Enquanto os jornais americanos – e os de grande parte do mundo – enfrentam uma longa crise financeira que vem abalando sua estrutura tradicional, um grande nome do jornalismo dos EUA e um casal de empresários californianos estão dispostos a investir pesado para estabelecer um novo modelo de jornalismo.
O trio irá fundar o grupo Pro Publica, previsto para começar as operações no primeiro semestre de 2008. Paul E. Steiger, por 16 anos principal editor do Wall Street Journal, irá comandar o projeto. Herbert e Marion Sandler, ex-executivos-chefes do Golden West Financial, um dos maiores fundos de poupança do país, comprometeram-se a injetar US$ 10 milhões por ano na iniciativa.
Mas o que é o Pro Publica? Basicamente, trata-se de um grupo – sem fins lucrativos – de jornalistas investigativos que irá produzir matérias e oferecê-las a veículos jornalísticos. A idéia é conduzir projetos longos e aprofundados, sobre delitos e má-administração no governo, empresas e organizações americanas. Vale dizer que o casal Sandler costuma fazer doações ao Partido Democrata e é conhecidamente crítico ao presidente George W. Bush.
Estrutura ambiciosa
O Pro Publica pretende montar uma redação em Nova York com 24 jornalistas – e pagar salários equivalentes aos dos grandes jornais. A equipe será formada por repórteres e editores contratados de grandes publicações e jovens talentos com pouca experiência prática. Entre os membros do conselho estão Henry Louis Gates Jr., especialista em estudos africanos e afro-americanos de Harvard; Alberto Ibarguen, ex-publisher do Miami Herald e atualmente executivo-chefe da Fundação John S. and James L. Knight; James Leach, ex-deputado de Iowa que hoje dirige o Instituto de Políticas de Harvard; e Rebecca Rimel, presidente e executiva-chefe do Pew Charitable Trusts.
Não existe nada exatamente igual ao projeto, e por esta razão ele será uma espécie de experimento na base do erro e acerto. O que há de mais parecido no EUA são o Center for Investigative Reporting, em São Francisco, e o Pulitzer Center on Crisis Reporting, em Washington. Os dois grupos dão apoio a trabalhos aprofundados e têm obtido considerável sucesso ao conseguir espaço na mídia tradicional. Mas seus orçamentos são um pingo do prometido ao Pro Publica, e eles não empregam a maior parte dos jornalistas que participam de seus projetos.
Relação delicada
Ainda que jornais publiquem rotineiramente artigos de agências, a grande maioria deles hesita em dar espaço ao trabalho de outras organizações – o que pode ser encarado com um desafio para o Pro Publica. Por outro lado, analistas de mídia afirmam que esta resistência tende a afrouxar à medida que a crise financeira os têm obrigado a cortar cargos e apelar para o trabalho de freelancers.
Neste contexto, o grupo conta com a vantagem de ter membros experientes. ‘Steiger tem a credibilidade e o bom senso necessários para fazer isso dar certo. Se eles fizerem um bom trabalho, conseguirão espaço’, sentencia Stephen Shepard, reitor da Escola de Jornalismo da City University of New York e ex-editor da Business Week.
Steiger diz que a relação com os jornais e revistas será delicada, e irá exigir flexibilidade para que as duas partes encontrem um tom confortável. Na maior parte dos casos, afirma, o Pro Publica irá entrar em contato com as publicações enquanto o projeto ainda estiver em produção, para que o interesse do veículo possa ser medido. Caso não haja acordo, será procurada outra companhia ou, em último caso, o material será publicado no sítio do grupo. Bill Keller, editor-executivo do New York Times, diz que o jornalão dá preferência ao trabalho feito por sua equipe, mas não descarta usar conteúdo de uma fonte externa, ‘desde que haja confiança em sua qualidade’. Informações de Richard Pérez-Pena [The New York Times, 15/10/07].