Enquanto os labirintos do financiamento da política ficam por desbravar, a edição de terça-feira (11/11) da Folha de S.Paulo não hesitou em desperdiçar o importante espaço da página A4, ao lado do “Painel”, com uma reportagem sobre cartões corporativos de crédito, um factoide (“Gastos secretos com cartões do Planalto batem recorde. Despesas nesta rubrica alcançam R$ 6,5 mi em 2014, 9,2% a mais que em 2013”).
É uma intrigalhada e não se sustenta nos termos do próprio texto, porque: 1) a soma é irrisória, não para um indivíduo ou família, mas para o país; 2) os gastos totais do governo federal com cartões estão caindo ano a ano; 3) o portal Contas Abertas explicou à reportagem do jornal que “certos dados são secretos muito mais para não expor hábitos de presidentes e ministros”, algo ao alcance do entendimento de qualquer cérebro de mediana capacidade.
Sem sentido
Em 2008, uma CPI do Senado, de maioria governista, deixou de lado assunto mais grave, um dossiê sobre gastos do casal Fernando Henrique Cardoso e Ruth Cardoso que teria sido montado na Casa Civil sob a chefia de Dilma Rousseff, e isentou o então presidente Lula e ministros dele das acusações de terem feito gastos irregulares. Matilde Ribeiro havia pedido demissão da Secretaria de Promoção de Políticas da Igualdade Racial, tendo sido constatado que fizera despesas alheias a suas funções, e Orlando Silva devolvera R$ 30 mil para continuar no Ministério do Esporte.
A matéria atual, que me desculpem o autor e os editores, sugere duas coisas: escassez de pautas mais robustas e certa fascinação pela numerologia muitas vezes desprovida de sentido. E ainda, mais uma vez me desculpem, alguma dose de timidez na busca de horizontes mais amplos, temas mais relevantes e gasto mais intenso de “sola de sapato”.