Em primeiro lugar, é preciso declarar que a maioria das pessoas sensatas, com visão progressista e democrática, e os amantes do esporte e do futebol estão dando seu apoio ao jornalista Jorge Kajuru. Excrescências autoritárias, parece-nos, ainda deverão custar empregos onde for necessário manter o sistema vigente.
Quando Kajuru apareceu num programa de TV em rede nacional, comentando as rodadas dos campeonatos de futebol aos domingos, estabeleceu-se ali uma diferenciação daquilo que se convencionou ver nesses horários, antes habitados por analistas esportivos chatos comandando programas enfadonhos. Ao lado de Juca Kfouri, outro bom comentarista esportivo, apresentavam o Bola na Rede, da Rede TV!, que se tornou ponto obrigatório para os que queriam, pelo menos, se divertir um pouco naquele horário. Já havia algo semelhante no Cartão Verde, da TV cultura, mas que foi melhorado nesse programa. Coincidência ou não, dos dois programas o jornalista Juca Kfouri participava.
Jorge Kajuru, dotado de uma verborragia peculiar, procurava incendiar, num estilo próprio, os debates que se apresentavam. Acredito que até para jogo de palitinho, se estivessem nebulosas suas regras, ele estabeleceria uma análise extremamente ácida e crítica. Por sua vez, o mediador do programa, Juca Kfouri, portador de uma fluidez verbal mais razoável, sem perder jamais o mote da crítica, dava contornos mais palatáveis ao assunto em questão e substanciava o debate.
E é exatamente isso que diferencia Jorge Kajuru dos colegas que se inserem nesse gênero jornalístico: suas críticas não são substanciosas, carecendo de um conteúdo que fundamente suas análises. Ele confunde o papel de articulista com o de repórter, o que, ao meu ver, desculpando-me ao analisar uma seara que não me pertence, a da imprensa, são coisas profundamente distintas.
Ao proferir a frase ‘Eu falo o que penso’, não conseguimos mais distinguir o bom jornalista de um simples fofoqueiro, pois um jornalista deve ter conteúdo naquilo que pensa quando fala. Estabelecer para si a diferença entre uma notícia de uma aleivosia. Ou seja, procurar informar o seu Joaquim da padaria, o seu Hiroshi da quitanda, o seu Fritz do açougue, ou a dona Maria, dona-de-casa, mas sem a fulanização dessas pessoas.
Com margem a dúvidas
Não deve jamais se intimidar em melindrar alguém com suas ‘verdades’, mas prestaria um relevante papel à sociedade se seus argumentos viessem documentados, o que implicaria punição social sem retorno a quem as supostas acusações seriam proferidas. A velha frase, que alguns jornalistas não se cansam de dizer, de que ‘contra fatos não há argumentos’, é uma falácia que depõe contra a profissão, uma vez que se sabe muito bem o que uma ‘boa’ edição pode fazer com um ‘fato’.
Um profissional, seja de que área for, quando ocupa um espaço para divulgar seu pensamento nos dias atuais, posto que as pessoas ‘comuns’ podem acessar as informações (nem sempre de jornalistas) onde bem entenderem, deve trazer uma boa munição documental para enfatizar aquilo que apresenta. Caso contrário, é uma energia gasta à toa, e aquelas informações são ou esquecidas ou relegadas ao plano do risível na próxima edição dos telejornais.
Certa vez ele ofendeu um esportista (?) no ar. Tudo bem que a grande maioria das pessoas queria também dar uns sopapos naquele arremedo de pugilista. Mas ele não é o paladino da justiça para aplicar seus golpes verbais em quem bem entender. Isso não é falar o que pensa, mas descontrole do que fala daquilo que pensa. Isso não é bom jornalismo.
As acusações que ele profere em público são fortes. Prova disso é a quantidade de processos contra ele. E sabemos que a imensa parte se justifica. Se cada comentário ou análise que faz viesse com uma bagagem de documentos que, apresentados ao Ministério Público, transformasse as denúncias em punição severa, seu papel social seria inegavelmente prestativo.
Mas levantar o que quiser num espaço de concessão dos governos, sem substância eficaz que não deixe margem a dúvidas, que não permita aos governantes (donos do espaço, repita-se!) uma possibilidade de retorquir, que não se atenha apenas às imagens, não passa de fulanização. Prefiro então ouvir o seu Joaquim da padaria, por ser mais autêntico.
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Biólogo, Florianópolis