O ofício de informar já não é tão simples. Seja para compreender, realizar, ou mesmo comercializar, os rumos que a profissão de comunicador social está tomando causam mais perguntas do que respostas.
Antigas mídias, tradicionais editoras e emissoras de televisão consagradas estão perdendo espaço para ferramentas do mundo virtual. Youtube e demais redes sociais hoje trazem àquelas pessoas passivas, que só assistiam da poltrona, a possibilidade de transmitirem, gravarem, escreverem, opinarem e repercutirem a própria produção.
Os novos comunicadores conquistam audiência com velocidade que causa inveja e crises existenciais a antigas mídias. Uma das razões pode estar em não se prender a burocracias e reuniões para decidir os próximos passos. Seja intuitivo ou aja de maneira passional. Muito da dinâmica das novas plataformas consiste em retirar antigos filtros.
Porém, questionamentos sobre princípios da profissão frente às novas tecnologias, plataformas e hábitos do público, além da interferência comercial na relação emissor e receptor, podem estar sendo feitos de maneira equivocada.
Não há questões de patrocinadores, ou mesmo éticas a se tratar. Matérias sobre vazamento de fotos íntimas de celebridades, ou execuções de civis pelo tráfico, ou por terroristas, são vistas em sua totalidade por um público que não basta estar ciente do fato, mas que deseja ver como e com detalhes o que aconteceu.
A pessoa que está com um jornal impresso na mão, lendo algo sobre ontem, ao mesmo tempo em que assiste a sua TV, na espera do horário do seu programa que passará, ou não, o que ele já viu e assistiu várias vezes, e quando quis, em seu smartphone, perde ainda mais por, às vezes, subestimar a nova realidade.
Público desiludido
Enquanto a televisão apresenta programas sobre a perfeição da Olimpíada na cidade maravilhosa, a Internet mostra falhas e reflexos da corrupção que assustam e ameaçam os jogos realizados em uma cidade com saúde precária e segurança questionável. Enquanto na telinha tentam atrair o público sobre a abertura dos jogos, sem mencionar o que foi a abertura pífia da Copa do Mundo, as redes sociais repercutem a tocha olímpica sendo apagada em diversas cidades, como em Angra dos Reis, em sinal de protesto de uma população cada vez mais ciente e insatisfeita com a política brasileira.
O profissional comunicador de hoje é sensível às demandas do mundo pós-moderno. O viés para a recuperação de antigas plataformas passa por reconhecer que o modelo atual saturou. Passa na manutenção da ética e princípios pertinentes à responsabilidade, mas somados à flexibilidade de não só emitir, mas também receber, de ser canal e palco para aqueles que só ficavam na plateia.
Não se trata apenas de antigas mídias se reinventarem. Não basta criar novos quadros, formatos ou programas. É preciso ser franco com o leitor, ouvinte e telespectador dos dias de hoje. O politicamente correto não convence. A informação embalada em belos embrulhos comerciais apenas foge da realidade e afugenta uma massa que já não é mais fiel.
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Leonardo Rodrigues é jornalista e chargista.