelos da imprensa em geral e dos colunistas em particular. Não olimpicamente.
Daí esse festival de confetes e serpentinas verbais, emblemáticas e numismáticas entre o poder estabelecido e a imprensa afluente. O interesse público pede passagem e vai em frente – e ao largo. Virginal.
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Jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)