Não fossem os fins de semana, feriadões, “pontes”, pontos facultativos, engarrafamentos-gigante, apagões e atrasos benevolentes, nossos vendavais políticos produziriam tremendos confrontos e estragos incalculáveis.
No sistema vigente, elaborado com esmero por todas as partes, as turbulências desanuviam naturalmente, não persistem minimizadas em sacolejos.
Por quê? Porque o poder encarregado de exigir esclarecimentos – a imprensa – está invariavelmente de folga. No modo “pausa”.
O Caso Pasadena foi novamente levado às mais altas esferas da República. E, desta vez, com as estarrecedoras declarações do ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, ao Estado de S.Paulo (domingo, 20/4) colocando em xeque a presidente da República: “Dilma Rousseff não pode fugir à responsabilidade” pela decisão de comprar a refinaria no Texas.
Um desafio deste porte e com esta petulância não pode ficar sem resposta. Ficou. Mais do que agressivo, claramente desrespeitoso, passou em brancas nuvens. Se fossem adversários políticos poder-se-ia entender, mas não justificar a quebra de disciplina. Mas Dilma e Gabrielli são companheiros de partido, ela ocupando a chefia do Estado e candidata à reeleição, ele preparando-se para ser candidato ao governo da Bahia. A uma presidente da República não se faz impunemente repto tão contundente.
Jornalismo morno
Além da omissão dos agentes jurídicos da Presidência (Procuradoria Geral da República e Advocacia Geral da União), o que chama a atenção é a absoluta passividade dos meios de comunicação, incapazes de perceber a gravidade da provocação. Funcionando em ponto-morto nos quatro dias de feriado (no Rio são seis), a grande imprensa só conseguiu reagir burocraticamente: divulgou uma nota canhestra de um dos candidatos da oposição (Aécio Neves) lembrando que o nível de hostilidade reforçava a necessidade convocar uma CPI específica para a Petrobras.
A um candidato em desvantagem permite-se qualquer tipo de cobrança. Mas de uma instância encarregada de arbitrar pendências exige-se uma reação mais ágil, rigorosa. Não é o âmbito de uma CPI que definirá a qualidade de suas investigações. À grande imprensa deve interessar apenas a velocidade e eficácia das apurações nas malfeitorias eventualmente ocorridas na maior empresa brasileira.
A periodicidade obriga jornais e revistas a se manterem em estado de alerta e vigília permanente, sem intervalos frouxos destinados a comemorar efemérides ou tradições religiosas. Se não dispõem de recursos para garantir agilidade ao longo da semana, que desistam de ser diários. Se não contam com um quadro de profissionais suficiente para se antecipar aos fatos, que abdiquem da pretensão de ser indispensáveis.
A população está intranquila, quer entender, quer providências, mas a grande imprensa só lhe oferece um sucedâneo de jornalismo – corrido, morno, tipo ersatz ou placebo – apropriado para acompanhar a peixada da Semana Santa. Depois do ágape, vira geleia. Altamente tóxica.
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