Os jornais de fim de semana vêm cada vez mais cheios de cadernos especializados em serviços, uma forma dissimulada de apresentar os calhamaços de anúncios que fazem a alegria dos gerentes comerciais.
Apesar de o noticiário econômico trazer invariavelmente informações alarmantes sobre risco de inflação, crise mundial e impasse nas negociações sobre o comércio global, a verdade que o leitor observa é a de uma economia aquecida e em crescimento acelerado.
Esse e outros sinais indicam que o Brasil cresce, mas não demonstram necessariamente que estamos nos desenvolvendo.
Observe-se também a revista Grandes Reportagens, do Estado de S.Paulo, distribuída domingo (3/8) junto com o jornal. São 120 páginas de excelentes relatos sobre as megametrópoles do mundo, com destaque para a gigantesca cidade que se formou com a aproximação entre São Paulo e Campinas.
Trata-se de um trabalho para ler e guardar, mas também é um excelente ponto de partida para uma reflexão sobre o país que estamos construindo.
Insegura e poluída
A megametrópole nascida com a expansão da capital paulista também se estende em direção ao Rio de Janeiro, e deve acabar criando uma imensa mancha urbana cujos problemas apenas podemos adivinhar.
O surgimento de grandes concentrações urbanas, incapazes de oferecer qualidade de vida à maioria de seus habitantes, é um fenômeno previsto há cinqüenta anos. Seu retrato está à vista na publicação do Estadão.
Nenhuma das autoridades que se sucederam no governo nas últimas décadas foi capaz de produzir um projeto de sustentabilidade para assegurar um mínimo de organização a esse crescimento. A megametrópole confusa, insegura e poluída é resultado dessa imprevidência.
Olhar para frente
Estamos em plena campanha eleitoral. Os desafios colocados na revista especial do Estado de S.Paulo deveriam compor a pauta a ser levada diariamente aos candidatos em todas as grandes cidades brasileiras, porque o fenômeno que acontece na capital paulista se repete por todo o país, uma vez que nosso modelo econômico induz ao adensamento das populações urbanas. Com todos os problemas ambientais e sociais que se pode observar.
O agravamento dos problemas urbanos foi relatado diariamente pelos nossos jornais nos últimos anos, mas nada impediu que acabasse acontecendo o que se vê: muitas de nossas cidades estão à beira do colapso.
A imprensa deve servir também para fazer pensar no futuro, e não apenas para fotografar o que já aconteceu.